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Em Israel, debate acalorado sobre solidariedade ao inimigo Líbano


Ofertas do governo ao país vizinho recebem críticas, sobretudo, de setores de extrema direita. A prefeitura de Tel Aviv, em Israel, se iluminou nesta quarta (4) com a bandeira do Líbano, em homenagem às vítimas da explosão no porto de Beirute

Sebastian Scheiner/AP

Solidariedade ou hipocrisia? A oferta de ajuda a um inimigo de longa data -- no caso o Líbano, com quem o país já travou várias guerras -- provoca entre os israelenses distintas reações, por diferentes motivos. Tão logo o porto de Beirute foi sacudido pela explosão similar a um abalo sísmico, o governo de Israel se prontificou a enviar assistência e pôr seus hospitais à disposição de feridos. Obteve como resposta, pelo menos até agora, o silêncio.

O presidente Reuven Rivlin tuitou em árabe: "Sinceramente, tentamos oferecer nossa ajuda neste momento difícil." Na mesma linha, o premiê Benjamin Netanyahu completou, lembrando que o país mandou ajuda humanitária ao Irã, durante o terremoto: "Este é o nosso caminho. Fazemos distinções entre regimes e o povo."

Os contatos entre os dois países são mediados por canais diplomáticos da ONU e da França. Pelo menos quatro centros médicos de Israel ofereceram ajuda ao governo libanês. Masad Barhoum, diretor do Hospital da Galileia Ocidental, em Nahariya, contatou o premiê Hassan Diab e o presidente Michel Aoun, lembrando que a instituição tratou três mil pacientes sírios durante o conflito armado no país.

Numa rara imagem, o prefeito de Tel Aviv, Ron Huldai, iluminou a sede do governo municipal com as cores da bandeira libanesa. A Humanidade precede qualquer conflito, justificou ele, ao demonstrar apoio às vítimas de Beirute.

"Israel está focado no Hezbollah e Líbano hoje se confunde com Hezbollah", diz jornalista

Os dois países não mantêm relações diplomáticas e consideram-se inimigos. Israel vive em permanente tensão com o Hezbollah, após o fim de uma guerra devastadora em 2006, que em 34 dias matou 1.200 libaneses e 165 israelenses.

Desta forma, a acolhida solidária ao Líbano também gera ceticismo em parte da população, especialmente nos setores de extrema direita. Yair Netanyahu, o primogênito do premiê, tachou de ofensa criminosa a exibição da bandeira iluminada do Líbano na sede da Prefeitura.

"É moralmente questionável agitar a bandeira de um país inimigo no coração de Tel Aviv", opinou o ministro de Assuntos de Jerusalém, Rafi Peretz.

Crítico da política do governo em relação aos palestinos, o polêmico jornalista Gideon Levy, por outro lado, ironiza as manifestações de solidariedade ao Líbano, assim como as instruções dos ministros da Relações Exteriores e Defesa para oferecer assistência médica e humanitária ao Líbano:

"Todo o ódio do passado foi deixado de lado, Israel agora é um amigo necessitado de seu vizinho sofredor", descreveu em sua coluna no jornal Haaretz, para em seguida completar: "Não foi o mesmo ministro da Defesa, que na semana passada ameaçou o mesmo Líbano com a destruição da infraestrutura? O primeiro ministro também não ameaçou o Líbano?"

O acalorado debate que se instaurou em Israel indica que no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio oferecer e aceitar ajuda é bem mais complexo do que o mais genuíno gesto de solidariedade.

G1

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