G1
Conflito entre antigas repúblicas da União Soviética preocupam a Rússia, que tenta acabar com disputas políticas no Cáucaso. Bandeiras de Azerbaijão e Armênia, lado a lado, durante reunião entre representantes dos dois países em Genebra, na Suíça, em outubro de 2017 Denis Balibouse/Arquivo/ReutersConfrontos entre militares do Azerbaijão e da Armênia, na região do Cáucaso, se estenderam por esta segunda-feira (13) e deixaram ao menos quatro pessoas mortas do lado azeri. Os dois países trocam acusações sobre quem iniciou o conflito, informa a agência France Presse.Os dois países vivem tensões por disputas étnicas e territoriais desde o fim da União Soviética, em 1991. A crise, inclusive, gerou um mal estar envolvendo municípios brasileiros no ano passado (leia mais no fim da reportagem).Três soldados azeris foram mortos no domingo e um quarto nesta segunda-feira na região de Tavuch, na fronteira entre as duas antigas repúblicas soviéticas, de acordo com o ministério da Defesa do Azerbaijão. Em retaliação, o país anunciou ataque que destruiu um posto militar avançado armênio.Do outro lado, o ministério da Defesa da Armênia afirmou que o Azerbaijão retomou na manhã desta segunda-feira os disparos de morteiros contra posições armênias, após os primeiros confrontos da artilharia no dia e na noite anterior. Ele não mencionou vítimas.A Rússia, principal potência da região, considerou "inaceitável qualquer nova escalada que ameace a segurança regional" no Cáucaso e pediu aos beligerantes "contenção", segundo o Ministério das Relações Exteriores russo.Uma reunião da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, um bloco liderado pela Rússia e ao qual a Armênia faz parte, deve discutir nesta segunda a retomada da violência entre os dois países em conflito há décadas.Trocas de acusaçõesChefes de governos dos dois países trocaram acusações sobre quem teria iniciado as hostilidades na região. No domingo, a presidência do Azerbaijão acusou a Armênia de querer envolver no conflito a aliança político-militar liderada pelos russos."As autoridades políticas e militares da Armênia têm total responsabilidade por essas provocações", disse o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev.O primeiro-ministro armênio, Nikol Pachinian, declarou, por sua vez, que "as provocações não ficarão sem resposta", e seu ministro da Defesa, David Tonoïan, alertou que suas forças estavam prontas para assumir posições no território inimigo se necessário. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, expressou seu apoio ao Azerbaijão, um país aliado e de língua turca."O que a Armênia fez é inaceitável", disse ele, assegurando que "o Azerbaijão não estava sozinho" com a Turquia ao seu lado.Nagorno-KarabakhMonumento 'Nós Somos Nossas Montanhas', em Stepanakert (Khankendi), capital da autodeclarada República de Nagorno-Karabakh, não reconhecida pelo BrasilGrandma and Grandpa by David Stanley / CC BYUma guerra aberta entre o Azerbaijão e a Armênia poderia desestabilizar toda a região do Cáucaso, onde a Rússia e a Turquia, em particular, têm interesses geo-estratégicos concorrentes.Armênia e Azerbaijão estão em conflito desde o início dos anos 1990 pelo controle de Nagorno-Karabakh, também conhecido como Artsakh. O território é um enclave de maioria armênia no Azerbaijão.Nagorno-Karabakh proclamou unilateralmente sua independência em 1991, com o apoio da Armênia, iniciando uma guerra com o Azerbaijão que matou cerca de 30 mil pessoas até um cessar-fogo em 1994. Os confrontos na região são bastante frequentes. Já os combates na fronteira entre o Azerbaijão e a Armênia são mais raros.A recente escalada de tensões ocorre após comentários do presidente do Azerbaijão, que havia ameaçado encerrar as negociações de paz sobre Karabakh e disse que seu país tinha o direito de buscar "uma solução militar para o conflito".Mapa República de Nagorno-KarabakhAlexandre Mauro/G1Crise territorial chegou ao BrasilNo ano passado, a disputa sobre o território de Nagorno-Karabakh gerou mal estar entre o Itamaraty, os governos de dois municípios de São Paulo e as embaixadas de Armênia e Azerbaijão. Isso porque as cidades de Pilar do Sul e Mairiporã se declararam "irmãs" de duas localidades na região separatista após um acordo com um grupo de apoio à comunidade armênia. Relembre no VÍDEO abaixo.Leis aprovadas levam Itamaraty a alertar cidades sobre mal-estar com o Azerbaijão