Abrigado em Roraima, refugiado venezuelano se casa com antiga companheira e sonha em voltar a atuar como advogado

Por Rogerio Magno em 18/06/2021 às 06:49:58
Israel Alvarez de Armas vive com a esposa em um dos 13 abrigos da Operação Acolhida, em Boa Vista. Ele veio ao Brasil em abril de 2019 em busca de asilo político. O casal venezuelano Israel e Olga no Posto de Triagem, em Boa Vista

Fernanda Baiocco

Estima-se que, atualmente, cerca de 265 mil refugiados e migrantes venezuelanos vivam no Brasil. Desse total, 7.498 estão nos 13 abrigos temporários que fazem parte da Operação Acolhida, em Roraima, e a maior parte deles aguarda para ser interiorizada, ou seja, mudar para outros lugares do Brasil.

Um deles é Israel Alvarez de Armas, de 73 anos, que mora lá acompanhado da esposa, a psicóloga Olga Pinto. Advogado de direitos humanos e autor de 19 livros, ele chegou em abril de 2019 em busca de asilo político.

"Eu era inimigo por ser advogado contra o governo de [Hugo] Chávez e, por isso, solicitei asilo político no Brasil. Há uma repressão na Venezuela, e aquilo não tem nome", diz.

Mais de 50 mil venezuelanos foram interiorizados no Brasil

Pandemia dificulta acolhida de refugiados

Luiza Brunet visita refugiados em Roraima

Israel e Olga estão juntos há 32 anos. Eles tiveram um filho que morreu de câncer. No início do mês, eles, finalmente, se casaram no Brasil. O casal sonha em voltar a trabalhar nas suas áreas de formação. E também buscam um tratamento psiquiátrico contínuo para Olga.

A venezuelana chegou ao Brasil somente em março de 2021, quando o marido já era reconhecido como refugiado. Na chegada em Pacaraima, ela acabou sendo deportada pela Polícia Federal.

"Reportamos o caso diretamente ao Ministério da Justiça, que reconheceu que a deportação foi indevida por se tratar da esposa de um refugiado já reconhecido", explica Israel.

Porém, de acordo com o casal, desde então, ela tem crises de pânico e ansiedade. Eles contam que após um atendimento psiquiátrico, o médico lhes disse que o estado atual de saúde é resultado do impacto emocional dos problemas que Olga enfrentou.

O futuro

Juntos há 32 anos, Israel e Olga se casaram em junho de 2021 no Brasil

Divulgação/ Exército do Brasil

Aflitos por não saberem ainda onde vão morar, Israel e Olga estão devidamente documentados e aguardam uma oportunidade de trabalho.

"Somos todos carentes, porque estamos perdendo tudo. Isso é mais que uma simples ajuda, é um abraço", diz Israel sobre a recepção no Brasil.

O desejo dele é prestar orientação jurídica e cooperar como especialista em imigração. "É minha área, é o que sei fazer." Ele pretende ajudar outros refugiados que se deslocam pelo mundo sem ter acesso ou conhecimento de seus direitos.

No momento, ao lado da esposa, ele deve começar um curso de língua portuguesa oferecido pela organização Refúgio 343. Também está escrevendo sobre a vivência no abrigo em que mora, já que ali tem a oportunidade de se conectar com os outros moradores.

Segundo agências da Organização das Nações Unidas (ONU), já são mais de quatro milhões de venezuelanos que deixaram o país, e o Brasil aparece como o quinto na lista de destino mais procurado na América Latina, atrás da Colômbia, Peru, Chile e Equador.

Neste domingo (20), vai ser celebrado pela 21ª vez o Dia Mundial do Refugiado. O 20 de junho foi estabelecido pela ONU em 2000 como uma data dedicada à conscientização sobre milhares de pessoas que são deslocadas em todo mundo e foram forçadas a fugir de suas casas devido a guerra, conflitos e perseguição.

VÍDEOS: a crise na Venezuela

Fonte: G1

Comunicar erro
Rede Ideal 1

Comentários

Telecab