Crime organizado mantém Brasil em posição ruim no ranking que mede paz no mundo; instabilidade política é preocupação mundial

Por Rogerio Magno em 17/06/2021 às 02:15:44
Relatório de 2021 do Global Peace Index coloca Brasil na 128ª posição entre 163 países, atrás de nações que viveram crises violentas no ano passado como Azerbaijão e Belarus. Tensões internas, como a que gerou a invasão ao Capitólio nos EUA, e a pandemia também preocupam. Rio de Janeiro viveu 24 horas de terror após confrontos entre traficantes no Complexo do São Carlos, em agosto de 2020

Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Confrontos entre traficantes e facções criminosas colocaram o Brasil mais uma vez em patamares preocupantes no ranking que mede a paz no mundo, mostrou a edição de 2021 do relatório Global Peace Index (GPI) divulgado nesta quinta-feira (17).

O levantamento colocou o Brasil na 128ª colocação. No relatório de 2020, o país estava em 126º. Nos critérios dos organizadores do estudo, essa variação está dentro de uma estabilidade.

No entanto, o ranking mantém o Brasil em um patamar considerado de "baixo estado de paz", segundo o relatório, que avalia 163 países no total. O país está atrás de outros que viveram conflito no último ano, como Azerbaijão, ou que passam por impasses políticos graves, como Belarus.

Esse ranking é feito a partir de uma pontuação avaliada com base em indicadores que vão da criminalidade urbana ao grau de estabilidade política. Os pesquisadores também levam em conta a situação econômica de cada país e os mecanismos de combate à corrupção, entre outros fatores. Quanto menor o mundo, maior o grau de paz naquele país.

Veja nos gráficos abaixo os países com as melhores e piores pontuações no estudo:

O brasileiro Paulo Pinto, pesquisador sênior do Instituto de Economia e Paz (IEP) — órgão responsável pelo estudo —, avalia que os fatores que deterioram a paz no Brasil são outros em relação aos pontos de preocupação no resto do mundo.

"Quando você fala em conflitos em andamento no mundo, você fala de guerras ou revoluções. Mas, no Brasil, esse indicador tem outra conotação, que são os conflitos com armas de alta potência entre traficantes e organizações criminosas", aponta.

Isso explica em parte por que os brasileiros são os que mais têm medo da violência em todo o mundo, conforme outro ranking divulgado no ano passado pelo IEP e a organização Lloyd's Register com base em números de 2019. Mais de 82,7% disseram na ocasião estar "muito preocupados" com a violência, o maior percentual em todo o planeta.

Segundo o Monitor da Violência, levantamento feito pelo G1 em todos os estados e o DF com dados de homicídios, o Brasil registrou um aumento de 5% nos assassinatos em 2020 na comparação com o ano anterior. É a primeira alta após dois anos de queda nesse número.

Instabilidade política no mundo preocupa

Policiais bloqueiam e detêm manifestantes da oposição em Minsk, Belarus, em setembro de 2020

Misha Friedman/AP

Globalmente, a situação da paz no mundo se manteve estável, com uma pequena redução de 0,07% na comparação com os números divulgados em 2020. Os autores alertam que este é o nono levantamento, em uma série de 13 anos, em que o índice global de paz não aumenta.

O dado positivo é que a violência causada por terrorismo vem diminuindo nos últimos anos. No entanto, o aumento das tensões políticas, internas e externas, contribuem para aumentar a sensação de violência: seja por crises nas democracias, seja por protestos que terminam em violência.

Por exemplo, os Estados Unidos registraram uma piora no ranking de 163 países e aparecem na 122ª colocação.

Manifestantes pró-Trump adentram o Capitólio em protesto em 6 de janeiro

Saul Loeb/AFP

Os autores do levantamento atribuem isso, em parte, a crises recentes ocorridas no país como a violência nas manifestações e a instabilidade política causada pela recusa do então presidente Donald Trump em reconhecer a derrota eleitoral — o que levou à violenta invasão ao Capitólio em janeiro.

Paulo Pinto, pesquisador do IEP, diz que situações como a ocorrida nos EUA no início deste ano apresentam um risco à paz em todo o mundo. "É uma tendência mundial", alerta o especialista, que cita outros pontos de preocupação:

Chile — os protestos contra a classe política levaram à formação de uma nova Constituinte, mas as manifestações tiveram episódios de violência generalizada e mortes

Índia — revoltas recentes de fazendeiros contra reformas no setor agrícola também terminaram em violência

Belarus — a repressão violenta a manifestantes que pedem a saída de Alexander Lukashenko e a prisão de dissidentes preocupam a Europa

Outros países — manifestações contra as medidas de restrições na pandemia, sobretudo em países europeus, tiveram violência e aumentaram tensões entre alguns grupos e os governos

Qual o impacto da Covid-19?

Policiais detêm participante de protesto contra a reforma que permitirá ao presidente Vladimir Putin concorrer a mais dois mandatos, em Moscou, em julho de 2020

Dimitar Dilkoff/AFP

Os autores do levantamento avaliam que ainda é cedo para detalhar os efeitos da pandemia do coronavírus para a deterioração da paz no mundo. Porém, o estudo aponta que houve, sim, aumento da violência no período.

Novamente, um dos maiores pontos de preocupação do IEP é com a estabilidade política e com as revoltas civis dentro dos países. Veja alguns pontos levantados:

Protestos contra as medidas de isolamento, que mostraram fragilidade na confiança das autoridades de saúde

Uso de leis da pandemia como pretexto para prender dissidentes, como visto na Rússia (com a prisão de manifestantes contra Vladimir Putin) e no Egito (onde médicos que protestaram contra falta de equipamentos de proteção foram detidos acusados de espalhar fake news)

Aumento da violência contra pessoas de origem asiática em países ocidentais, sobretudo no início da pandemia

Preocupação com casos de violência doméstica, potencializada pelo período em que as pessoas tiveram de permanecer em casa

O pesquisador Paulo Pinto, do IEP, avalia o uso abusivo das medidas de restrição contra a pandemia como a consequência mais preocupante. "Pode abrir precedente. Se há uma crise internacional, a autoridade vê carta branca para usar a força contra a população", diz ele.

Fonte: G1

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