A Hutukara Associação Yanomami (HAY) enviou na tarde desta quarta-feira (12) o terceiro ofício à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército - 1ª BIS solicitando apoio logístico e a instalação de um posto emergencial na Comunidade Palimiu, no estado de Roraima, para a manutenção da segurança na região. Os dois anteriores não surtiram qualquer efeito, a julgar pelos episódios de violência contra os indígenas ocorridos nesta semana.
Na tarde da última terça-feira (11), um novo ataque armado - o segundo em três dias - aconteceu na comunidade durante uma visita técnica da Polícia Federal.
Por volta das 15h, enquanto os agentes conversavam com os indígenas, garimpeiros armados invadiram o território e começaram um tiroteio. No vídeo abaixo, gravado pelos próprios indígenas, é possível ouvir a rajada de tiro dos garimpeiros.
A comunidade vem sendo alvo de invasão dos garimpeiros há pelo menos três semanas, quando os indígenas interceptaram uma carga de quase mil litros de combustível.
O primeiro ataque foi feito por 8 garimpeiros armados e não houve feridos. O segundo, mais grave, aconteceu na última segunda-feira (10), quando 7 barcos de garimpeiros chegaram na comunidade atirando. Mulheres e crianças que estavam próximas à beira do Rio Uraricoera, correm desesperadas para dentro da comunidade fugindo dos disparos.
No documento assinado por Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, e encaminhado ao Exército, os indígenas pedem que as autoridades garantam a segurança e coloquem em prática uma logística permanente para monitorar a situação no território.
Veja abaixo o texto na íntegra do documento.
"Em vista dos recentes acontecimentos envolvendo ataques armados de garimpeiros contra indígenas da comunidade de Palimiu, no rio Uraricoera, e contra agentes da Polícia Federal que atuavam na região;
Considerando o aumento de episódio dessa natureza em quantidade e intensidade neste ano na Terra Indígena Yanomami, e no rio Uraricoera em particular;
Considerando, ainda, que a ausência das forças de segurança em caráter permanente no rio Uraricoera deixa as comunidades vulneráveis a novos ataques e retaliações, arriscando uma escalada que tome caráter de verdadeiro genocídio;
Solicitamos a esta 1ª Brigada da Infantaria da Selva (1ª BIS) do Exército Brasileiro urgentemente:
(i) O fornecimento de apoio logístico para ações dos órgãos públicos para manutenção da segurança no local,
(ii) A instalação de um posto avançado emergencial na comunidade de Palimiu, com o objetivo manter a segurança no local e no rio Uraricoera".
Comunidade Yanomami também solicita segurança para os isolados Moxihatëtëa
A Hutukara solicita segurança não só para a comunidade Palimiu, mas, também, para os isolados Moxihatëtëa. Segundo a organização, uma base de garimpo ilegal está localizada a 15km da comunidade e coloca em risco os indígenas que negam contato com alguém pessoa externa.
Não se sabe quantas indígenas da etnia foram mortes pelo garimpo ou por doenças como a covid e a malária.
O pedido de segurança, segundo a associação é total, já que indígenas de todo o território Yanomami estão vulneráveis aos ataques dos garimpeiros.
A expectativa dos indígenas é que o Exército atenda a solicitação de segurança, já que mulheres e crianças estão na rota de tiro dos garimpeiros.
MPF pede à União que desloque força militar para segurança da comunidade de Palimiu
O Ministério Público Federal (MPF) ingressou na Justiça na tarde de hoje (12) com pedido de liminar para que a União destaque, imediatamente, tropa policial e/ou militar para permanência ininterrupta, vinte e quatro horas por dia, na comunidade indígena Palimiu, na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima. O objetivo é zelar pela segurança da população local e defender possíveis novos ataques por parte de garimpeiros.
O pedido foi feito dentro da Ação Civil Pública (ACP) ajuizada no ano passado pelo MPF, que pede a total desintrusão de garimpeiros na TIY. A ação já está em fase de execução na Justiça Federal, e os autos estão sob sigilo.
Segundo a liminar, as forças militares devem permanecer na comunidade até que seja implementado o plano emergencial determinado dentro da ACP e até que a União demonstre, no processo, a extrusão de todos os garimpos situados num raio de 100 km da comunidade.
O MPF requer ainda que a efetiva implementação da força de segurança seja realizada no prazo máximo de 24 horas. Deve ser determinado também que o Ibama e Funai atuem conjuntamente com as forças militares da União no combate a ilícitos ambientais, no contato e proteção às comunidades indígenas e na extrusão de garimpeiros ilegais, no âmbito de suas atribuições.
Por fim, o Ministério Público pediu a fixação de multa diária para o caso de descumprimento do prazo de execução da medida ou para o caso de interrupção da permanência da tropa.
Fonte: Brasil de Fato