Entenda por que os hospitalizados por Covid-19 perdem massa muscular

Por Rogerio Magno em 26/07/2021 às 16:40:17

O impacto muscular é talvez uma das sequelas menos comentadas por pacientes recuperados de Covid-19. No entanto, especialistas alertam que esse problema ocorre em quase 70% dos que deixam a terapia intensiva. Atletas sentem um impacto maior, já que seus corpos geralmente possuem mais músculos do que gordura. As consequências não são apenas estéticas: não recuperar a massa muscular significa continuar com um sistema imunológico enfraquecido, o que pode causar complicações e outras doenças. Entenda porque isso ocorre.

“Eu acordei no corpo de outra pessoa”. É assim que Juan Reynoso, de 53 anos, resume a sensação que teve após a alta do hospital. Antes de ser infectado pelo coronavírus, não lhe faltava condição física. Ele fazia musculação e artes marciais, além de carregar e descarregar o caminhão que dirige. Agora, com 15 quilos a menos, Juan teve que procurar roupas menores em seu armário e pensa duas vezes antes de pegar suas filhas no colo.

Juan, contudo, não está sozinho. Segundo o jornal La Nacion, diferentes estudos têm buscado explicar porque os pacientes hospitalizados por Covid-19 perdem cerca de 2% de sua massa muscular todos os dias. Isso equivale, em média, a queima de um quilo diário. A inatividade e gravidade dos sintomas são alguns dos motivos.

Uma das consequências da forma grave da Covid-19 é a perda de massa muscular, especialmente em atletas. Recuperação supervisionada por profissionais da fisioterapia e nutrição é recomendada. Créditos: Shutterstock

Médicos e pesquisadores afirmam que existe um efeito direto da Covid-19 no sistema muscular, relacionado com a produção da proteína ACE2. Tal enzima é quem permite que o vírus entre no corpo e se reproduza. Os músculos contêm precisamente essa proteína em suas membranas, e é por isso que são um terreno fértil para a proliferação do vírus dentro do corpo.

Outro efeito do coronavírus na perda de massa muscular dos pacientes em terapia intensiva ocorre de forma indireta, devido à imobilização prolongada que leva à atrofia muscular. 

“Em pacientes gravemente enfermos, a massa muscular é afetada de duas maneiras. Por um lado, o corpo passa por uma reação inflamatória sistêmica e isso não permite que o corpo sintetize proteínas, além de consumir as proteínas de que já dispõe. Por outro lado, a imobilização prolongada gera perda de massa muscular e desnutrição”, explica a médica esportiva Carolina Bortolazzo, do Hospital Elizalde, na Argentina.

A médica relata ainda que em atletas de alto rendimento, cada semana de internação equivale a quatro semanas de destreinamento (interrupção dos treinos).

Max Zimerman, médico do Hospital Universitário de Hamburgo, na Alemanha, conta que durante a internação, os bloqueadores neuromusculares são usados para conseguir colocar o paciente de bruços e tolerar o respirador mecânico. Tudo isso afeta os músculos e gera o que se chama de polineuropatia do paciente, disfunção simultânea de vários nervos periféricos por todo o organismo. Dessa forma, há uma degeneração do nervo que, por não inervar o músculo, provoca a perda de fibras musculares.

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Além da perda de massa muscular, é comum que os pacientes recuperados de Covid-19 sintam dores intensas nos músculos e nas articulações ou mesmo que não sintam partes do corpo. Outros tem dores de cabeça ou movimentos involuntários e tremores por algum tempo.

recuperação da musculatura, e de outras sequelas, é possível, mas não é fácil e pode levar várias semanas, meses (e talvez anos). Porém, é importante que essa reabilitação seja supervisionada: aos poucos e com o auxílio de profissionais adequados, como fisioterapeutas, educadores físicos, entre outros. 

Segundo Bortolazzo, não basta sair para treinar porque o risco é muito grande. Os pacientes sentem que conseguirão, mas sua capacidade respiratória está reduzida, ou seja, eles tendem a ter fadiga muscular. Além disso, o coração fica enfraquecido, logo, há um grande risco de infarto por esforço excessivo. 

A recuperação nutricional também é importante, com nutrição adequada e suplementos vitamínicos e proteicos para a recuperação muscular

Especialistas, como Zimerman, exaltam ainda a importância da reabilitação precoce, ainda durante a hospitalização. “É importante começar cedo com terapias que incluem cinesiologia e terapia ocupacional, com movimentos ativos. 

A recuperação neuropsicológica também é necessária, porque o impacto do vírus é muito amplo e afeta não só o corpo, mas também a mente”, afirmou o médico.

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Fonte: Olhar Digital

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