Para eles, com o encerramento do perĂodo mais crĂtico provocado pela doença, a imunização precisa ser mantida e ampliada, chegando a grupos ainda pouco protegidos pelos imunizantes, como as crianças.
Integrante do comitĂȘ estratégico de especialistas em vacinação da OMS, a professora da Universidade Federal de GoiĂĄs Cristiana Toscano acompanhou de perto o desenvolvimento e a utilização das vacinas contra a covid-19. Com o fim da emergĂȘncia sanitĂĄria, a infectologista considera que, além de lembrar que a doença não vai desaparecer, é preciso reforçar que a vacinação continua tendo importância."Estamos em uma situação que estĂĄ mudando para o que chamamos de rotina, mas a gente vai continuar vendo a circulação e a ocorrĂȘncia da doença. A gente vai continuar precisando manter a vacinação em dia, principalmente nos grupos de maior risco", afirma ela.
A infectologista, que também é membro da Sociedade Brasileira de Imunizações, destaca que, por conta das vacinas, não se espera mais tantas mudanças do cenĂĄrio de transmissão do vĂrus e da doença, o que possibilitou o fim da emergĂȘncia sanitĂĄria, na sexta-feira (5). Mesmo assim, a circulação da variante Ômicron e suas subvariantes torna as doses de reforço indispensĂĄveis.
"Com a variante Ômicron e suas subvariantes derivadas, a gente precisa de trĂȘs doses, pelo menos, para ter a proteção contra a doença grave e morte. E, nos grupos de maior risco, a gente precisa de reforços periódicos, conforme as orientações especĂficas para cada grupo", afirma ela.
"Sim, é uma boa notĂcia. Sim, é importante a gente aprender o que a gente tem aprendido com essa experiĂȘncia, e muito importante que a gente avance em relação ao aumento das coberturas vacinais, não só de covid, mas de outras doenças prevenĂveis por vacinas, e nos preparemos para outras emergĂȘncias sanitĂĄrias de saĂșde pĂșblica no mundo todo".
Desde o inĂcio da vacinação contra a covid-19, 13,3 bilhões de doses de vacinas foram aplicadas em todo o mundo, segundo a OMS. No Brasil, mais de 514 milhões de doses foram aplicadas, segundo o Ministério da SaĂșde, e mais de 166 milhões de pessoas tomaram ao menos duas doses.
A coordenadora do Observatório de SaĂșde da Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de SĂĄ Earp Neto (Unifase), PatrĂcia Boccolini, lembra que, apesar de as vacinas terem possibilitado o fim da emergĂȘncia sanitĂĄria, muitas pessoas foram privadas do acesso a elas em todo o mundo. Entre essa população, estão as crianças que não foram levadas por seus responsĂĄveis para serem vacinadas.
"Dados do próprio Observa Infância que a gente levantou mostram que a cobertura vacinal para crianças de 3 e 4 anos não chegou a 20%. A gente tem uma cobertura muito baixa para esse pĂșblico. E, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da SaĂșde, em 2022, a gente teve 550 mortes de crianças por covid".
PatrĂcia Boccolini destaca que é preciso continuar e intensificar o esforço para que as vacinas cheguem a todos os paĂses e a toda parcela da população dentro de cada paĂs, corrigindo as discrepâncias que existem atualmente.
"A gente tem que ter em mente que a mensagem do comitĂȘ é que os paĂses continuem vacinando e continuem combatendo desinformação e fake news sobre vacinas, principalmente focados na covid-19. A gente vai conviver muito com o vĂrus. Não podemos deixar que as coberturas vacinais caiam e precisamos ampliar as coberturas vacinais das crianças menores de 5 anos".
Virologista responsĂĄvel pelo sequenciamento da variante Gamma antes do momento mais crĂtico da pandemia no paĂs, o pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca comemora o fim da emergĂȘncia sanitĂĄria, que causou mais de 700 mil mortes no Brasil. Apesar de a notĂcia ser "um alento", ele defende que o trabalho de vigilância genômica deve continuar.
"A gente precisa continuar monitorando pelo menos um percentual desses casos ao longo do tempo para que a gente veja se o vĂrus vai, em algum momento, evoluir de maneira que se torne uma ameaça. Mas, nesse momento, essa é uma informação muito boa, uma notĂcia muito boa", afirma ele.
"A gente continua vendo o vĂrus evoluir, com diversas linhagens surgindo, às vezes, até com aumento do nĂșmero de casos. Mas não estamos vendo um avanço significativo no aumento de casos graves".
Fonte: AgĂȘncia Brasil