Entenda os protestos contra toque de recolher na Holanda

Por Rogerio Magno em 27/01/2021 às 14:47:45
Manifestações violentas tomam as ruas do país que, há três dias, decretou seu 1º toque de recolher desde a Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da Covid-19. Polícia holandesa prende um homem em Rotterdam, em foto de 25 de janeiro de 2021

Marco de Swart/AP

A Holanda vem registrando, já há três dias, violentos protestos após a imposição, no sábado (23), de um toque de recolher para conter o avanço da pandemia do Covid-19 no país. É a primeira vez que uma medida como essa foi tomada na região desde a Segunda Guerra Mundial.

Episódios de violência, com saques, depredações e incêndios criminosos tomaram as principais cidades do país nesta semana e preocupam as autoridades que já descrevem estes protestos como os piores das últimas quatro décadas.

A tropa de choque da polícia holandesa foi acionada para conter manifestantes em Amsterdã, Rotterdam e Haia e o parlamento analisa a necessidade de pedir ajuda ao Exército – a proposta é apoiada, principalmente, por políticos de centro-direita.

Bombeiro extingue chamas de conteiner de lixo incendiado durante protesto contra toque de recolher em Roterdã, na Holanda, na segunda-feira (25)

AP Photo/Peter Dejong

Toque de recolher

A Holanda impôs um toque de recolher em uma tentativa para conter a disseminação do novo coronavírus. Desde 23 de janeiro, quem for pego fora de casa das 21h às 4h30 pode receber uma multa de 95 euros (cerca de R$ 620). A medida deve durar até 10 de fevereiro.

Logo no primeiro dia, manifestantes se reuniram na cidade de Enschede e arremessaram pedras contra um hospital. Em Urk, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, um centro que fazia testes para o diagnóstico da Covid-19 foi incendiado.

Mais de 450 pessoas foram detidas – desde sábado – em diferentes protestos pelo país. A maior parte deles, em Amsterdã. No domingo (24), um porta-voz da polícia holandesa disse temer que os distúrbios do fim de semana fossem um "prenúncio para os próximos dias e semanas”.

“Não vimos tanta violência assim há 40 anos”, disse Koen Simmers.

Bombeiro extingue chamas de conteiner de lixo incendiado durante protesto contra toque de recolher em Roterdã, na Holanda, na segunda-feira (25)

AP Photo/Peter Dejong

Extrema-direita e negacionistas

As autoridades disseram estar monitorando de perto as redes sociais dos manifestantes. Segundo eles, os protestos são organizados em plataformas de mensagens como o Telegram e o Snapchat.

Segundo a polícia holandesa, a maior parte dos manifestantes é formada por jovens e adolescentes do país. Eles disseram que, ainda que seja um grupo pouco homogêneo, foi registrada a presença de grupos de extrema-direita, negacionistas e "hippies antivacina".

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, chamou os manifestantes de "hooligans do corona". Ele renunciou na semana passada em meio a escândalos de fraude no sistema de benefícios sociais, mas segue de forma interina até as eleições de março

Manifestantes e policiais entram em confronto durante protesto na praça Septemberplein contra restrições impostas devido à pandemia de coronavírus em Eindhoven, na Holanda, neste domingo (24)

Rob Engelaar/ANP via AFP

Reação política

No começo da pandemia, a Holanda optou por uma abordagem menos dura no enfrentamento à Covid-19, resistindo a medidas como máscaras e toques de recolher, e apelando para o bom senso dos cidadãos holandeses – e essa pode ser uma das causas da forte violência nos protestos que não aceitam uma mudança brusca na política de combate ao coronavírus .

Rutte disse, na segunda-feira (25), que os distúrbios são atos de "violência criminosa". Ele defendeu que a maioria da população está de acordo com as medidas de confinamento impostas pela pandemia – e isso é o que apontam as pesquisas de opinião.

Um levantamento da I&O Research, encomendado pela emissora pública holandesa NOS, apontou que 70% da população do país diz concordar com as medidas rígidas impostas pelo governo, como o toque de recolher. A metade acha que elas poderiam ser ainda mais duras.

“O toque de recolher continua necessário", disse Rutte. "É o vírus que está roubando nossa liberdade.”

No entanto, partidos de extrema-direita tentam se desvincular dos protestos violentos e acusam os imigrantes de estarem envolvidos com os atos de vandalismo. “É sempre a escória imigrante que vem destruir nosso país", disse Geert Wilders, do Partido para a Liberdade. As autoridades não confirmam essa informação.

Reprodução de vídeo mostra manifestantes enfrentando a polícia em protesto contra toque de recolher na Holanda, registro de 26 de janeiro de 2021

Mizzle Media/AP

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Fonte: G1

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