Como Vladimiro Montesinos, preso por homicídios múltiplos e tráfico, tenta subornar juízes para levar a direita ao poder no Peru

Por Rogerio Magno em 29/06/2021 às 13:28:15
Detido desde 2001, Montesinos fez ligações da prisão para tentar organizar um esquema para subornar a Justiça Eleitoral do Peru. Imagem de Vladimiro Montesinos em 2008, durante um julgamento

Jaime Razueri / AFP

Vladimiro Montesinos, que cumpre uma pena de 25 anos no Peru, foi o chefe dos serviços de inteligência durante os anos de Alberto Fujimori, nos anos 1990, voltou ao noticiário no país nesta semana —mesmo da prisão, ele tentou organizar uma forma de levar Keiko Fujimori, filha de seu antigo chefe, à presidência.

Ao chegar ao poder em 1990, Fujimori colocou Montesinos à frente do serviço de Inteligência, do qual se tornou uma grande influência do governo no combate com as guerrilhas, como o Sendero Luminoso e o MRTA.

Durante os dez anos em que Fujimori esteve na presidência, Montesinos se tornou um dirigente de bastidores —ele comprava políticos, grampeava telefones para ouvir conversas de adversários e, de acordo com a Justiça do Peru, cometeu crimes contra os direitos humanos.

Justiça do Peru anula indulto do ex-presidente Alberto Fujimori

Ele foi condenado por ter torturado e matado um professor e dois estudantes no prédio da agência de inteligência do Peru (os corpos foram queimados no porão do edifício), corrupção, tráfico de drogas e tráfico de armas.

Uma década depois, em setembro de 2000, e com o governo nas cordas, Montesinos caiu em desgraça com a divulgação de vídeos que o mostraram subornando legisladores opositores para que apoiassem Alberto Fujimori. Este último acabava de se reeleger para um terceiro mandato. Foi desencadeada uma crise que levou o presidente a partir para o Japão e a enviar sua renúncia por fax.

O ex-presidente foi extraditado do Chile em 2007 e também condenado a 25 anos de prisão. A filha de Fujimori, Keiko Fujimori, foi candidata à presidência do Peru neste ano, e, na votação, ficou em segundo lutar, atrás de Pedro Castillo (veja mais abaixo).

Montesinos fugiu para a Venezuela, onde foi detido em 24 de junho de 2001 e mandado de volta para o Peru.

Montesinos tenta comprar juízes

Ele cumpre pena em uma prisão de segurança máxima. Ainda assim, conseguiu fazer telefonemas para um ex-aliado, Pedro Rejas, um militar na reserva e um antigo membro do grupo de Fujimori.

Nos telefonemas, os dois conversaram sobre um tema atual no Peru: a tentativa de Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, de chegar à presidência do país.

Da prisão, Montesinos tentou organizar um suborno a magistrados do Júri Nacional de Eleições (JNE) para que proclamassem a direitista Keiko Fujimori como vencedora das eleições de 6 de junho, contra o esquerdista Pedro Castillo, que ficou à frente dela na apuração final dos votos.

Montesinos não sabia, mas suas ligações estavam sendo gravadas. Os áudios foram revelados por Fernando Olivera, um ex-deputado que, no ano 2000, divulgou um vídeo que mostrava Montesino, então braço direito do ex-presidente Fujimori, subornando um parlamentar opositor para que se unisse ao oficialismo em uma tentativa de alcançar a maioria no Congresso.

"Conde de Montesinos"

No primeiro dos 17 telefonemas, Montesinos pede ao comandante aposentado Pedro Rejas que fale com o advogado Guillermo Sendón para que suborne três dos quatro membros do JNE e impeça a proclamação de Castillo.

O candidato esquerdista superou sua adversária por 44 mil votos na contagem final, mas o fujimorismo contestou milhares de votos, e o JNE ainda precisa tomar decisões sobre essas alegações antes de proclamar o vencedor.

"Este negócio custa três paus [três milhões de dólares]. Um pau para cada um" dos magistrados, disse Sendón a Rejas, segundo os áudios.

Em outra ligação, Montesinos diz a Rejas: "É o único jeito, não tem outro porque passou muito tempo, mas você faça-os entender, o papai ou a garota [Alberto ou Keiko], não sei com quem você fala, que estamos tentando ajudar em um objetivo comum".

"O que eu ganho com isso? Nada. Simplesmente estou tentando ajudar porque, se não, se ferram: a garota vai acabar presa", acrescenta Montesinos, de 76 anos, na prisão de segurança máxima da Base Naval de Callao.

Se perder a presidência, Keiko Fujimori deverá ir a julgamento este ano por lavagem de dinheiro em um escândalo de aportes ilegais da gigante brasileira de construção Odebrecht.

Keiko se pronunciou. Ela afirmou que ouviu com "indignação esses áudios de um homem que traiu todos os peruanos".

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Fonte: G1

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