De acordo com a revista The Lancet, pacientes que participaram de um estudo preliminar da vacina russa contra o coronavĂrus desenvolveram uma resposta imune sem nenhum efeito colateral sério. Os resultados dos dois testes, conduzidos em junho-julho deste ano e envolvendo 76 participantes, mostraram que 100% deles desenvolveram anticorpos para a doença. As informações são do Estadão.
"Os dois testes de 42 dias – incluindo 38 adultos saudĂĄveis cada – não encontraram nenhum efeito adverso sério entre os participantes e confirmaram que as vacinas candidatas provocam uma resposta de anticorpos", afirma a publicação.
De acordo com a The Lancet, os testes iniciais sugeriram que a vacina Sputnik-V produziu uma resposta em um componente do sistema imunológico conhecido como células T. Os cientistas tĂȘm examinado o papel desempenhado pelas células T no combate à infecção por coronavĂrus, com descobertas recentes mostrando que essas células podem fornecer proteção de longo prazo do que os anticorpos.
No entanto, esses resultados preliminares não provam que a vacina, batizada de Sputnik V, protege efetivamente contra a infecção por covid-19, jĂĄ que outros estudos são necessĂĄrios, afirmam especialistas. "Ensaios grandes e de longo prazo, incluindo uma comparação com placebo, e monitoramento adicional são necessĂĄrios para estabelecer a segurança e eficĂĄcia a longo prazo da vacina para prevenir a infecção por covid-19", disse a The Lancet.
Comentando sobre os resultados dos testes em estĂĄgio inicial, o autor principal, Naor Bar-Zeev, do Centro Internacional de Acesso a Vacinas, da Escola de SaĂșde PĂșblica Johns Hopkins, disse que os estudos foram "encorajadores, mas pequenos". Bar-Zeev, que não esteve envolvido no estudo, disse que "a eficĂĄcia clĂnica de qualquer vacina covid-19 ainda não foi demonstrada".
Com os resultados agora publicados pela primeira vez em uma revista cientĂfica, a RĂșssia afirma que enfrentou seus crĂticos no exterior. "Com esta (publicação), respondemos a todas as perguntas do Ocidente que foram diligentemente feitas nas Ășltimas trĂȘs semanas, francamente com o objetivo claro de manchar a vacina russa", disse Kirill Dmitriev, chefe do Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), o fundo soberano da RĂșssia, que apoiou a vacina.
Dmitriev disse que pelo menos 3.000 pessoas jĂĄ foram recrutadas para o teste em grande escala da vacina Sputnik-V, lançado na semana passada, e os resultados iniciais são esperados para outubro ou novembro deste ano.
No dia 11 de agosto, as autoridades russas anunciaram que a vacina entrava na terceira e Ășltima fase dos ensaios clĂnicos, mas que não esperariam os resultados dessa fase, do qual "milhares de pessoas participam", jĂĄ que sua intenção era homologĂĄ-la em setembro.
O anĂșncio foi recebido com ceticismo por muitos pesquisadores e alguns paĂses como a Alemanha, que duvidaram da eficĂĄcia e segurança do imunizante, principalmente pela falta de dados pĂșblicos sobre os ensaios realizados no momento do anĂșncio.
O presidente Vladimir Putin também afirmou que a vacina garantiu "imunidade de longa duração" contra a doença.
A Sputnik V consiste em dois componentes diferentes, administrados em duas injeções com trĂȘs semanas de intervalo, segundo o estudo publicado na The Lancet. É uma vacina de "vetor viral": usa dois adenovĂrus humanos (uma famĂlia muito comum de vĂrus) transformados e adaptados para combater o covid-19.
Os estudos foram realizados entre 18 de junho e 3 de agosto por pesquisadores dos ministérios da SaĂșde e Defesa russos e financiados pelo primeiro.
Autoridades russas afirmam que jĂĄ estão em negociação com Brasil e Ăndia para a produção da vacina. A RĂșssia disse que espera produzir entre 1,5 milhão e 2 milhões de doses por mĂȘs de sua vacina potencial COVID-19 até o final do ano, aumentando gradualmente a produção para 6 milhões de doses por mĂȘs.
Segundo a OMS, existem 176 projetos de vacinas em andamento no mundo, dos quais 34 estão em fase de ensaio clĂnico, o que significa que jĂĄ começaram a ser testados em humanos. Destes, oito estão na fase trĂȘs, os mais avançados.
*Com informações do Estadão