Amigos temem pela vida do cubano Maykel Osorbo, o primeiro músico preso a ser premiado com o Grammy Latino

Por Rogerio Magno em 13/12/2021 às 09:31:47
Rapper e co-autor de 'Patria y vida', o hino de oposição ao regime, está incomunicável e com saúde debilitada. Conheça os criadores do hit que inspirou protestos em Cuba

“Na ditadura de Cuba ganhar um Grammy é um castigo para um artista rebelde”, resume a ativista Anamely Ramos ao referir-se ao primeiro prêmio concedido a artistas cubanos pela canção “Pátria y vida”, que se tornou um hino de rejeição ao regime. Um de seus autores, o rapper Maykel Castillo, conhecido também como Osorbo, não recebeu os dois prêmios Grammy Latino, em Las Vegas, porque está há sete meses encarcerado e incomunicável.

O último contato, no dia 2, foi bem rápido numa ligação para a historiadora e ativista Carolina Barrero, também perseguida pelo regime. Parentes e amigos denunciam que o rapper, de 37 anos, se encontra muito debilitado e apresenta muitos gânglios inflamados, febre e sinais de fadiga. Suspeitam de que ele esteja com câncer linfático e desconfiam do tratamento médico que possa receber na prisão.

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As acusações do regime para justificar sua prisão preventiva são clássicas: resistência, desacato, desordem pública e disseminação de epidemia. Maykel Osorbo é também apresentado pelo governo de Miguel Díaz Canel como mercenário e farsante, a serviço dos EUA e da CIA, “por protagonizar shows midiáticos”.

O rap premiado como a melhor canção do ano e a melhor canção urbana na 22ª edição do Grammy Latino desmente as credenciais desabonadoras relatadas pelo regime: tem 10 milhões de visualizações no YouTube e foi também incluído entre as 50 melhores músicas de 2021 no ranking da revista “Rolling Stone”.

Numa alusão ao lema “Patria o muerte” alardeado por Fidel Castro, os artistas cubanos Osorbo Yotuel Romero, Descemer Bueno, El Funky e a dupla Gente de Zona questionam o governo comunista e denunciam a falta de liberdade e a penúria econômica na ilha.

Clipe de 'Pátria y vida' teve milhões de visualizações e levou a reação do governo cubano

Reprodução/Youtube

O rapper preso foi homenageado pelos companheiros na cerimônia do Grammy, no dia 18 de novembro. No dia seguinte, conseguiu mandar uma mensagem gravada, dizendo que os prêmios eram uma injeção de vida e fruto do sacrifício de artistas e do povo cubano. “Procuramos exprimir nessa canção o sofrimento do povo cubano durante 63 anos.”.

De acordo com a ONG Human Rights Watch, pelo menos 50 artistas cubanos estão presos, em penitenciárias ou em casa, e enfrentam acusações criminais injustas e infundadas. Uma campanha internacional pela libertação dos prisioneiros políticos ganhou a adesão de 300 artistas e personalidades estrangeiras, entre eles os escritores Paul Auster, Orhan Pamuk, Chimamanda Ngozi Adichie, Elena Poniatowska e Isabel Allende.

Já o Parlamento Europeu debaterá nesta quinta-feira a situação dos presos, como Osorbo e o líder do Movimento San Isidro, Luis Manuel Otero Alcántara, que foi levado para uma prisão de segurança máxima depois dos protestos de 11 de julho em Cuba.

“Patria y vida” foi produzida entre Havana e Miami num processo que durou 100 dias, conforme contou Osorbo em março ao blog. Viralizou rapidamente, segundo ele, como reflexo de um sentimento nacional: “o desejo do cubano pelo fim da ditadura e pela rápida liberdade.” O rapper entra para a história como o primeiro músico a ser agraciado na prisão pelo Grammy Latino.

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Fonte: G1

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