Guerra suspende aulas e destrói escolas na Ucrânia: 'é como no início da pandemia, mas não teremos para onde voltar'

Por Rogerio Magno em 20/03/2022 às 09:29:27
Ao menos 1,5 milhão de crianças tiveram de deixar o país, segundo a ONU. Escolas que não foram danificadas são usadas como refúgio para as pessoas desabrigadas. Ataques russos fazem aulas serem suspensas na Ucrânia

Nem as escolas escaparam dos ataques da Rússia no território da Ucrânia, iniciados em 24 de fevereiro. Em pouco mais de três semanas, 464 instituições de ensino foram danificadas ou totalmente destruídas, segundo o Ministério da Educação ucraniano.

Parte das que ainda estão funcionais tampouco têm servido ao ensino, conta Denys Ghanza, estudante de 22 anos, de Kiev.

"As aulas foram suspensas no começo dos ataques e não há previsão para serem retomadas. Muitas escolas estão sendo usadas como centro de suporte para a defesa e como refúgio para as pessoas desabrigadas", explica ele, que integra um conselho da Unicef para assuntos ligados à juventude.

Segundo Ganzha, o cenário se assemelha ao do início da pandemia de Covid-19, que também paralisou as aulas no país. "Algumas escolas estão tentando manter o contato com os alunos, como fizeram durante a pandemia. E o nosso Ministério da Educação está tentando manter cursos on-line e exibindo materiais de aula na TV ucraniana".

Mas, diferentemente de dois anos atrás, o ucraniano vê um cenário mais devastador.

"Agora, não sei se teremos para onde voltar quando tudo acabar".

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O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitorio Sorotiuk, diz que os ataques prejudicaram tanto os ucranianos quanto estrangeiros que estudam no país.

"Muitos estrangeiros vão estudar na Ucrânia. Indianos e paquistaneses estudam lá e estão sendo tratados pelos russos da mesma forma que os ucranianos. Muitos não conseguem sair do país. É uma verdadeira situação de guerra", explica Sorotiuk.

1,5 milhão de crianças deixaram o país

Parte daquelas que conseguiram fugir – 1,5 milhão, na estimativa da ONU – têm recebido, em alguns locais, apoio para dar continuidade aos estudos. Países como Hungria, Romênia e Itália estão abrindo vagas nas escolas para que os ucranianos não fiquem sem aulas.

"Essas crianças deviam estar na escola, não fugindo de uma guerra. O que elas estão perdendo agora pode não voltar nunca. Agora, é a hora de elas aprenderem, brincarem. A sala de aula é o lugar delas", opina o historiador e professor Euclides Marinho.

Para Marinho, que é especialista em conflitos históricos, é importante que as crianças e jovens sejam tiradas em segurança da zona de guerra. Mas ele alerta que os países vizinhos que estão acolhendo os imigrantes ucranianos precisam dar máxima atenção para elas. "Será necessário um investimento que contemple a inclusão cultural, social e histórica destas crianças. Além de um apoio profissional e psicológico que apoie a adaptação desses estudantes num novo ambiente".

Outro ponto importante para o estudioso é que a cultura do país seja respeitada. "Nesta altura do conflito, não sabemos se estas pessoas jamais conseguirão retornar a seu país. Por isso mesmo, é preciso que elas tenham a chance de manter viva sua cultura. Se elas perdem isso, toda humanidade perde. E elas já perderam demais."

A psicóloga infantil Cecília Mello explica a profundidade do tema.

"Imagine ser tirado a força do seu país, deixando tudo para trás. Muitas destas crianças saem feridas, perdem familiares, amigos. Elas estão com o mesmo preparo mental para aprender que os estudantes locais? Ou mesmo com a mesma disposição que intercambistas? Elas vão absorver o conteúdo e as experiências escolares da mesma maneira? Dificilmente".

Ganzha também reflete sobre o acolhimento de ucranianos por outros países. "Espero que estas pessoas se coloquem no lugar de nós, ucranianos, e pensem como seria se fosse a situação inversa. Que isso desperte a solidariedade de todos, porque estamos precisando".

Fonte: G1

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