Brasileiro revela detalhes de sua rigorosa quarentena de duas semanas na Coreia do Sul

Por Rogerio Magno em 22/05/2021 às 06:58:40
Rodrigo Policarpo, gerente-geral de uma multinacional coreana, viajou a trabalho ao país em fevereiro, com uma autorização especial. Acompanhado da mulher, que nasceu na Coreia do Sul, ele cumpriu determinações que incluíram vários testes, isolamento total e dois relatos diários sobre temperatura e saúde, entre outros itens. Rodrigo Policarpo em Seul, já depois de cumprir a quarentena de duas semanas

Arquivo Pessoal

Em fevereiro deste ano, Rodrigo Policarpo, gerente-geral de uma multinacional coreana, viajou a trabalho para a Coreia do Sul, que naquele momento não emitia vistos de turismo a brasileiros, mas sim algumas autorizações especiais para que alguns pudessem entrar no país. As condições, porém, incluíam uma rigorosa quarentena de duas semanas, com detalhes que relatou ao G1.

Sem voos diretos entre os dois países, Policarpo, acompanhado da esposa, que é coreana, foi obrigado a fazer uma conexão em Doha, no Catar, antes de chegar ao aeroporto de Incheon, próximo a Seul.

Veja abaixo, em detalhes, cada ponto das exigências:

Teste PCR no país de origem até 72 horas antes do embarque (em inglês)

Preenchimento de formulários de saúde antes do desembarque

Medição de temperatura e instalação de app de autochecagem no aeroporto

Novo teste de PCR e noite de isolamento em hotel até o resultado negativo

Trajeto do aeroporto até ponto da quarentena em transporte especial, sem paradas

Dois relatos diários de temperatura e estado de saúde (através de 5 perguntas no app)

GPS do celular ligado 24 horas, aparelho não pode ficar muito tempo parado

Teste de PCR na véspera do fim da quarentena

Tudo começa antes mesmo do embarque. O casal precisou apresentar testes PCR negativos, em inglês, realizados até 72 horas antes do voo. Chegando à Coreia, antes de deixar o avião, tiveram que preencher formulários relativos ao estado de saúde.

No aeroporto, após as checagens dos documentos, formulários e temperaturas, os viajantes recebiam placas, presas ao redor do pescoço, para identificar sua procedência. “As placas de cor preta estavam sendo entregues para pessoas provenientes dos países onde haviam surgido as variantes mais preocupantes naquele momento: Brasil, Reino Unido e África do Sul”, explica Policarpo.

Já ali eles foram obrigados a instalar o aplicativo de autochecagem que iria servir para acompanhar a quarentena a que seriam submetidos. Em seguida, identificaram uma pessoa no país que seria o responsável por eles durante esse período. Apenas após essas etapas a entrada na Coreia do Sul foi, de fato, liberada.

O fato de a mulher de Rodrigo ser coreana e ter parentes ali foi um grande benefício, já que eles puderam ter um familiar que foi buscá-los – no caso o sogro do brasileiro – para levá-los diretamente, sem paradas, até o local onde passariam a quarentena.

Vista de uma das janelas do apartamento onde o casal passou a quarentena ao chegar na Coreia do Sul

Arquivo Pessoal/Rodrigo Policarpo

Além disso, puderam alugar uma casa para ficar nesses 14 dias, e conseguiram o imóvel de uma conhecida da família por um valor mais acessível.

Se ambos fossem estrangeiros, teriam que pagar pelo transporte e pela hospedagem em um dos hotéis adaptados e designados pelo governo, que chegam a cobrar KRW 2,1 milhões, ou pouco mais de R$ 10 mil, incluindo a alimentação.

Mas, antes, ainda tiveram que passar por um novo teste de PCR, em um centro próximo ao aeroporto. Dali foram encaminhados a um hotel para passarem a noite, já que o resultado só chegaria na manhã seguinte. O casal recebeu uma caixa com alimentos e foi proibido de deixar o quarto. Na manhã seguinte, após receberem uma nova caixa, com o café da manhã, foram liberados, com o resultado negativo, e levados de volta ao aeroporto, onde o sogro de Policarpo pode encontrá-los.

“A quarentena na Coreia é bem rígida e pode implicar em multas pesadas para coreanos e deportação para os estrangeiros que a desrespeitarem”, ressalta o brasileiro, que passou as duas semanas isolado com sua mulher em Dongtan, na cidade de Hwaseong.

“Chegamos ao nosso local de quarentena um pouco antes das 14 horas do dia 3 de fevereiro e teríamos que ficar dentro de casa até o meio-dia do dia 16, desde que o resultado de nosso exame PCR realizado no dia 15 fosse negativo. Durante esse período todo, é expressamente proibido sair de casa", explica.

"Existem funcionários públicos que são responsáveis pelas pessoas em quarentena e eles nos ligaram no caminho para passar algumas instruções e avisar que iríamos receber uma caixa com alguns suprimentos para o período em isolamento. Além disso, deveríamos reportar o nosso estado de saúde duas vezes por dia (um pouco antes das 10 horas e um pouco antes das 16 horas) através de um aplicativo próprio que é utilizado para fazer o autodiagnóstico”, acrescenta.

“São cinco campos obrigatórios que devem ser preenchidos e um campo opcional, para escrever algo específico de até 200 caracteres. Quatro desses campos são perguntas de sim ou não (se você sente febre ou sensação de febre; se tem tosse; dor de garganta; e dificuldades para respirar) e em um quinto campo deve-se colocar a temperatura corporal", diz ainda.

Conteúdo da caixa de suprimentos enviada a Rodrigo e sua mulher pela cidade de Hwaseong, onde passaram a quarentena

Arquivo Pessoal/Rodrigo Policarpo

"Além disso, o telefone deve ficar com o GPS ligado o tempo todo e é possível rastrear se a pessoa saiu do local de quarentena. Ainda, se ficar por muito tempo com o telefone imóvel, uma mensagem é enviada dizendo que o aparelho está parado por muito tempo e que uma mensagem poderá ser enviada ao nosso responsável (acredito que o intuito seja para que as pessoas não deixem os telefones em casa – para não serem rastreadas – e saiam da quarentena)”, detalha.

Rodrigo explica que as caixas de suprimentos são enviadas gratuitamente, por cada cidade, e por isso seus conteúdos podem variar, mas em geral são parecidos.

No seu caso, havia três garrafas de água, 16 pacotes de alga seca, cinco macarrões instantâneos, 12 potes de arroz, cinco pacotes de sopa, três latas de atum apimentado, um termômetro, um álcool em spray para limpeza, um álcool em gel, sacolas de lixo (cada tipo de lixo deve ser colocado em um modelo específico de sacola para identificação), um par de luvas (para ser utilizada no dia que for fazer o PCR ao final da quarentena), máscaras, papel e alguns informativos sobre a pandemia.

A saúde mental dos confinados também é checada, e por volta do décimo dia o casal recebeu um telefonema questionando se eles estavam bem e se precisavam de algum apoio nesse sentido.

Local onde o casal realizou o último teste PCR antes de ser liberado da quarentena

Arquivo Pessoal/Rodrigo Policarpo

Dois dias antes do final do prazo, eles receberam uma mensagem com informações sobre o local e horário do teste PCR, que deveria ser feito na véspera do último dia de quarentena – já que o resultado é revelado apenas no dia seguinte. As pessoas confinadas têm autorização apenas para ir e voltar imediatamente, novamente sem paradas no caminho.

No caso de Policarpo e sua esposa, os resultados foram comunicados às 10 horas do dia 16, mas ainda assim, pelas regras, eles foram obrigados a aguardar duas horas antes de deixar o local da quarentena.

“Para quem já tinha esperado duas semanas, duas horas passaram rápido”, conclui o brasileiro.

Rodrigo passeando em seu primeiro dia de 'liberdade' após o fim da quarentena na Coreia do Sul

Arquivo Pessoal/Rodrigo Policarpo

A Coreia do Sul é considerada um país com combate exemplar ao coronavírus. Com mais de 51 milhões de habitantes, registrava 134.678 casos de Covid-19 e 1.922 mortes pela doença até o dia 21 de maio, segundo a Universidade Johns Hopkins.

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Fonte: G1

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