Depois de superar descontrole da Covid com lockdown, Portugal anuncia flexibilização

Por Rogerio Magno em 11/03/2021 às 21:13:58
Estratégia é dividida em quatro fases e só depois da Páscoa o país deverá respirar mais aliviado. Primeira fase entra em vigor já na próxima segunda-feira (15). Centro de Lisboa nesta quinta-feira (11)

Reuters/Pedro Nunes

O governo português apresentou, nesta quinta-feira (11), o plano para retomada das atividades paralisadas pelo lockdown, que já dura dois meses.

Entenda o que é lockdown

A estratégia é dividida em quatro fases e só depois da Páscoa o país deverá respirar mais aliviado. A primeira fase entra em vigor já na próxima segunda-feira, 15 de março:

Creches e escolas reabrem, mas apenas para alunos dos ensinos infantil e fundamental.

O governo promete testagem em massa em todos os estabelecimentos de ensino públicos e particulares, para alunos e profissionais.

Ainda na primeira fase, reabrem cabeleireiros, e similares, pequenos comércios apenas com venda na porta, livrarias, bibliotecas e lojas de automóveis.

No dia 5 de abril, reabrem lojas de até 200 m², restaurantes apenas para atendimento em áreas externas e com máximo de quatro pessoas em conjunto, museus e monumentos culturais.

No dia 19 de abril, voltam às aulas alunos dos ensinos médio e superior, reabrem teatros, auditórios, cinemas, lojas do serviço público.

Restaurantes voltam a poder atender em áreas internas, mas limitados a 4 pessoas. Também vão ser permitidos eventos a céu aberto, com lotação a definir pelas autoridades, celebrações como casamentos e batizados com máximo de convidados de 25% da capacidade do espaço.

Em 3 de maio reabrem as academias e o número de pessoas permitidas dentro dos estabelecimentos passa a aumentar gradativamente.

O plano foi apresentado em coletiva de imprensa pelo primeiro-ministro, António Costa, que reforçou a necessidade de cautela. “Se hoje estamos muito melhor do que estávamos há duas semanas, continuamos ainda a estar numa situação pior do que aquela que estávamos a 11 de setembro, quando decretamos o estado de contingência, e a 4 de maio do ano passado, quando iniciamos o primeiro desconfinamento”, disse Costa.

“De nossa parte, adotamos um programa que é conservador, a conta gotas, de forma a não correr riscos. Sendo prudentes pela saúde pública, significa sacrifícios, um peso acrescido sobre o futuro da nossa economia, mas julgamos que, como sempre, a vida, a saúde, são os bens que temos que colocar em primeiro lugar”, declarou o primeiro-ministro.

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Reuters/Pedro Nunes

Retomada não garante recuperação

Portugal, que vinha se recuperando da crise global de 2011, quando teve que recorrer ao empréstimo pelo programa da troika, fechou 2020 com queda de 7,6% na economia, considerada grave por especialistas.

Uma das apostas para reverter o quadro é o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mecanismo de apoio criado pela União Europeia para que os estados-membros possam sair da crise causada pela pandemia. Portugal terá acesso a mais de 16 bilhões de euros depois que o plano, que deve ser apresentado a Bruxelas até abril, for aprovado.

Para a pesquisadora e economista Susana Peralta, o problema é a situação em que as pessoas mais afetadas pela crise atual já se encontram.

“Quando olhamos para aquilo que Portugal gastou ao longo de 2020 para apoiar empresas e famílias, verificamos que foi um dos países da União Europeia que menos gastou em apoios diretos para a economia e isso leva a que encontremos muitas situações de privação, pessoas em dificuldade, porque não foram recompensadas pela sua perda de rendimento. O Programa de Recuperação é outra coisa, vai vir em outro momento, ainda não chegou esse dinheiro, não é isso que vai pagar as contas que as pessoas ficaram sem pagar”, diz Peralta à RFI.

A economista é coordenadora do estudo “Portugal, Balanço Social 2020: Um retrato do país e dos efeitos da pandemia”, apresentado no início deste mês, que traz uma análise preliminar sobre a situação. Entre as conclusões, Peralta aponta que “os setores (profissionais) mais afetados são os que têm características mais precárias, com trabalhadores menos bem pagos, contratos a prazo, mais imigrantes, com menores níveis de educação”.

Peralta analisa que o governo português precisa definir “prioridades” e cita a as medidas para a educação como exemplo do que ainda soa como “improvisado” no planejamento.

“O Plano de Recuperação e Resiliência não tem nada lá para o que seria uma verdadeira recuperação das aprendizagens, que era uma coisa que deveria ser a médio e longo prazo, para saber como botar de novo essas crianças "back on track". A única coisa que há lá são € 500 milhões para computadores. Isso não se resolve só com computadores, são precisas horas de interação com pessoas que ensinem”, diz a pesquisadora.

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Apoios financeiros mantidos

Para além do PRR, o governo já tinha decidido retomar e se comprometeu a manter os apoios financeiros emergenciais até enquanto durar a pandemia. Durante a divulgação do plano de desconfinamento, o primeiro-ministro português confirmou que nos próximos dias serão anunciados novos auxílios.

Profissional da área do turismo em Lisboa, o brasileiro Rafael Salavessa conta que, para além de contar com os apoios do governo, vai precisar se “reinventar”. “Já estamos mudando o foco da nossa empresa para atender o público britânico. Antes não tínhamos necessidade pelo volume de brasileiros visitando Portugal, mas já estamos visando o europeu em geral. Foi uma adaptação que tivemos que fazer por conta da incerteza em relação ao Brasil”, diz Salavessa à RFI.

Mesmo com a expectativa para os meses do verão europeu, tradicionalmente fortes para o turismo, o primeiro-ministro considera que vai ser preciso manter a calma. “O que vai acontecer a partir de agora, como desde o primeiro dia da pandemia, depende de todos nós, da forma como mantivermos a disciplina individual do uso da máscara, higiene das mãos, distanciamento físico, do cumprimento escrupuloso das regras”.

Fonte: G1

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