Primeiro-ministro do Quirguistão renuncia ao cargo; país vive crise após denúncias de fraude eleitoral

Por Rogerio Magno em 06/10/2020 às 21:42:13
Resultado eleitoral foi anulado depois que manifestantes ocuparam o Parlamento. Uma pessoa morreu nos tumultos. Manifestantes limpam ruas em frente à sede do governo do Quirguistão em Bishkek, nesta terça-feira (6), após noite de protestos

Vyacheslav Oseledko/AFP

O primeiro-ministro do Quirguistão, Kubatbek Boronov, renunciou nesta terça-feira (6) em meio aos distúrbios e protestos que deixaram ao menos um morto e centenas de feridos no país. A ex-república soviética localizada na Ásia Central vive uma crise depois de denúncias de fraude que levaram à anulação dos resultados das eleições legislativas.

Boronov, próximo ao presidente Sooronbai Jeenbekov, foi substituído por um político libertado da prisão na segunda-feira pelos manifestantes, Sadyr Japarov, informou a assessoria de imprensa do Parlamento.

A medida foi decidida em uma reunião extraordinária dos congressistas ocorrida dentro de um hotel — a sede do Parlamento foi tomada por manifestantes. Pouco antes, a comissão eleitoral do Quirguistão anunciou que os resultados das eleições legislativas foram invalidados.

Madrugada de protestos

Policiais retiram barricada de ruas de Bishkek, capital do Quirguistão, na noite de segunda-feira (5)

Vyacheslav Oseledko/AFP

A nomeação de Boronov ocorreu após uma madrugada de fortes protestos na capital, Bishkek. Manifestantes invadiram a sede do governo e também libertaram da prisão o ex-presidente Almazbek Atambayev, rival de Jeenbekov.

Jeenbekov, de 61 anos e eleito em 2017, anunciou que havia ordenado às forças de segurança que não atirassem contra os manifestantes e que pediu à Comissão Eleitoral Central que "examinasse cuidadosamente todas as irregularidades e, se necessário, anulasse os resultados das eleições", o que aconteceu poucas horas depois.

Eleição parlamentar no Quirguistão é anulada

O controverso resultado das legislativas, com vitória dos partidos favoráveis ao presidente, levou milhares de opositores às ruas de Bishkek. Eles pediram a renúncia do presidente e a convocação de novas eleições.

Os confrontos com a polícia terminaram com pelo menos um morto e 686 feridos, segundo porta-vozes do Ministério da Saúde.

Rússia preocupada

Na tarde desta terça-feira, os confrontos pareciam se espalhar para outras regiões, embora o presidente afirme que tem a situação sob controle.

Jeenbekov é próximo da Rússia, cujo governo se diz "preocupado" e pediu às forças políticas do Quirguistão que "permaneçam na constitucionalidade" para encontrar "rapidamente uma solução". A base militar russa neste país anunciou que reforçou sua segurança.

Os Estados Unidos também pediram nesta terça que se evite a violência e se busque uma solução pacífica no Quirguistão, ao mesmo tempo em que admitiram sua preocupação pela gestão das legislativas de domingo.

"Pedimos a todas as partes que se abstenham de exercer a violência e resolvam a disputa eleitoral pela via pacífica", disse um porta-voz do Departamento de Estado.

Embora a situação esteja mais tranquila nesta terça do que na noite anterior na capital, os manifestantes mantiveram o controle da sede do governo e outros prédios públicos.

Diante dos assaltos, muitos comércios permaneceram fechados. Segundo a imprensa local, houve protestos em algumas províncias com várias minas de ouro e de carvão — importantes fontes de renda para o país — que foram controladas ou paralisadas pelos assaltantes.

'Restaurar a lei'

Manifestante ergue bandeira do Quirguistão diante de multidão que protesta em Bishkek em 5 de outubro

Vyacheslav Oseledko/AFP

A manifestação foi convocada por cinco partidos que não alcançaram os 7% necessários para entrar no Parlamento.

Atambayev estava à espera de um julgamento sob acusações de organizar confrontos e assassinato, vinculadas à sua prisão em 2019, quando uma onda de violência também ameaçou desestabilizar o país.

Os manifestantes libertaram Atambayev "sem fazer uso da força nem de armas", afirmou à AFP um de seus apoiadores, Adil Turdukuov.

Esses protestos lembram os de 2010 e 2015, que derrubaram as autoridades, acusadas de corrupção e concentração de poder e que também foram marcados por assaltos.

Nesta terça, vários líderes da oposição, entre eles um ex-primeiro-ministro, anunciaram que formaram um "conselho de coordenação" destinado a "restaurar a estabilidade e a lei".

Rodeado por governos autoritários, o Quirguistão, um país pobre, é uma exceção democrática na Ásia Central — embora as transições políticas sempre tenham sido agitadas.

Fonte: G1

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