Agripino sugere aliança de centro-esquerda para 2022 e avalia nomes:

Em entrevista exclusiva ao Agora RN, ex-senador e ex-governador afirma que os partidos de centro devem saber interpretar o resultado das urnas em 2020 e buscar composição para 2022. Com isso, é possível, segundo ele, derrotar bolsonarismo e petismo no 1º turno

Por Rogério Magno em 01/12/2020 às 09:27:24

Um dos mais experientes políticos do Rio Grande do Norte, hoje com 75 anos de idade, o ex-senador e ex-governador José Agripino Maia, um dos principais líderes do partido Democratas no País, avalia que o eleitor deu um recado claro nas urnas nas eleições municipais de 2020.

Ao rejeitar, na maioria das cidades, candidatos identificados com o PT, com o presidente Jair Bolsonaro ou com o que se convencionou chamar de "nova política", o eleitor – segundo José Agripino – mostrou que "não gosta de extremismos nem de estrelismo".

Para Agripino, nas eleições de 2020, o "centro" voltou a ganhar protagonismo na política. O ex-senador analisa que o eleitor, ao depositar seu voto em candidatos de partidos como o Democratas, o MDB e o PSDB, demonstrou certo cansaço com os extremos, à direita e à esquerda, e com os "aventureiros".

Nesta entrevista exclusiva ao Agora RN, José Agripino Maia afirma que os partidos de centro devem saber interpretar o resultado das urnas em 2020 e buscar uma composição para as eleições presidenciais de 2022. Se isso for possível, junto ao que chama de "esquerda moderada", é possível derrotar o bolsonarismo e o petismo ainda no 1º turno das próximas eleições.

Especificamente sobre o Rio Grande do Norte, o ex-governador e ex-senador faz críticas à administração da governadora Fátima Bezerra. Para ele, a atual gestora estadual não tem obras para mostrar. Em relação a si próprio, ele afirma que está focado no fortalecimento do Democratas, descartando, neste momento, candidatura em 2022.

Confira a entrevista na íntegra:

AGORA RN – Como o senhor avalia o resultado das eleições municipais? Quem saiu ganhando, na sua opinião?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Se alguém ganhou essa eleição, foi a política. A política real, a política entendida pelas pessoas como a arte de fazer. Por que o Democratas cresceu, e cresceu muito? Afinal de contas, elegeu, por enquanto, quatro prefeitos de capitais, e capitais muito importantes. E está a caminho da quinta capital, que é Macapá. Elegeu Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Florianópolis. Elegeu por conta da qualidade das gestões. Quem ganhou a eleição foi a política capaz de produzir gestão com satisfação do eleitor. O eleitor votou na qualidade do gestor. Quem apoiou quem? Pouco importa.

AGORA RN – Candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro não tiveram êxito. Por quê?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Jair Bolsonaro está em desprestígio não é por causa do resultado da eleição. É por conta da sua ação como presidente da República. Ele é um presidente errático. Os conceitos dele até que podem não ser condenados, mas o vaivém das opiniões, os conflitos desnecessários, as opiniões exageradas, excessivas, erráticas, isso sim, estão fazendo com que Bolsonaro esteja em baixa.

AGORA RN – O PT também teve um resultado ruim.

JOSÉ AGRIPINO MAIA – O PT, desde o "Petrolão", vem entrando em queda. Desta vez, atingiu o ápice da queda, porque não fez um único prefeito em capital. Nas cidades de porte médio, perdeu em quase todas as disputas.

AGORA RN – O que explica as derrotas do bolsonarismo e do petismo?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – As derrotas do PT e de Bolsonaro não são medidas pelo resultado da eleição. A eleição de agora foi produto de qualidade de gestão e uma vitória da política. Aquela história da novidade, do "vamos inventar o novo", do "vamos testar modelos diferentes"? isso mostrou que não deu certo. Basta ver no Rio Grande do Norte. As pessoas que ganharam a eleição dois anos atrás apoiaram candidatos que perderam feio. Foi derrota deles? Pode ter sido e pode não ter sido.

AGORA RN – As urnas em 2020 deram um recado para esses políticos novos?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Foi uma coisa frustrante. O eleitor votou (dois anos atrás) pensando que fosse acontecer alguma coisa, e a nova política não produziu resultado nenhum. Essas pessoas, que apoiaram candidato A, B ou C, não produziram nenhum aumento ou resultado favorável para essas candidaturas. Eles saíram mal.

AGORA RN – Em 2020, houve uma vitória do centro, portanto?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – O veredito foi dado. Isso é pacífico. O eleitor deu demonstrações de que não gosta de extremismos nem estrelismos. O centro vai voltar a ocupar o lugar da política. E ganhou a eleição. Na política, os partidos de centro é que brilham. Quem cresceu nessa eleição? O Democratas cresceu nessa eleição, no Rio Grande do Norte e no Brasil, como nenhum outro. O PSD e o PP, que são de centro, também cresceram. O MDB e o PSDB, que são os partidos detentores do maior número de prefeitos, caíram bastante, mas continuam a ser – como partidos de centro – detentores de uma quantidade muito grande de prefeitos.

AGORA RN – Isso sinaliza algo para a eleição presidencial de 2022?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – O que precisa agora é que esses partidos de centro tenham juízo – e o Democratas vai buscar fazer essa interlocução – para escolher um candidato que reúna as forças do centro. Se isso for possível, a perspectiva de vitória de uma candidatura de centro logo no primeiro turno em 2022 é muito provável.

AGORA RN – Esse movimento vai se repetir no Rio Grande do Norte? O senhor crê em uma união das candidaturas de centro?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – O Rio Grande do Norte vai ser muito efeito do que vier a acontecer no País. É muito provável que haja uma sintonia na coligação nacional com as coligações estaduais. Se MDB, PSDB, Democratas e PDT fizerem uma aliança de centro-esquerda para 2022, é muito provável que isso se reproduza aqui nos estados, passando pelo Rio Grande do Norte. Inverter a ordem e dizer que vamos fazer uma coligação com partidos A, B ou C, sem olhar a coligação nacional, é precipitado.

AGORA RN – O senhor acha possível uma aliança de centro-esquerda?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Por que não uma aliança com o PDT de Ciro Gomes, que é um sujeito centrado, um homem de esquerda moderada? Não é nenhum PSOL, PT, PCdoB? Eu fui colega governador de Ciro Gomes e sei que ele é um bom gestor, bom administrador, uma figura muito inteligente. Já o apoiei inclusive como candidato a presidente da República. Não excluo a possibilidade de uma aliança com Ciro Gomes. Ou ele recebendo nosso apoio ou ele apoiando um candidato nosso de centro-esquerda, puxando para ideias mais avançadas.

AGORA RN – Aqui no RN, alguns nomes despontam como possíveis candidatos representantes desse centro, como Ezequiel Ferreira, Fábio Faria, Rogério Marinho e Carlos Eduardo Alves. São nomes que se encaixam?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – A especulação é livre. Agora dizer que essas figuras são fortes candidatos? São pessoas ligadas ao presidente Bolsonaro, que eu não acredito que vá ter voto nem para se eleger, dirá para transferir para terceiros. Mas isso é uma avaliação preliminar. Cada qual tem o seu valor, que será avaliado mais na frente. Por enquanto, essas perspectivas de alianças, de coligações, não passam de meras cogitações.

AGORA RN – Como o senhor analisa a gestão da governadora Fátima Bezerra?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Enfrenta muitas dificuldades. Ela tem lutado para obter uma única meta: atualizar o pagamento de pessoal. Não há nenhuma obra, nenhuma coisa significativa até agora que o governo dela possa exibir. Garibaldi Alves Filho foi o governador das adutoras; eu fui o governador do turismo, das estradas. Cada qual teve uma marca. A governadora Fátima, infelizmente, até agora, não pode exibir absolutamente nenhuma marca e nenhum projeto. Ela está preocupada – e a preocupação é positiva – em atualizar o pagamento de pessoal.

AGORA RN – Acha possível uma recuperação política da governadora?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – As urnas acabaram de mostrar. No RN, o PT teve um desempenho medíocre na capital e, no interior, fez três prefeitos. O RN tem 167 municípios. O PT fez 2% dos municípios. Está enfrentando grande dificuldade no campo administrativo e no campo político. Acabou de verificar. Espero que ela tenha condições de se recuperar e fazer um governo que o povo espera que ela venha a fazer.

AGORA RN – E quanto ao senhor? Cogita voltar a disputar um mandato?

JOSÉ AGRIPINO MAIA – Estou focado na construção do Democratas e nas conversas com os meus companheiros de Brasília. Eu tenho mantido sintonia permanente com os meus companheiros de Brasília. Com o presidente do partido, ACM Neto, que me sucedeu; com o secretário-geral; com os governadores; com os prefeitos eleitos. Tenho mantido distância da política, no plano local, com objetivo de candidatura. Estou preocupado em estruturar o nosso partido aqui no Estado, mantê-lo vivo. E está tendo êxito. O partido fez mais prefeitos do que tinha, mesmo não dispondo de nenhuma estrutura de governo. Então, as coisas estão caminhando bem e eu estou satisfeito com o trabalho.

Fonte: Portal Agora RN

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