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Manifestações violentas tomam as ruas do país que, há três dias, decretou seu 1º toque de recolher desde a Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da Covid-19. Polícia holandesa prende um homem em Rotterdam, em foto de 25 de janeiro de 2021Marco de Swart/APA Holanda vem registrando, já há três dias, violentos protestos após a imposição, no sábado (23), de um toque de recolher para conter o avanço da pandemia do Covid-19 no país. É a primeira vez que uma medida como essa foi tomada na região desde a Segunda Guerra Mundial.Episódios de violência, com saques, depredações e incêndios criminosos tomaram as principais cidades do país nesta semana e preocupam as autoridades que já descrevem estes protestos como os piores das últimas quatro décadas. A tropa de choque da polícia holandesa foi acionada para conter manifestantes em Amsterdã, Rotterdam e Haia e o parlamento analisa a necessidade de pedir ajuda ao Exército – a proposta é apoiada, principalmente, por políticos de centro-direita.Bombeiro extingue chamas de conteiner de lixo incendiado durante protesto contra toque de recolher em Roterdã, na Holanda, na segunda-feira (25)AP Photo/Peter DejongToque de recolherA Holanda impôs um toque de recolher em uma tentativa para conter a disseminação do novo coronavírus. Desde 23 de janeiro, quem for pego fora de casa das 21h às 4h30 pode receber uma multa de 95 euros (cerca de R$ 620). A medida deve durar até 10 de fevereiro.Logo no primeiro dia, manifestantes se reuniram na cidade de Enschede e arremessaram pedras contra um hospital. Em Urk, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, um centro que fazia testes para o diagnóstico da Covid-19 foi incendiado.Mais de 450 pessoas foram detidas – desde sábado – em diferentes protestos pelo país. A maior parte deles, em Amsterdã. No domingo (24), um porta-voz da polícia holandesa disse temer que os distúrbios do fim de semana fossem um "prenúncio para os próximos dias e semanas”.“Não vimos tanta violência assim há 40 anos”, disse Koen Simmers.Bombeiro extingue chamas de conteiner de lixo incendiado durante protesto contra toque de recolher em Roterdã, na Holanda, na segunda-feira (25)AP Photo/Peter DejongExtrema-direita e negacionistasAs autoridades disseram estar monitorando de perto as redes sociais dos manifestantes. Segundo eles, os protestos são organizados em plataformas de mensagens como o Telegram e o Snapchat. Segundo a polícia holandesa, a maior parte dos manifestantes é formada por jovens e adolescentes do país. Eles disseram que, ainda que seja um grupo pouco homogêneo, foi registrada a presença de grupos de extrema-direita, negacionistas e "hippies antivacina".O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, chamou os manifestantes de "hooligans do corona". Ele renunciou na semana passada em meio a escândalos de fraude no sistema de benefícios sociais, mas segue de forma interina até as eleições de marçoManifestantes e policiais entram em confronto durante protesto na praça Septemberplein contra restrições impostas devido à pandemia de coronavírus em Eindhoven, na Holanda, neste domingo (24)Rob Engelaar/ANP via AFPReação políticaNo começo da pandemia, a Holanda optou por uma abordagem menos dura no enfrentamento à Covid-19, resistindo a medidas como máscaras e toques de recolher, e apelando para o bom senso dos cidadãos holandeses – e essa pode ser uma das causas da forte violência nos protestos que não aceitam uma mudança brusca na política de combate ao coronavírus .Rutte disse, na segunda-feira (25), que os distúrbios são atos de "violência criminosa". Ele defendeu que a maioria da população está de acordo com as medidas de confinamento impostas pela pandemia – e isso é o que apontam as pesquisas de opinião.Um levantamento da I&O Research, encomendado pela emissora pública holandesa NOS, apontou que 70% da população do país diz concordar com as medidas rígidas impostas pelo governo, como o toque de recolher. A metade acha que elas poderiam ser ainda mais duras.“O toque de recolher continua necessário", disse Rutte. "É o vírus que está roubando nossa liberdade.”No entanto, partidos de extrema-direita tentam se desvincular dos protestos violentos e acusam os imigrantes de estarem envolvidos com os atos de vandalismo. “É sempre a escória imigrante que vem destruir nosso país", disse Geert Wilders, do Partido para a Liberdade. As autoridades não confirmam essa informação.Reprodução de vídeo mostra manifestantes enfrentando a polícia em protesto contra toque de recolher na Holanda, registro de 26 de janeiro de 2021Mizzle Media/APVÍDEOS mais vistos do G1