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Para Andrei Kortunov, Putin talvez estivesse aberto a ouvir alguma voz de fora da Rússia, como Angela Merkel ou Xi Jinping. Para especialista, a liderança de Putin corre risco se ele for percebido como perdedor da guerra na UcrâniaReuters/Via BBCPara que a guerra na Ucrânia chegue a um fim, o presidente russo, Vladimir Putin, vai precisar ter alguma coisa para demonstrar ao seu povo que venceu a guerra na Ucrânia.A opinião é de Andrei Kortunov, especialista russo que ocupa o cargo de diretor-geral de um think-tank ligado ao governo russo.Compartilhe pelo WhatsAppCompartilhe pelo TelegramMinistro das Relações Exteriores da Rússia: "Estamos ouvindo, mas ninguém nos escuta""Na minha opinião, Putin vai precisar de alguma coisa para declarar vitória. Ele não pode aceitar a derrota. Porque politicamente isso é arriscado demais para ele, isso pode ter riscos muito grandes para a sua liderança. Ele precisa ter algo que permita que ele diga basicamente 'eu ganhei'", disse Kortunov em entrevista nesta quarta-feira (2) à BBC. Kortunov é diretor-geral do Russian International Affairs Council (Riac), órgão de consultoria em assuntos internacionais ligado ao ministério das Relações Exteriores e comandado por um ex-ministro de Putin.Por anos, Kortunov apoiou diversas políticas de Putin na Rússia, mas na entrevista concedida à BBC ele critica o presidente pela condução do conflito na Ucrânia.EUA anunciam força-tarefa para sufocar economicamente bilionários russos próximos à PutinLeia tambémTribunal de Haia começa a investigar a invasão russa a pedido de 39 países; Brasil não assinou requerimentoEntenda a importância da tomada de Kherson, a maior conquista da Rússia desde o começo da invasãoPolícia russa prende sobrevivente do cerco a Leningrado durante protesto contra a guerra na Ucrânia; veja vídeo"A minha lógica e a lógica dos líderes russos não coincidem completamente, porque para mim é muito difícil ver qualquer benefício que a Rússia possa ter dessa operação. E de qualquer forma os efeitos colaterais provavelmente serão muito mais sérios do que qualquer eventual ganho", disse o especialista.Kortunov acredita que será difícil chegar a um acordo de paz que apazigue os ânimos de Putin, da Ucrânia e da Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos)."É preciso haver algum equilíbrio. Talvez seja preciso haver formas alternativas de se criar um arranjo de segurança para a Ucrânia. Em vez de a Ucrânia entrar para Otan talvez ela possa se concentrar mais em entrar para a União Europeia", diz."Muito disso vai depender de os dois lados — e também o Ocidente, que é parte da equação — chegarem a algum tipo de solução que não será ideal, e que será criticada no campo moral, mas que pelo menos vai permitir que se ponha fim aos confrontos, que continuam a tirar vidas."O especialista avalia que o apoio a Putin dentro da Rússia cresceu desde o começo da guerra — já que muitos russos acreditam que esta é a "guerra certa" a ser lutada. "[A maioria dos russos acredita] que eles não estão combatendo o povo ucraniano, mas sim grupos extremistas que agora estão comandando o sistema na Ucrânia", diz.Merkel ou Xi JinpingPara Kortunov, não existe hoje nenhuma voz dentro do círculo de Putin que possa criticar o presidente e convencê-lo a mudar de rumo na Ucrânia.Mas ele acredita que há vozes fora da Rússia que poderiam ser ouvidas por Putin: como a da ex-chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da China, Xi Jinping.Presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, encontram-se durante uma reunião nos bastidores da cúpula do G20 em Buenos Aires, em 2019Sputnik / Mikhail Klimentyev / Kremlin via Reuters"Eu acho que [para mudar a opinião de Putin] precisa ser uma voz de fora, alguma pessoa que ele respeite e com histórico de relações pessoais com Putin, uma pessoa que pudesse demonstrar um pouco de empatia e ao mesmo tempo pudesse pedir mudanças na abordagem.""Eu pessoalmente acho que Angela Merkel [é a pessoa certa], porque ela conhece o problema ucraniano. Ela assinou o Protocolo de Minsk. Ela é respeitada na Rússia, na Ucrânia, na Europa, e ela pode ser a pessoa que pode ajudar a se encontrar essa solução. Essa seria a minha sugestão. Imagino que há outros que podem ser importantes. Talvez a China, talvez Xi Jinping.""Mas será difícil", ele conclui. Veja vídeos para entender o conflito entre Rússia e Ucrânia