Ameaçados e sem liberdade, eles fugiram do Afeganistão dominado pelo Talibã

Por Rogerio Magno em 31/08/2021 às 05:22:05
Conheça as histórias de quatro afegãos bem-sucedidos que têm em comum atividades incompatíveis com as regras ditadas pelo grupo extremista. Avião militar dos EUA decola do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul, nesta segunda-feira (30), pouco antes do fim do prazo de retirada das tropas do país.

AP Photo/Wali Sabawoon

Em comum, eles não quiseram pagar para assistir ao revival de um governo Talibã no Afeganistão. Ameaçados, deixaram tudo para trás e fugiram do horror. A vida, tal como ela era até o último dia 16, quando Cabul caiu sob o controle do grupo fundamentalista, ficou inviável.

Pelas quatro histórias abaixo, é possível entender o que leva profissionais bem-sucedidos, no auge de suas carreiras, a abandonar o país para não perder um bem maior -- a liberdade.

Beheshta Arghand, jornalista

Beheshta Arghand durante entrevista com membro do Talibã

Reprodução/Youtube/Tolonews

Há duas semanas, a âncora da rede afegã “Tolo News” ganhou destaque por entrevistar, com perguntas incisivas, Mawlawi Abdulhaq Hemad, um importante líder talibã. Ao vivo, questionou-o sobre os direitos das mulheres tendo em vista a nova realidade do país, sob o domínio do grupo fundamentalista.

Aos 24 anos, sentiu orgulho da profissão e do papel diante das mulheres afegãs. Mas, como outros repórteres da rede de TV, foi ameaçada e entregou os pontos. Precisou de ajuda para fugir do país e desembarcar em Doha, no Catar, com os pais e os quatro irmãos.

“Saí porque, como milhões de afegãos, temo o Talibã”, resumiu Arghand à CNN.

Omaid Sharifi, artista

O artista afegão Omaid Sharifi

Reprodução/Twitter/Omaid Sharifi

O artista afegão decidiu fugir por constatar que não haverá mais em seu país espaço para arte, cores, beleza, incompatíveis com o estilo de vida do grupo fundamentalista. “Eu conheço o Talibã, sei o que é viver sob seu domínio. Não é possível mais trabalhar nessas condições.”

Omaid Sharifi dirige o ArtLords (“senhores da arte”, numa referência ao termo “senhores da guerra”), movimento de 53 artistas criado em 2014, que transformou em mais de 2.000 murais de arte as paredes danificadas durante a guerra.

Artistas do país foram advertidos por extremistas a mudar de profissão e começaram a destruir seus trabalhos por conta própria. Ele recusou as alternativas.

Na fuga, enfrentou tumulto e tiroteios no aeroporto de Cabul, abandonou bolsa e pertences para escapar ileso. Conseguiu chegar em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos com uma certeza: a guerra em seu país não termina nunca.

Roya Heydari, cineasta

“Deixei toda a minha vida, minha casa para continuar a ter voz. Mais uma vez, estou fugindo de minha pátria. Mais uma vez, vou começar do zero. Com o coração partido, adeus pátria. Até nos encontrarmos novamente.”

A cineasta afegã Roya Heydari, momentos antes de partir de Cabul, no Afeganistão

Reprodução/Twitter/Roya Heydari

Com esse post, que viralizou no Twitter, a cineasta e fotógrafa Roya Heydari, de 28 anos, despediu-se do Afeganistão antes de partir para a França. Ela preferiu sair do país a viver enjaulada, sem poder trabalhar, conforme explicou à Al-Jazeera.

Roya contou ter levado apenas suas câmeras e “uma alma morta”. Seu desabafo comoveu e contagiou outras mulheres e simbolizou o pavor -- o de enfrentar a mesma realidade das afegãs entre 1996 e 2001, quando o Talibã dominou o país pela primeira vez.

Massoud Hossaini, fotógrafo

Primeiro afegão a vencer o Prêmio Pulitzer, em 2012, com a foto de uma menina afegã ensanguentada e em choque, cercada de mortos e feridos, após um ataque terrorista num festival xiita, Massoud Hossaini é agora um exilado. Fugiu de Cabul para Amsterdã no último voo comercial que saiu do aeroporto, pouco antes de o Talibã tomar a capital.

O fotógrafo Massoud Hossaini, primeiro afegão a vencer o Prêmio Pulitzer

Reprodução/Twitter/Massoud Hossaini

Hossaini trabalhava como freelancer em seu país e tinha sido ameaçado pelo grupo por uma reportagem que fez com um jornalista estrangeiro sobre os casamentos forçados de meninas afegãs com combatentes.

De longe, ele prevê a morte da imprensa livre afegã “vibrante nos últimos 20 anos” e despreza as promessas de moderação feitas pelo grupo radical nesta segunda gestão. No sábado passado, Hossaini cobriu uma manifestação em Amsterdã de afegãos e holandeses contra o Talibã.

A multidão concentrada na Dam Square pediu liberdade e justiça para o Afeganistão. “Eu gostaria de voltar para casa depois disso”, tuitou o fotógrafo.

Fonte: G1

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