'Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e o Daniel Ortega não?', diz Lula em entrevista

Por Rogerio Magno em 23/11/2021 às 19:17:25
Ao jornal espanhol 'El País', o ex-presidente criticou a prisão de opositores e a permanência de um mesmo líder no poder e disse ser favorável à alternância, mas comparou o chefe de um regime autoritário a uma chanceler de um sistema parlamentarista. Lula também disse que a democracia em Cuba só virá quando terminar o embargo imposto pelos EUA à ilha. Ao "El Pais", Lula compara tempo de governo de Danel Ortega ao de Angela Merkel

Em viagem pela Europa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista ao jornal espanhol "El País" publicada no sábado (20) que defende a alternância de poder e que opositores não sejam presos para favorecer um grupo político antes de eleição. Por outro lado, o político afirmou ser contra a interferência nas decisões de outro país, citando o crescente autoritarismo da Nicarágua de Daniel Ortega.

"Todo político que começa a se achar imprescindível ou insubstituível começa a virar um pequeno ditador. Por isso eu sou favorável à alternância de poder", afirmou Lula.

"Eu posso ser contra [a permanência de um mesmo líder no poder], mas não posso ficar interferindo nas decisões de um povo. Nós temos que defender a autodeterminação dos povos. Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e o Daniel Ortega não?", indagou.

A diferença é que a Alemanha de Merkel é um país parlamentarista em que se admite a troca do chefe de governo — que tem poderes bem limitados — seja após eleições periódicas, seja com a perda de apoio da maioria do Parlamento. A atual chanceler vai deixar o cargo após decidir não mais se candidatar, e as eleições deste ano foram vencidas pela oposição.

Homem passa por um outdoor de propaganda do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no início da campanha para as eleições presidenciais, em Manágua, em setembro

Reuters/Maynor Valenzuela

Já a Nicarágua tornou-se um regime autoritário uma vez que Daniel Ortega perseguiu opositores e fez manobras legais para permanecer no poder. Isso foi citado pelas entrevistadoras do "El País", que relembraram que o nicaraguense mandou opositores para a prisão antes das eleições — o que não ocorreu nem na Alemanha nem na Espanha, também citada por Lula.

Lula, então, respondeu: "Eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil, eu fui preso. Fiquei 580 dias na cadeia para que o Bolsonaro fosse eleito presidente da república. Eu não sei o que as pessoas fizeram para serem presas, eu sei que eu não fiz nada".

"Se o Daniel Ortega prendeu a oposição para não disputar a eleição como fizeram no Brasil contra mim, ele está completamente errado."

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, se reúne com o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva em 19 de novembro de 2021

Reprodução/Twitter

Lula foi preso em 2018 após condenação em duas instâncias da Justiça no caso do triplex em Guarujá (SP). A pena definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) é de 12 anos e 1 mês de prisão, com início em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pela lei, ele ficou impedido de concorrer na eleição presidencial daquele ano, vencida por Jair Bolsonaro.

Em 2021, o juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Com isso, o ex-presidente volta a ser elegível.

Protestos em Cuba e embargo econômico

Protestos contra o governo em Cuba

Alexandre Meneghini/Reuters

Lula também abordou na entrevista a repressão aos manifestantes em Cuba. Para ele, o país caribenho voltará à democracia quando o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos for encerrado.

"Você não vai resolver o problema da democracia com Cuba instigando os opositores a criar problema para o governo. Você vai conquistar a democracia em Cuba terminando com o bloqueio", opinou o ex-presidente.

Além disso, o petista criticou as repressões da polícia aos manifestantes no mundo: "Não é só em Cuba que protestos são proibidos. No mundo inteiro protestos são proibidos. Greves são proibidas. A polícia bate em muita gente, no mundo inteiro a polícia é muito violenta".

Fonte: G1

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