Dois meses de greve geral na Colômbia: veja o que mudou

Por Rogerio Magno em 28/06/2021 às 08:53:21

“A paralisação evidenciou a mão repressiva do Estado na zona urbana, porque isso que estamos vendo - assassinatos, violência sexual, desaparecidos - acontece há 60 anos de conflito na zona rural”, conta o jornalista, natural de Cali, John Lastra.

É consenso entre os analistas de que a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) serviu para aumentar a pressão internacional sobre o governo Duque, mas não conteve a repressão.

“Por um lado gerou uma pressão internacional, mas por outro vemos uma simulação narrativa acompanhada de persistência de práticas de terror contra a população”, afirma o presidente do Indepaz.


"Estamos contra um governo instransigente que quer que choremos somente com um olho": 81 pessoas tiveram lesões oculares durante a paralisação na Colômbia / Michele de Mello / Brasil de Fato

Conquistas

Ainda que existam divergências sobre como a mobilização deve seguir, os analistas coincidem que a paralisação foi vitoriosa. Há duas semanas, as centrais sindicais romperam com o Comitê Nacional de Paralisação, enquanto outros setores passaram a convocar assembleias populares que decidiram pela manutenção de convocatórias nacionais todas as quartas-feiras.

“O Comitê Nacional de Paralisação é muito importante pelas convocatórias, mas não suficientemente representativo. Demonstrou ao governo que não tinha como controlar as ruas e isso motivou que o governo dilatara a negociação, porque não queria demonstrar conquistas do comitê”, afirma o presidente do Indepaz.

O debate sobre a mesa está relacionado à capacidade de manter as atividades de paralisação com participação massiva e conquistar as próximas demandas, relacionadas a uma verdadeira reforma policial, ao direito à manifestação pacífica.

“A conquista mais importante é o reconhecimento do poder das ruas, da democracia dos debaixo, de novas formas organizativas. Não somente as organizações de primeira linha, mas é a barricada convertida numa organização da comunidade. É renovação extraordinária da democracia direta”, analisa González.

“Para reconstruir a democracia deste país serão necessários muitos anos mais. O triunfo principal é que as pessoas perceberam que as ruas são um caminho para buscar um novo futuro e quando estamos unidos podemos conquistar muitas coisas”, defende Cajamarca.


Os manifestantes organizam cozinhas populares para garantir alimento a todos que participam das atividades da greve geral / Michele de Mello / Brasil de Fato

Cenário eleitoral

As divisões da esquerda e o saldo político da greve geral também passam pelo debate eleitoral. Assim como o Brasil, a Colômbia terá eleições presidenciais e parlamentares em 2022.

Pela esquerda, o candidato favorito é Gustavo Petro (Colômbia Humana), ex-prefeito de Bogotá e ex-candidato à presidência em 2018. Petro busca formar um “pacto histórico” para eleger uma plataforma unitária de congressistas.

“Por que de nada serve estar na presidência com uma maioria opositora no Congresso. Este 'pacto histórico", como batizaram, tem um contrapeso na estratégia política dos setores conservadores”, afirma Lastra.

A direita tradicional busca desvincular-se do partido governante Centro Democrático e do uribismo – corrente política do atual presidente e de Alvaro Uribe Vélez.

Para isso, tentam posicionar uma terceira via com Sérgio Fajardo, quem também foi candidato à presidência nas últimas eleições pelo partido Verde. A outra opção é Alejandro Gaviria, reitor da Universidade dos Andes e ministro de saúde na gestão de Juan Manuel Santos (2014 – 2018).

“O mais provável é que ele seja candidato por alguma organização cívica, algo similar ao Pachakutik no Equador, que saiu como candidato independente fazendo abaixo assinado para defender sua candidatura, e no segundo turno termina apoiando Lasso, através do chamado ao voto nulo”, analisa John Lastra.

Apesar do futuro incerto, o consenso é de que a paralisação deve continuar.” Os protestos seguirão no próximo período, porque os problemas são graves e as respostas são basicamente repressivas”, conclui Camilo González.

Fonte: Brasil de Fato

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