Benefícios da homeopatia são "grandemente exagerados", aponta estudo

Por Rogerio Magno em 16/03/2022 às 16:42:23

Um novo estudo afirma que a prática da homeopatia tem benefícios “grandemente exagerados” devido à falta de evidência empírica de seus funcionamentos. Em outras palavras, o estudo afirma que a forma alternativa de medicina não tem testes que sigam o método científico de comprovação e traz poucos testes clínicos e, destes, houve o uso de métodos questionáveis que fizeram com que eles não fossem publicados em revistas e jornais de renome.

A homeopatia foi desenvolvida há cerca de 200 anos e é majoritariamente baseada no “princípio da similaridade” – basicamente, a crença de que uma substância que causa um certo sintoma em uma pessoa saudável terá um efeito curativo quando administrada a uma pessoa doente com sintomas similares.

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A prática da homeopatia tem pouca aceitação científica, de acordo com novo levantamento que concluiu uma ampla ausência da medicina alternativa em publicações de renome
A prática da homeopatia tem pouca aceitação científica, de acordo com novo levantamento que concluiu uma ampla ausência da medicina alternativa em publicações de renome (Imagem: Microgen/Shutterstock)

Para fundamentar a pesquisa, os especialistas queriam descobrir se os testes clínicos publicados seriam não representativos de todos os estudos científicos da homeopatia, mas sim de apenas uma parcela que relatava apenas seu lado mais positivo – o nome desta prática é “pesquisa por viés de confirmação”. Basicamente, isso significa que você já tem um resultado na sua cabeça, e busca apenas por dados que confirmem essa visão (automaticamente descartando estudos que desmentem essa ideia, ainda que corretos).

Vale lembrar que o viés de confirmação é um método amplamente usado por negacionistas das vacinas da COVID-19.

Desde meados de 2008, uma prática comum no meio científico é a publicação de testes clínicos em registros específicos como algo ético para os pesquisadores. Em outras palavras: não é algo obrigatório, porém a prática é aceita na comunidade como uma certificação de validade científica.

Entende-se por “método científico” a reprodução de um método de estudo em busca do mesmo resultado, de forma independente. Na prática, imagine que você fez uma descoberta e a encaminhou a uma revista científica. Esta revista mostrará seu estudo para outros pesquisadores, pedindo que eles reproduzam seu método e comprovem seu resultado. Isso se confirmando, então você tem um estudo com validação científica (a chamada “revisão por pares”). Se houver diferença, então revisões podem ser necessárias conforme o número e o grau de inconsistências.

Com isso em mente, os autores do estudo buscaram determinar três fatores: quantos testes clínicos registrados sobre homeopatia permanecem não publicados; se os resultados iniciais dos testes publicados permaneceram inalterados frente a testes cientificamente analisados e, finalmente, se o número de testes clínicos registrados de homeopatia é igual ao número de testes publicados.

Os cientistas do novo estudo – que é revisado pelos pares e, consequentemente, cientificamente aceito – procuraram nas principais bases e registros por testes clínicos de homeopatia conduzidos até abril de 2019. O que eles descobriram foi que, desde 2002, quase 38% dos testes permanecem não publicados, enquanto mais da metade (53%) dos testes de controle randomizado não foram registrados.

Finalmente, cerca de um terço dos testes de controle randomizado não passaram por qualquer registro.

Outra descoberta interessante foi a de que testes de homeopatia têm a tendência de serem registrados depois que começam, de forma retrospectiva, ao invés de antes do início, com progressão pró-ativa. E um quarto deles – 25% dos testes – alterou seus fatores e padrões conclusivos depois do registro.

Em resumo: pesquisadores da homeopatia tiravam uma conclusão primeiro, e registravam os estudos depois para refletir isso, quando o certo seria fazer o registro do estudo e atualizá-lo conforme os testes progrediram.

“A conclusão sugere uma preocupante falta de padrões científicos e éticos no campo da homeopatia, bem como um alto risco de viés de confirmação”, diz trecho do paper. “Ela também indicam que jornais que publicam testes de homeopatia não se adequam a políticas implementadas pelo Comitê Internacional de Editores de Jornais Médicos, os quais exigem que apenas testes registrados e com controle aleatório de população sejam publicados”.

Em outras palavras: testes clínicos de homeopatia não obedecem a padrões científicos estabelecidos e possuem um viés de confirmação que visa não incentivar o debate, mas sim confirmar benefícios que não são devidamente comprovados.

O paper completo está disponível no BMJ Evidence Based Medicine.

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Fonte: Olhar Digital

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