Mais de 725 pessoas já foram presas e indiciadas, mas FBI acredita que até 2 mil possam estar envolvidas. Comissão da Câmara investiga se ex-presidente Donald Trump e seus colaboradores podem ser acusados por incitarem violência, que deixou cinco mortos, incluindo um policial, e diversos feridos. Invasão ao Capitólio, nos EUA, completa um ano
No dia 6 de janeiro de 2021, milhares de simpatizantes de Donald Trump invadiram o Capitólio, prédio que abriga o Congresso dos Estados Unidos. Eles tentavam impedir que o Legislativo certificasse a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.
Pessoas se deitam no chão e nas escadarias da galeria do Senado dos EUA no momento em que manifestantes tentam entrar no Capitólio, em Washington
Andrew Harnik/AP
A sessão da Câmara foi interrompida e os legisladores foram obrigados a fugir e se abrigar nos porões do prédio. Até mesmo o vice de Trump, Mike Pence, estava entre os que correram risco de vida durante a violenta invasão – muitos dos manifestantes o consideravam um “traidor” por aceitar a declaração de Biden como novo presidente.
Apoiadores de Trump forçam grades em frente ao Capitólio, prédio do Congresso americano
Julio Cortez/AP Photo
Os invasores acreditavam no discurso de Trump, de que as eleições tinham sido fraudadas, sem reconhecer sua derrota.
Apoiadores de Trump invadem Congresso dos EUA; FOTOS
Veja a repercussão da invasão do Congresso dos EUA
Invasão do Capitólio por seguidores de Trump ainda divide os republicanos
Além do rastro de destruição, no pior ataque ao Congresso americano desde a Guerra de 1812, quatro pessoas morreram, e um policial do Capitólio, atacado pelos invasores, faleceu no dia seguinte.
Apoiadores de Trump ocupam a Rotunda do Capitólio
Saul Loeb/AFP
Dezenas de policiais ficaram feridos e quatro cometeram suicídio posteriormente, traumatizados pelo episódio.
Condenações
Um ano depois, mais de 725 pessoas já foram presas e indiciadas, mas a lista cresce sem parar: o FBI acredita que pelo menos 2 mil estiveram envolvidas, segundo a agência France Presse.
Manifestantes pró-Trump adentram o Capitólio em protesto
Saul Loeb/AFP
Entre os já identificados, cerca de 87% são homens, em sua grande maioria brancos e com idade média de 39 anos. Eles são provenientes de todo o país e têm perfis socioeconômicos variados, mas muitos têm experiência militar e enfrentam severas dificuldades financeiras.
Já foram proferidas 50 sentenças, a maioria por acusações leves e para pessoas que fizeram acordos de confissão.
FBI divulga fotos de pessoas que participaram de invasão ao Capitólio e pede ajuda para identificá-las
Reprodução/FBI
Mas cerca de 225 pessoas foram acusadas de atos violentos, principalmente por agredirem os guardas do Capitólio. E entre estas estão também 40 processadas por associação criminosa, por supostamente terem ajudado a planejar o ataque.
Essas acusações mais graves são direcionadas especialmente a integrantes de grupos de extrema-direita, como Proud Boys, Oaths Keepers, ou Three Percenters. Alguns deles estão em prisão preventiva, e devem enfrentar júris populares.
Papel de Trump
Em paralelo, uma comissão de inquérito da Câmara tenta determinar se Trump e seus colaboradores também podem ser acusados. Mais de 300 pessoas já foram ouvidas e o foco é analisar se o ex-presidente incitou a violência e colaborou para inflamar ainda mais os ânimos em 6 de janeiro de 2021.
Se a comissão encontrar provas contra Trump, elas serão usadas pelos promotores em uma acusação.
Explosão causada por um armamento policial ilumina a fachada do Capitólio, em Washington, tomado por apoiadores de Donald Trump
Leah Millis/Reuters
Trump chegou a sofrer um impeachment na Câmara por incitar à violência que resultou na invasão, a apenas seis dias do final de seu mandato, e se tornou o primeiro presidente dos EUA a sofrer dois impeachment.
Mas, assim como no primeiro processo, ele foi absolvido no Senado, de maioria republicana, embora sete membros de seu partido tenham votado a favor de seu afastamento.
Chad Kulchesky com sua bandeira de Trump estilizado como Rambo no dia 6: 'Tudo o que foi feito naquele dia era necessário, menos invadir o Capitólio'
Mariana Sanches/BBC Brasil
Até mesmo o comportamento de Trump após o episódio é questionado, já que ele e muitos de seus colegas republicanos e até mesmo jornalistas e influenciadores de direita adotaram discursos minimizando a invasão, classificando-a como um episódio não violento ou provocado por ativistas de esquerda.
Manifestante se pendura da beira da galeria no plenário do Senado dos EUA, após invasão do Capitólio
Win McNamee/Getty Images/AFP
Além disso, o ex-presidente tentou (mas não conseguiu) impor sigilo sobre centenas de documentos, incluindo a lista de pessoas que o visitaram ou telefonaram para ele no dia do ataque ao Capitólio.
As mais de 770 páginas de documentos incluem também material sobre as atividades de seu ex-chefe de gabinete Mark Meadows, do ex-conselheiro sênior Stephen Miller e do ex-conselheiro adjunto Patrick Philbin.
Veja abaixo vídeos da invasão do Congresso dos EUA