União Astronômica Internacional abre escritório de combate ao lixo espacial

Por Rogerio Magno em 08/02/2022 às 14:59:43

Um novo front de combate ao lixo espacial foi inaugurado pela União Astronômica Internacional (IAU) – a maior autoridade do mundo em astronomia -, que anunciou na última segunda-feira (7) a criação do “Centro para a Proteção do Céu Noturno e Silencioso da Interferência de Constelação de Satélites”.

O escritório será operado pela IAU em conjunto com o NOIRLab, nos EUA; e o Square Kilometer Array Observatory (SKAO), baseado no Reino Unido. Todas as organizações envolvidas afirmaram, em comunicados separados, que seus projetos futuros serão negativamente impactados pelo aumento irrestrito de mega constelações de satélites na órbita da Terra.

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Satélite da Starlink
Satélites da Starlink vem sendo posicionados no céu em ritmo extremamente acelerado, o que incomoda organizações astronômicas que alegam dificuldades em trabalhos de observação cósmica (Imagem: AleksandrMorrisovich/Shutterstock)

A criação do centro é uma clara oposição a projetos de magnitude massiva – como a rede de internet via satélite Starlink (SpaceX), o “logo-a-ser-lançado” Projeto Kuiper (Blue Origin) e também a OneWeb, que conta com seu próprio produto no ramo.

Especialistas vêm alertando sobre os problemas do crescimento sem precedentes do volume de satélites comerciais posicionados em órbita. Em abril de 2021, a própria Starlink foi mencionada por nome por astrônomos, que afirmavam que seus satélites estavam deixando o céu “mais brilhante”, dificultando observações de eventos e corpos espaciais.

Isso é interessante especialmente ao SKAO e ao NOIRLab: o primeiro será o maior observatório astronômico já criado e situado em dois locais distintos (Austrália e África do Sul). Já o segundo está construindo o Observatório Vera C. Rubin, no Chile, também de grande porte.

De acordo com Piero Benvenuti, ex-secretário geral da IAU e agora diretor do Centro para a Proteção do Céu Noturno e Silencioso da Interferência de Constelação de Satélites, as mega constelações são “uma ameaça pior à astronomia do que a poluição de luz”.

“Antigamente, a principal fonte de interferência [para a observação astronômica] era a poluição de luz causada pela iluminação urbana, a assim chamada "luz artificial noturna"”, disse Benvenuti. “Mais recentemente, porém, o impacto de grandes constelações de satélites se tornaram uma preocupação maior por causa de sua invasão onipresente”.

Por causa da poluição de luzes urbanas, a maior parte dos observatórios astronômicos é instalada em ambientes isolados – desertos, cadeias montanhosas e afins. Com isso, eles antecipavam a necessidade de iluminação noturna artificial e tinham uma capacidade quase irrestrita de observação.

Mas como eles se defendem de um satélite?

“Até o final da década, mais de 5 mil satélites estarão acima do horizonte a todo momento”, disse Connie Walker, cientistas do NOIRLab e co-diretora do centro. “Em uma localização comum de observação do céu noturno, algumas centenas até milhares desses satélites estarão iluminados pelo Sol”.

O reflexo da luz solar nos satélites é que causa o problema: ao se posicionarem no lado noturno da Terra desta forma, a luminosidade refletida em suas antenas cria pontos que podem ser capturados até pelo mais sensível dos instrumentos – desde pequenos telescópios ópticos até o maior dos infravermelhos.

Isso, sem mencionar o que já deixamos lá em cima: estágios descartados de foguetes e satélites desativados, por exemplo, são feitos em parte de metal – o que por si já reflete a luz também. A criação destes pontos de luz em caráter tão próximo à Terra traz um grande problema para telescópios criados para enxergar as estrelas mais distantes.

Até o momento, as empresas que trabalham com esses satélites não comentaram as afirmações do novo escritório.

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Fonte: Olhar Digital

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