G1
Aliança na Nicarágua surge depois que outros sete pré-candidatos da oposição foram presos. Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega (dir.), sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo (esq.) e filha Camila Ortega (cen.) em celebração dos 40 anos da revolução sandinista, em foto de junho de 2019Inti Ocon/AFPA improvável aliança entre um ex-chefe da contrarrevolução na Nicarágua e uma ex-miss resulta na nova chapa política que desafiará em novembro o ditador Daniel Ortega, já que sete pré-candidatos da oposição estão presos pelo regime. Óscar Sobalvarro, de 60, e Berenice Quezada, de 27, foram escolhidos candidatos, informalmente e sem primárias, pelo partido Cidadãos pela Liberdade (CxL).Ambos revelaram que não tinham intenção de concorrer às eleições e só aceitaram a candidatura diante das circunstâncias. O regime, que exerce domínio sobre o Conselho Superior Eleitoral e o Tribunal Eleitoral, tornou inelegíveis seus oponentes, sob a acusação de traição à pátria.Ex-comandante dos Contras, que na década de 1980 travaram uma luta armada contra o governo sandinista liderado por Ortega, Sobalvarro é empresário do setor pecuário e vice-presidente do CxL. Berenice foi Miss Nicarágua em 2017 e atua como modelo, sem nenhuma experiência política. Aliaram-se para tentar impedir um quarto mandato consecutivo de Ortega, de 75 anos.A chapa recebeu críticas de parte da oposição, por insistir num processo eleitoral fadado ao fracasso. “Apresentamos as candidaturas porque não queremos ceder ao governo, que poderia dizer que a oposição não quis concorrer”, alegou a presidente do partido, Kitty Monterrey.Vinte e nove opositores estão presos, outros foram forçados ao exílio. Sobalvarro defendeu a liberdade dos presos políticos e a restauração do direito de protesto aos nicaraguenses, “sem o temor de ser encarcerado por pensar diferente.”A aliança de direita tem como objetivo pôr fim ao regime comandado desde 2007 por Ortega e sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo. Enquanto a chapa opositora era lançada, o Parlamento, também controlado pelo presidente, aprovava mais uma de suas controversas leis para minar instituições democráticas.Desta vez, os alvos foram 24 ONGs, que perderam seu status jurídico e tiveram os bens confiscados pelo Estado. Entre elas, há 15 entidades médicas que criticaram a gestão do regime na pandemia do novo coronavírus. As cifras oficiais -- 9.600 infectados e 194 mortos -- são consideradas por grupos independentes subestimadas e fora da realidade.