Uma grave crise energética no Reino Unido tem levado operadoras de ferrovias a desistir da potência elétrica para readotar a tração a diesel em suas locomotivas. Uma das líderes no setor, a Freightliner anunciou, em comunicado à imprensa na última quinta-feira (14), que fez a mudança temporária a fim de “manter uma opção econômica para o transporte de mercadorias vitais”.
“Como resultado da alta dos preços no mercado atacadista de eletricidade no Reino Unido, o preço que a Network Rail [empresa pública que gerencia a infraestrutura de transportes no país] nos cobra para operar serviços elétricos aumentou mais de 210% entre setembro e outubro”, diz o comunicado. “Este aumento sem precedentes nas tarifas de eletricidade resultou em um crescimento no custo de operação dos serviços de frete.”
Como no Brasil, os preços do gás e da luz no Reino Unido dispararam brutalmente nos últimos meses. Isso acontece porque houve um aumento na demanda do gás natural com a reabertura das economias após a desaceleração da pandemia de Covid-19 e a produção de fontes renováveis — como usinas eólicas — não obteve o desempenho esperado.
O barril do gás, por exemplo, está sendo negociado a quase US$ 200 (cerca de R$ 1.100), gerando um aumento de 268% nos preços da energia elétrica. Já o valor de referência do diesel na Europa atinge US$ 98 (aproximadamente R$ 540), o mais alto em três anos.
“O aumento significativo do custo de eletricidade levou algumas operadoras a tomar uma lamentável decisão de regressar temporariamente às locomotivas diesel”, diz um comunicado de outro importante grupo na Inglaterra, o RFG (Rail Freight Group). “Nossos membros estão nos garantindo que esta é uma medida temporária e será mantida sob constante revisão.”
A maioria dos serviços eletrificados da Freightliner já foi temporariamente substituída por diesel. De acordo com a empresa, 23 das 162 locomotivas em sua frota ativa são movidas a bateria.
O problema no transporte ferroviário não apenas afeta o bolso do britânico, como pressiona para um problema pior: o abastecimento alimentar. Não apenas pela alta no preço do combustível, mas também pela falta de trabalhadores para levar a gasolina aos postos.
De acordo com a associação Logistics UK, o Reino Unido precisa de cerca de 90 mil motoristas de veículos pesados para estancar a crise. Este é um número que o país não consegue suprir por questões de circulação: após o Brexit, os motoristas que antes podiam entrar e sair da ilha sem problemas agora precisam de um visto de trabalho. Com isso, o transporte de suprimentos e bens vitais — como alimentação — tem se tornado mais difícil.
A crise também afeta o poder de compra do consumidor do Reino Unido. Em agosto, a inflação chegou a 3,2%, o valor mais alto em uma década, tendo chances de atingir 4% em dezembro, de acordo com as previsões do Banco da Inglaterra.
Imagem: Kev Gregory/Shutterstock
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Fonte: Olhar Digital