Comissão da Câmara ouve Ernesto Araújo sobre importação de insumos e vacinas contra Covid-19

Por Rogerio Magno em 20/01/2021 às 17:15:37
Brasil tem dificuldades para importar ingredientes da China, usados nas vacinas, e doses prontas da Índia; postura diplomática seria um dos fatores. Comissão faz reunião 'informal' no recesso. A comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para debater o enfrentamento à pandemia da Covid-19 se reuniu nesta quarta-feira (20) para ouvir o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O encontro foi convocado para tratar das dificuldades de importação de insumos da China para produção de vacinas, além de doses prontas fabricadas na Índia.

O Brasil corre risco de precisar interromper o programa de imunização por conta desses atrasos na importação dos ingredientes e das vacinas prontas para aplicação. Fontes diplomáticas afirmaram à TV Globo, nos últimos dias, que a postura do governo Jair Bolsonaro no cenário internacional é um dos fatores desse atraso nos trâmites comerciais.

O colegiado fez uma reunião "informal" já que, oficialmente, o Congresso Nacional está em recesso até o início de fevereiro. O encontro por videoconferência começou às 16h10 e ainda não tinha terminado até a publicação desta reportagem.

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Além de Araújo, também foram convidados para a reunião o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco; o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas; e o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger. Diversos parlamentares participam da reunião.

Para fabricar as vacinas no Brasil, tanto o Instituto Butantan – responsável pela CoronaVac – quanto a Fiocruz – que produz o imunizante de Oxford – precisam do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) que vem da China.

O país asiático, no entanto, foi alvo de ataques frequentes de membros do governo Jair Bolsonaro, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e o próprio chanceler Ernesto Araújo.

Em outubro, Bolsonaro chegou a cancelar um acordo de compra de doses da CoronaVac pelo Ministério da Saúde e afirmou que não compraria vacinas produzidas na China. Na ocasião, o presidente também aproveitou para rivalizar com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) – o Butantan é vinculado ao governo paulista.

Na terça (19), a Fiocruz informou que a entrega da vacina de Oxford contra a Covid-19 vai atrasar de fevereiro para março devido à demora na chegada do IFA.

As duas vacinas, CoronaVac e de Oxford, são as únicas autorizadas até o momento pela Anvisa para uso emergencial no Brasil. Apenas doses da CoronaVac estão disponíveis atualmente no país – a vacinação começou nesta semana com esses frascos, que ainda são insuficientes para atender à totalidade dos grupos prioritários.

Nesta terça, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez uma reunião com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming. Segundo Maia, o diplomata disse não ver obstáculo político, mas sim técnico, na demora para envio ao Brasil de insumos chineses para a produção de vacinas contra a Covid-19.

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Histórico

O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), já usou suas redes sociais para criticar duramente o país, além de culpar a China pela pandemia.

Em novembro do ano passado, ao comentar sobre a tecnologia de internet móvel de quinta geração, o deputado afirmou que o governo brasileiro declarou apoio a uma “aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”. Em seguida, apagou a postagem.

Na ocasião, a embaixada da China reagiu às mensagens do parlamentar. Nota divulgada em novembro do ano passado afirmava que as mensagens de Eduardo Bolsonaro são “infundadas” e “solapam” a relação entre os dois países.

Na época, o Itamaraty não reprovou as declarações de Eduardo Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores enviou uma carta à embaixada da China reclamando do que considerou um conteúdo "ofensivo e desrespeitoso" da resposta dada ao deputado.

Ainda no governo, o hoje ex-ministro da Educação Abraham Weintraub publicou em abril do ano passado uma postagem em rede social com insinuações de que a China poderia se beneficiar, de propósito, da crise mundial causada pelo coronavírus.

No texto, usou o jeito de falar do personagem "Cebolinha" da Turma da Mônica, que troca o "L" pelo "R" para ironizar o sotaque chinês.

Após reação negativa da embaixada chinesa, Weintraub apagou as postagem. Por causa disso, é alvo de um inquérito na Justiça Federal pelo crime de racismo.

Fonte: G1

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