El Salvador: governo culpa gangues por onda de assassinatos e prende mais de 2 mil pessoas

Por Rogerio Magno em 31/03/2022 às 05:35:36
EUA afirmaram no ano passado que dirigentes do governo de El Salvador havia feito acordos com as gangues para diminuir a violência. Imagem de 2016 de membros da gangue Mara Salvatrucha conversam na prisão de Ciudad Barrios, El Salvador

Tomas Munita/The New York Times

A recente onda de violência em El Salvador (87 pessoas foram assassinadas no fim de semana) foi atribuída pelo governo do país a grupos criminosos organizados, como Mara Salvatrucha e Barrio 18. As autoridades informaram que prenderam, nos últimos dias, 2.163 pessoas.

A nova onda de violência começou no último sábado —e, aparentemente, há alvos que não seriam implicados nas guerras entre gangues, como vendedores de rua, motoristas de taxi, pessoas que estavam comprando pão etc.

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Segundo o jornal “The New York Times”, no ano passado o governo dos Estados Unidos acusou o atual presidente, Nayib Bukele, de fazer um acordo secreto com algumas gangues (inclusive com a Mara Salvatrucha).

O Departamento do Tesouro dos EUA chegou a sancionar alguns dirigentes do governo salvadorenho acusados de fornecer incentivos financeiros, prostitutas e acesso a telefones celulares a líderes de gangues presos. Em troca, as gangues diminuiriam a violência.

Nas imagens, membros de gangues rivais como Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 são vistos juntos em 2020

Reprodução/Twitter/OsirisLunaMeza

Reportagens publicadas em jornais salvadorenhos também apontam que o governo negociou com os grupos criminosos para reduzir os homicídios.

Bukele não é o primeiro presidente salvadorenho acusado de fechar acordos com as gangues.

Ele se elegeu com a promessa de diminuir a violência no país, o que de fato ocorreu: em 2021, foram registrados 1.147 homicídios, enquanto em 2017 foram 3.962.

O presidente nega que tenha feito acordos com as gangues.

Regime de exceção

Depois dos homicídios do último sábado, o governo decretou um regime de exceção, com duração de um mês.

A medida foi vista com preocupação por entidades de direitos humanos.

O ex-secretário da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) Paulo Abrão. "Populismo penal: ilegalidades para enfrentar ilegalidades. Barbáries para enfrentar barbáries", publicou Abrão no Twitter.

Bukele respondeu de imediato: "Vocês na OEA e a CIDH foram os que patrocinaram a trégua (entre gangues) que só fortaleceu os grupos criminosos e lhes permitiu acumular recursos, dinheiro e armamento. Levem sua peste (as gangues) do nosso país."

Abrão responde

Em entrevista ao g1, Abrão afirmou que com Bukele houve mais concentração de poder em El Salvador. “Ele contratou e usou o Pégasus, a ferramenta de espionagem israelense, para interceptar o telefone de 22 jornalistas, militarizou a segurança pública, usa discurso de ódio para desqualificar o movimento de direitos humanos que tentam cumprir seu papel de fiscalização”.

Bukele ironizou as organizações internacionais que criticaram as medidas de segurança no país: "Temos 70 mil criminosos ainda nas ruas. Venham buscá-los, levem eles para os seus países, tirem eles desta 'perseguição ditatorial e autoritária'. Vocês podem ajudar esses anjinhos, não permitam que continuemos violando os seus direitos", escreveu ele em uma rede social.

Para Abrão, o salvadorenho faz populismo penal: “É dever do Estado garantir o direito à segurança pública por meio de medidas que respeitam o marco democrático, o presidente está reagindo de maneira agressiva à fiscalização desses abusos, ele faz populismo penal para justificar ações estatais arbitrárias”.

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Fonte: G1

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