Quem é o bilionário pró-Rússia Viktor Medvedchuk, usado como moeda de troca na guerra da Ucrânia

Por Rogerio Magno em 18/04/2022 às 14:03:42
Segundo a revista Forbes Ucrânia, ele está entre as personalidades mais ricas do país, com uma fortuna avaliada em R$ 3 bilhões (US$ 620 milhões). Viktor Medvedchuk em imagem divulgada no dia 12 de abril de 2022

Reprodução/Forças armadas da Ucrânia

Em meio aos combates do segundo mês de invasão russa, um vídeo divulgado nesta segunda-feira (18) pelas Forças Armadas da Ucrânia chama a atenção. Nele aparece o empresário bilionário Viktor Medvedchuk, detido pelas tropas de Kiev na semana passada, pedindo ao governo russo que sua liberdade seja trocada pela vida de soldados e civis ucranianos.

No mesmo dia, a televisão pública russa exibiu um vídeo de dois prisioneiros identificados como sendo os britânicos Shaun Pinner e Aiden Aslin. Nas imagens, os dois homens detidos pelas forças armadas russas pedem ao primeiro-ministro britânico Boris Johnson que negocie sua liberação em troca do oligarca Medvedchuk.

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O homem no centro dessa troca de reféns é um empresário ucraniano próximo de Vladimir Putin. Segundo a revista Forbes Ucrânia, ele está entre as personalidades mais ricas do país, com uma fortuna avaliada em R$ 3 bilhões (US$ 620 milhões).

Medvedchuk era considerado o principal homem do governo russo em Kiev e um dos grandes apoiadores do movimento pró-russo na Crimeia e em Donbass.

Um aliado leal, parte da família

O bilionário de 67 anos tem estreitas relações com Vladimir Putin desde o início dos anos 2000, quando o atual chefe de Kremlin começou seu primeiro mandato.

O advogado ucraniano "sempre foi bem próximo de Vladimir Putin e foi por muito tempo seu conselheiro em relação para os assuntos da Ucrânia", explica a especialista em geopolítica da Rússia e professora da Universidade de Montpellier Carole Grimaud Potter.

Medvedchuk se vangloria de ter Putin como padrinho de uma de suas filhas. Uma relação familiar que, "nesta cultura de clãs que caracteriza as repúblicas pós-soviéticas, subentende ligações de lealdade e amizade que vão muito além do vínculo formal", explica uma reportagem do jornal Le Monde.

O bilionário e o presidente russo foram fotografados juntos em diversas ocasiões ao longo dos anos, muitas vezes participando de eventos luxuosos como a corrida de Fórmula 1 em Sochi.

Nesta foto de arquivo de 18 de julho de 2019, o magnata ucraniano Viktor Medvedchuk, à esquerda, fala com o presidente russo Vladimir Putin durante reunião em São Petersburgo, Rússia

Mikhail Klimentyev/Sputnik/Pool do Kremlin via AP

Parte do clã de magnatas de Kiev, o empresário se aproximou da vida política e foi eleito deputado no parlamento da Ucrânia no final dos anos 1990. Em 2002, ele se torna um dos homens mais poderosos do país ao assumir a posição de chefe de governo do presidente ucraniano Leonid Kuchma, e é considerado os olhos e ouvidos de Putin dentro do governo da Ucrânia.

Após a derrota do candidato pró-russo Viktor Yanukovych à presidência, o empresário é acusado de abuso de poder e lavagem de dinheiro e se afasta da política, mas volta em 2012, denunciando a aproximação entre a Ucrânia e a União Europeia.

O empresário funda, então, o partido político pró-russo "Plataforma de oposição pela vida", que até o início da guerra tinha cerca de 30 deputados eleitos no Parlamento.

Medvedchuk também controlava três canais de televisão na Ucrânia, acusados pelo governo de Zelensky de espalharem propaganda russa no país.

Em 2021, as emissoras foram fechadas e apontadas como "um dos instrumentos de guerra contra a Ucrânia". O governo de Kiev também sequestrou bens de sua família, como um oleoduto que transportava petróleo russo para a Europa.

De acusado da Justiça a prisioneiro de guerra

Oligarca Viktor Medvedchuk é em foto do Gabinete do Presidente da Ucrânia, de 12 de abril de 2022

Escritório Presidencial da Ucrânia via AP

Em maio de 2021, o empresário é acusado de traição ao Estado ucraniano e tentativa de roubo de bens da Crimeia e passa a viver em prisão domiciliar em Kiev, apesar de rejeitar os crimes.

No início deste ano, enquanto a invasão russa era apenas uma possibilidade, os Estados Unidos acusaram Medvedchuk de estar envolvido com os serviços de inteligência russos e o apontaram como nome possível para assumir o poder no país em caso de ocupação do governo Putin.

Após a invasão russa, em fevereiro, o empresário conseguiu fugir de sua casa em Kiev e passou mais de um mês desaparecido, enquanto a guerra devastava cidades ucranianas inteiras.

Na última terça-feira (12), no entanto, os serviços secretos ucranianos encontraram o magnata em seu esconderijo e anunciaram sua captura com uma foto em que ele aparece, magro, vestido em roupas militares.

As forças ucranianas comemoraram a prisão: "você pode ser um político pró-Rússia e trabalhar para o Estado agressor durante anos. Você pode fugir. Você pode até usar um uniforme ucraniano para passar despercebido. Mas isso irá te ajudar a escapar da punição? Absolutamente não", afirmava o texto publicado no aplicativo Telegram após sua prisão.

Apesar do texto prometendo sua punição, na sequência o prisioneiro foi oferecido como moeda de troca pelo presidente ucraniano por soldados e civis presos na Rússia. No 54° dia de combate, a oferta feita agora pede a liberação dos ucranianos cercados pelo exército russo em Mariupol.

Para a especialista Grimaud Potter, a proposta pode surtir efeito. "Acho que Putin teria interesse em fazer esta troca pois Medvedchuk é um amigo próximo", afirma, "Mas talvez ele queira ganhar tempo e não fazer isso sob a pressão ucraniana, mas fazer a troca em outro momento, sob outras circunstâncias", pondera.

Fonte: G1

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