Produtores investem em plantação de cana-de-açúcar irrigada para fazer cachaça artesanal no sertão potiguar

Por Rogério Magno em 27/09/2020 às 09:56:49
Primeira colheita no Vale do Açu deve acontecer ainda em 2020, segundo empresários. Plantação de cana-de-açúcar no Vale do Açu, no Oeste potiguar

Reprodução/Inter TV Costa Branca

Em meio a vegetação da caatinga, o verde do canavial se destaca. A plantação de cana-de-açúcar fica em uma propriedade na zona rural de Assú, no Oeste potiguar. Os dois hectares plantados se desenvolvem de forma satisfatória. Quem teve a ideia de começar o cultivo no Vale do Açu foi o engenheiro agrônomo Antonez Aquino.

"Não é comum no semiárido do nordeste o cultivo de cana-de-açúcar. A gente vê nas regiões litorâneas do estado, na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Quando você adentra para o sertão, você não tem um plantio de cana por causa das condições climáticas. A precipitação anual é de 400 mm de água por ano. A cultura precisa de pelo menos 1200 mm", explica o produtor.

Para resolver a barreira da falta de chuva periódica e viabilizar o plantio, o canavial é irrigado diariamente por meio da técnica de gotejamento, onde a água é aplicada de forma pontual através de gotas diretamente ao solo.

A irrigação nas lavouras de cana-de-açúcar ainda é pouco utilizada. Mas esse processo tem sido intensificado nos últimos cinco anos e interfere diretamente na produção.

No Rio Grande do Norte, a média de produtividade é de 47 toneladas por hectare - isso nas plantações de sequeiro, ou seja, aquelas que dependem da água da chuva. Com a irrigação, essa produtividade poderá ultrapassar as 100 toneladas.

Cana-de-açúcar produzida no Oeste potiguar será usada em fabricação de cachaça artesanal.

Reprodução/Inter TV Costa Branca

Outro benefício da irrigação é o aumento no número de ciclos de produção da cana. Enquanto no plantio tradicional a planta se desenvolve por cinco anos, com a irrigação, os ciclos podem chegar a até 12 anos para que o cultivo seja renovado.

Até o início do próximo período chuvoso, a expectativa do produtor é ampliar a área plantada, totalizando seis hectares de cana-de-açúcar. O que deve gerar uma produção entre 600 e 720 toneladas da matéria-prima pra cachaça. Toda a produção será destinada para a fabricação da bebida artesanal.

As primeiras plantas devem atingir o ponto certo para serem colhidas a partir de novembro deste ano. Enquanto a cana não cresce, os preparativos no alambique seguem na reta final. O maquinário para a produção da cachaça está praticamente pronto. A instalação do alambique de cobre, fundamental na fabricação da cachaça, foi um passo importante.

"A gente visitou vários engenhos na Paraíba, Pernambuco e Minas Gerais. Então foram várias visitas e conseguimos tirar o melhor de cada um para montar esse alambique aqui no Vale do Açu, bem no coração do Rio Grande do Norte", lembra George Darlos, sócio do projeto.

Produção de cana-de-açúcar com irrigação por gotejamento fica no Vale do Açu, no Oeste potiguar

Reprodução/Inter TV Cabugi

Segundo George, tudo vai funcionar como um ciclo fechado reunindo a produção da cana-de-açúcar com a fabricação da bebida num só lugar.

"A cana é irrigada aqui no nosso próprio terreno e a gente tem uma característica para retirar o melhor caldo é que a gente colhe e em menos de 24 horas é moída, fermentada e destilada no nosso alambique de cobre. Depois que sai o coração da cachaça, as outras partes podem ainda ser reprocessadas através da coluna de álcool e esse sub-produto se transforma em álcool combustível. É um ciclo fechado e nada se perde. Até o bagaço da cana, depois que a gente extrai, põe pra secar ao sol e a gente coloca na caldeira pra gerar vapor e destilar a próxima cachaça", diz.

A expectativa é que a cachaça feita no Vale do Açu comece a ser vendida a partir do próximo ano. O objetivo é ganhar o mercado mais exigente das cachaças artesanais.

"Toda nossa cachaça vai ser armazenada por no mínimo seis meses. A gente vai trabalhar com três madeiras de envelhecimento carvalho, uburana e jequitibá. A madeira incorpora um aroma, um sabor na cachaça que diferencia ela, torna mais elaborado, um produto gourmet", revela George.

Fonte: G1

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