Desastres naturais aumentam casos de discriminação, sobretudo de mulheres

Por Rogerio Magno em 16/03/2022 às 13:42:14

Um estudo publicado no jornal científico China Economic Quarterly International revelou que, além das consequências ao meio ambiente, desastres naturais também ampliam casos de discriminação – em especial, contra as mulheres.

O estudo assinado por Ruibing Liang, professor de Economia da Universidade Xiamen, analisou a região de inundações do Rio Amarelo (YRFR, na sigla em inglês), em busca de determinar como a incidência maior de avanços do rio formou a cultura da área. Para isso, o especialista utilizou dados de vários censos anuais de população, cruzando-os com informações da Pesquisa Social Geral da China – um levantamento demográfico feito anualmente pelo governo.

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Devido à sua alta importância econômica, o Rio Amarelo na China apresenta alta atividade comercial em pesca, mineração e outras vertentes, mas a sua propensão a desastres naturais aumentam casos de discriminação contra mulheres
Devido à sua alta importância econômica, o Rio Amarelo na China apresenta alta atividade comercial em pesca, mineração e outras vertentes, mas a sua propensão a desastres naturais aumentam casos de discriminação contra mulheres (Imagem: Sirisak_baokaew/Shutterstock)

“Poucos estudos discutiram de forma compreensiva o impacto generalizado de uma calamidade natural em três variáveis culturais principais – especificamente, normativas de gênero, crenças religiosas e confiança. Usando a região de inundações do Rio Amarelo como caso de estudo, eu queria ver como as inundações frequentes influenciaram essas variáveis”, explicou o acadêmico.

Liang descobriu, então, que existe uma supervalorização de filhos sobre filhas e a empregabilidade favorece o sexo masculino em relação ao feminino. Em números: a região estudada apresentou, por exemplo, 109 meninos para cada 100 meninas dentro da área pesquisada (versus 105 meninos para 100 meninas fora dela). No que tange à oferta de empregos, a força de trabalho feminina é 21,1% por cento menor dentro da região de inundações se comparada a outras áreas.

“Eu também descobri que, ainda que as pessoas que vivam dentro da YRFR tenham a tendência de acreditar e participar de atividades religiosas com mais frequência, eles tendem a rejeitar mais as religiões estrangeiras, como o Cristianismo”, disse Liang. “Mais além, pessoas de dentro da região de inundações tendem a suspeitar mais dos outros, mas retém um nível maior de confiança nas instituições e organizações – governos ou o exército, por exemplo. Essas conclusões são amplamente mantidas quando variáveis comparativas e análises de regressão são aplicadas, ou quando a migração populacional é considerada”.

Em outras palavras: depois de um desastre ambiental, as pessoas de dentro da região de inundações do Rio Amarelo não apenas tendem a valorizar o homem sobre a mulher em todos os aspectos sócio econômicos e também fazer da religião uma parte mais integral de suas vidas, como aqueles da área que se mudam para fora dela mantém esses hábitos e crenças.

“Este paper demonstra que, a longo prazo, os choques econômicos têm a capacidade não só de mudar o comportamento das pessoas, mas reforçar essa mudança e fazê-la perdurar”, disse Liang. “Eu acredito que esses resultados têm grande importância para a compreensão das causas de diferenças culturais entre regiões, de uma perspectiva econômica. E eles podem nos ajudar a entender alguns dos problemas atualmente enfrentados pela YRFR, como por exemplo a discriminação regional e de gênero”.

O Rio Amarelo, também conhecido como Huang He ou Huang Ho, é o segundo maior da China e o sexto maior do mundo, medindo 5464 km, e tem uma bacia de 752 mil quilômetros quadrados (km²). É de grande importância para a economia chinesa, pois o seu vale tem terras férteis, bons pastos e importantes jazidas minerais.

A região, no entanto, é propensa a inundações causadas pelas cheias do rio. Em 1887, o rio inundou diversos diques na província de Henan, cobrindo de água uma área de 130 mil km². Além deste episódio, outra inundação, em 1938, foi causada pelo governo nacionalista da China na segunda metade da guerra do país contra o Japão: considerado o maior caso de ataque ambiental causado pela mão humana na história, o objetivo era impedir o rápido avanço das tropas japonesas na região.

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Fonte: Olhar Digital

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