Desigualdade e baixo crescimento econômico colocam Brasil e países vizinhos em 'armadilha' para depois da pandemia, aponta relatório da ONU

Por Rogerio Magno em 22/06/2021 às 14:33:33
Documento que analisa níveis de desenvolvimento humano nos países da América Latina e do Caribe alerta para o peso da pandemia em retrocessos na região. Morro da Previdência, primeira favela do Brasil, e o Cristo Redentor ao fundo

Marcos Serra Lima/G1

A desigualdade e o baixo crescimento econômico colocaram o Brasil e outros países da América Latina e do Caribe em uma "armadilha do desenvolvimento", segundo um relatório divulgado nesta terça-feira (22) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

O documento, que analisa os níveis regionais de desenvolvimento humano, acende um alerta para o papel que a pandemia da Covid-19 pode tomar em retrocessos na região.

Segundo o programa da ONU, para sair desta "armadilha", é preciso investir em melhores políticas sociais, aumentar os esforços para reduzir a concentração de renda e de poder e combater a violência.

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Desigualdade de renda

O "Regional Human Development Report 2021" aponta que as crises – sanitária, econômica e social – da pandemia atingiram mais fortemente uma população que já era excluída.

"Embora a redução generalizada da desigualdade de renda no início de 2000 deva ser comemorada, essa tendência estagnou na década de 2010", descrevem os pesquisadores.

O estudo destaca esforços de sindicatos na Argentina e Uruguai, e o aumento do salário mínimo no Brasil como propulsores regionais, mas que "apesar do progresso" a região é a segunda mais desigual do mundo – atrás apenas do continente africano (veja a evolução no gráfico abaixo).

Gênero, trabalho e estudo

Além da renda familiar, o levantamento destaca outras formas de desigualdade ainda presentes na região – e que prejudicam o desenvolvimento da região.

A estrutura machista, que dificulta o acesso de mulheres ao mercado de trabalho – ou que exigem uma dupla jornada da trabalhadora, também em casa – é apontada como uma das principais dificuldades da região.

Curandeiras usam máscaras em estande de venda de ervas medicinais em mercado de rua em La Paz, na Bolívia, em foto de 26 de janeiro

AP Photo/Juan Karita

A discriminação contra a população LGBT+ também faz com que muitos abandonem seus estudos precocemente isso quando não se tornam vítimas de violência. Minorias étnicas também são constantemente excluídas e têm acesso dificultado a serviços básicos como saúde e educação.

"Essas desigualdades completam o quadro da desigualdade na região", diz o relatório. "Elas contribuem para a desigualdade de renda, baixa produtividade e baixo crescimento econômico."

"Sociedades desiguais desperdiçam o talento de uma porção relevante da população. Se exclui uma parcela do capital humano para o mercado de trabalho, se condenam alguns grupos a uma menor acumulação de capital", escrevem os pesquisadores.

Concentração de renda

Entre os países latino-americanos, Chile, México e Brasil têm a maior concentração de renda: os 10% mais ricos de cada país são responsáveis por cerca de 57% da renda nacional.

A concentração de renda nesses países "é persistentemente alta" e tem aumentado ao longo dos anos, registra o documento da ONU.

Por outro lado, países como Uruguai, Argentina e Equador mostraram os níveis mais baixos de concentração de renda na região entre os anos 2000 e 2019 (embora ainda se mantenham altos em termos absolutos).

Desempenho econômico

Ao avaliar o desempenho econômico dos países da América Latina e Caribe, o relatório aponta para a alta volatilidade e uma "performance medíocre".

"A instabilidade se mantém mesmo com projeções que usam médias de sete anos para evitar flutuações", diz a pesquisa. "O crescimento médio dos países costuma oscilar entre 0% e 3% ao ano."

O Pnud também afirma que o "fator total de produtividade" (TFP, da sigla em inglês) em países da região é próximo do zero – e em alguns casos até negativo –, o que afeta o crescimento a longo prazo.

Fonte: G1

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