Conheça o líder indígena que surpreendeu como 'terceira via' no 1º turno no Equador, mas prefere ficar neutro na definição do presidente

Por Rogerio Magno em 10/04/2021 às 08:11:48
Yaku Pérez, representante dos povos indígenas, quase foi ao segundo turno das eleições. Ele afirma representar a terceira via no Equador: um político de esquerda, mas não tradicional, que vem do movimento ambientalista. 'Nosso voto será nulo': diz 3º lugar nas eleições no Equador sobre 2º turno

O Equador vai votar no dia 11 de abril para escolher se o próximo presidente será Guillermo Lasso, conservador que concorre à presidência pela terceira vez, ou Andrés Arauz, candidato que representa uma das maiores forças políticas do país, os apoiadores do ex-presidente Rafael Correa.

Os eleitores que serão decisivos para a vitória, no entanto, são de um terceiro político, que ficou de fora do segundo turno por menos de 33 mil votos: Yaku Perez, do Movimento Plurinacional Pachakutik.

Yaku Pérez durante a campanha à presidência do Equador, em 3 de fevereiro de 2021

Rodrigo Buendia/AFP

De acordo com dados do Conselho Eleitoral, o resultado do primeiro turno foi o seguinte:

Andrés Arauz: 32.72%

Guillermo Lasso: 19.74%

Yaku Pérez:19.38%

População do Equador vai às urnas para renovar Parlamento e escolher presidente

A votação de Perez no primeiro turno foi muito maior do que previam os institutos de pesquisa —estimava-se que ele teria cerca de 13% dos votos, e ele se aproximou dos 20%.

Perez não endossou nenhum dos candidatos que seguiram no páreo: "Nós votamos pela ecologia, pela liberdade, e eles não têm essas qualidades. Nosso voto será nulo", disse ele em entrevista a G1.

A terceira via do Equador

Pérez se apresenta como uma terceira via para o Equador porque se declara de esquerda, mas não se encaixa no "correísmo" (uma referência a Rafael Correa).

Ele afirma que pertence a uma esquerda "comunitária, fruto da conciliação da sabedoria dos povos originários e as epistemologias (estudos sobre conhecimentos) pós-modernas, da defesa da natureza, disposta a combater a mudança climática, ecologista".

Para fazer um contraste com Rafael Correa, ele afirma que não pertence à esquerda "dogmática, stalinista, ortodoxa, extrativista, machista, corrupta, autoritária e prepotente".

A pauta ecológica volta ao seu discurso com frequência: durante a entrevista, ele afirma que tem uma conexão "com a Pachamama" (divindade dos povos dos Andes) e que "a natureza não é um objeto a ser explorado, mas como um sujeito de direitos, um ser vivo" e diz que governos de esquerda da América Latina que permitem a exploração de minérios ou petroleira também são capitalistas, pois foi com a exploração extrativista que se iniciou o capitalismo na região.

Defesa da água

Advogado de formação, ele se tornou um ativista pela preservação, especialmente em questões ligadas à água. "Eu não prego, eu pratico a ecologia", diz ele. Como exemplo, ele lista as ocasiões em que foi preso ou ferido por "defender a água no tempo de Corrêa". Foram quatro prisões, duas agressões e nove pontos no rosto, enumera.

Depois de ficar conhecido pelo seu ativismo, venceu as eleições de 2019 para o cargo equivalente ao de governador de uma província do Equador chamada Azuay.

Ele ia de bicicleta ao trabalho, e essa acabou sendo também uma de suas marcas na campanha presidencial de 2021 —ele pedalava para os eventos de campanha.

Atahualpa e Pizarro

O tema da colonização de seu país também é recorrente no discurso.

Pérez, que afirma ser um indígena, comparou sua situação no fim do primeiro turno com a do último rei inca, Atahualpa, ao dizer que foi traído por um de seus adversários diretos, Guillermo Lasso.

O político chegou a receber de um de seus adversários diretos, Guillermo Lasso, uma promessa de apoio para que houvesse uma recontagem de votos. Lasso, no entanto, voltou atrás e foi disputar o segundo turno.

Para Pérez, foi uma traição, como a que Atahualpa sofreu do colonizador do Peru e do Equador, Francisco Pizarro.

"Atahualpa (o último rei inca) foi traído por [Francisco] Pizarro. Pizarro sequestrou Atahualpa e exigiu ouro para que o soltasse. O ouro foi entregue, mas Pizarro quebrou os acordos e seguiu a conquista. Nós chegamos a um acordo com Lasso que determinava que metade das urnas de Guayaquil e do interior seriam abertas. Foi um acordo com testemunhas e aplausos no final. No dia seguinte, ele violou sua palavra, quebrou seu acordo e agora não quer que se abram as urnas."

Anos de crise

O político afirma que Arauz, o candidato de Correa, deve ganhar, a não ser que haja algo muito improvável. Lasso, diz ele, tem um teto de votação por ter sido ministro de um governo impopular e por ter sido banqueiro.

Por isso que, segundo Pérez, para Arauz, é mais interessante ter Lasso, e não ele, como concorrente no segundo turno.

Ele prevê, no entanto, que seja quem for o vencedor, o país entrará em crise: "Com Lasso haverá privatizações, o FMI, política neoliberal. Se ganha o Arauz, haverá déficit, Correa virá com uma Assembleia Constituinte, vamos estar parecidos com a Venezuela em pouco tempo".

Sua aposta é que o fracasso do próximo presidente fará com que o Equador enfim procure uma outra via —no caso, ele acredita ser ele: "Somos a terceira via. Talvez não seja o momento agora, mas [será], em alguns poucos anos", afirma.

Veja os vídeos mais assistidos do G1

Fonte: G1

Comunicar erro
Rede Ideal 1

Comentários

Telecab