França realiza eleição presidencial em uma semana; conheça os candidatos e provável cenário de segundo turno

Por Rogerio Magno em 03/04/2022 às 07:14:30
Emmanuel Macron e Marine Le Pen, líderes nas pesquisas, devem se enfrentar no segundo turno. Se isso acontecer, será uma reedição das eleições de 2017. Marine Le Pen, Emmanuel Macron, Jean-Luc Mélenchon, Valerie Pecresse e Eric Zemmour

Reuters

O primeiro turno das eleições na França acontece no próximo domingo (10). A pesquisa de intenção de voto mais recente, do instituto Ifop, aponta o seguinte cenário:

Emmanuel Macron (Em Marcha!): 28%

Marine Le Pen (Assembleia Nacional): 21,5%

Jean-Luc Melenchon (França Insubmissa): 15%

Eric Zemmour (Reconquista): 11%

Valerie Pecresse (Sejamos Livres): 9,5%

Os dois candidato mais bem votados -- pelo que indica a pesquisa, Macron e Le Pen -- irão se enfrentar no segundo turno em 24 de abril.

Os prazos de campanha oficial na França são tradicionalmente curtos, diz o professor relações internacionais da USP Kai Lehmann, mas na prática os candidatos já estavam batalhando por votos há muito mais tempo. "No meio disso, teve a invasão da Ucrânia, que mudou o cenário das eleições", explica.

Desde o inicio do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, Macron tenta se mostrar como um líder que sabe governar nos tempos de crise, confiável, experiente, e que representa a opção menos arriscada, diz o professor Lehmann. "O problema é que ele tem eleitores que decidem em quem votar por questões internas, e não externas, e não há nenhuma garantia de que ser esse líder europeu vai decidir algo", afirma.

Material de campanha de Emmanuel Macron, Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon

Benoit Tessier/Reuters

Segundo o professor, tanto a extrema direita (Le Pen e Zemmour) como a esquerda (Mélenchon) já deram declarações elogiosas a Putin no passado e devem enfrentar problemas para se explicar agora.

Macron e Le Pen devem passar ao segundo turno, na opinião de Lehmann. A grande questão, diz ele, será um eventual apoio de Zemmour a Le Pen. O comentarista televisivo de extrema-direita tem feito a campanha dele dizendo que Le Pen não representa mais o setor conservador. "Vamos ver como ficaram as relações pessoais entre Le Pen e Zemmour e se haverá tentativa de reaproximação entre os dois", comenta o professor.

Veja o que propõem os principais candidatos:

Emmanuel Macron

Presidente da França fala sobre ataque russo à Ucrânia

Em seu primeiro mandato, Macron cortou impostos para empresas e para os ricos, facilitou a contratação e a demissão de funcionários e usou o orçamento para manter o país funcional durante a pandemia de Covid-19.

Centrista, ele é um defensor de uma União Europeia forte, e tentou liderar esforços diplomáticos para evitar a guerra na Ucrânia.

Emmanuel Macron visita uma padaria durante campanha eleitoral, em 31 de março de 2022

Ludovic Marin / AFP

Macron é o líder mais jovem da França desde Napoleão. A vitória dele em 2017 foi considerada surpreendente.

Durante sua presidência houve ondas de protestos. Os manifestantes expressaram a opinião de que Macron está desconectado da população em geral e de suas necessidades.

Marine Le Pen

Marine Le Pen em discurso em 1º de abril de 2022

Jean-Christophe Verhaegen / AFP

Marine Le Pen é a dirigente do partido de extrema direita mais tradicional da França, o Assembleia Nacional.

Ela vai concorrer à presidência do país pela terceira vez. Em 2012, ficou em terceiro. Em 2017, em segundo, atrás de Macron.

Le Pen tem trabalhado nos últimos anos para melhorar a imagem do partido dela, que era visto como racista e xenofóbico.

Tradicionalmente, ela deu declarações contra a União Europeia. Recentemente, no entanto, ela tem evitado criticar o bloco –só afirma que mudaria a moeda da França.

Le Pen tenta atrair um número maior de eleitores, mas ao mesmo tempo ela perdeu apoiadores para um novo concorrente, Eric Zemmour (veja abaixo).

Em 2014, ela recebeu um empréstimo de um banco russo para financiar a campanha de 2017, o que pode ser problemático neste ano.

Jean-Luc Mélenchon

Jean-Luc Mélenchon durante discurso em Paris em em 20 de março de 2022

Thomas Padilla/AP

É o único candidato de esquerda que aparece entre os líderes nas pesquisas. Ele é do partido França Insubmissa, e tenta mostrar que a candidatura dele é popular e contrária à direita.

Mélenchon prometeu congelar preços, de produtos, aumentar salários e fortalecer os serviços públicos.

Entre alguns de seus apoiadores, ele tem o apelido de "Melen-show", por sua capacidade retórica e poder de juntar multidões –ele fez um grande comício em Paris em 20 de março.

O objetivo dele é juntar a esquerda francesa após a decadência dos socialistas franceses nos últimos anos.

Desde 2012 a esquerda não chega ao segundo turno na França.

Ele se candidatou em 2017, mas ficou de fora da votação final. Agora, em 2022, ele tenta se colocar como o candidato anti-Macron.

Eric Zemmour

Eric Zemmour dá entrevista durante visita a um frigorífico, em 1º de abril de 2022

Bertrand Guay/AFP

Zemmour é escritor e participante de programas de TV. Já era conhecido como nacionalista de extrema direita contrário a imigrantes e a muçulmanos.

Ele chegou a aparecer em segundo nas pesquisas, mas caiu.

Zemmour é filho de judeus da Argélia. Ele se apresenta como um exemplo de pessoa que foi integrada à sociedade francesa no pós-guerra –segundo ele, a França é hoje um país em decadência, e a civilização do país é torpedeada pela influência dos muçulmanos, que conseguem fazer isso porque não há controles para imigrantes.

Ele afirma que quer retomar as fronteiras e que deveria ser proibido nomear crianças como Maomé.

Ele já criticou o que chama de feminização da sociedade, e quer que crianças com deficiências sejam enviadas a “escolas especiais”.

Em setembro de 2020, chegou a dizer que preferia uma aliança com a Rússia, que ele diz ser um parceiro mais confiável que os EUA, Alemanha e Reino Unido.

Valerie Pecresse

Valerie Pecresse em evento de sua campanha, em 1º de abril de 2022

Clement Mahoudeau / AFP

Foi ministra duas vezes. É atualmente a líder do governo da região de Paris. Ela tenta se mostrar como uma mistura de Margaret Thatcher (até mesmo se intitula dama de ferro) com Angela Merkel.

Pecresse participou dos governos dos presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Durante a pandemia, criticou Macron por ter aumentado os gastos governamentais.

A candidata defende acabar com a semana de 35 horas de trabalho e aumentar a idade mínima de aposentadoria para 65 anos (hoje são 62).

Nos últimos tempos, tem dado declarações mais duras sobre imigrantes e também sobre muçulmanos na França (disse que proibiria as mães que acompanham os filhos em viagens escolares de usar o véu, e radicalização seria motivo para demissão).

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Fonte: G1

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