Projeto Cinema em Debate exibe filme sobre povo indĂ­gena potiguar em escolas do RN

Por Rogério Magno em 13/07/2021 às 14:19:31
É necessĂĄrio apenas que as escolas preencham um formulĂĄrio para poderem passar 'A Tradicional FamĂ­lia Brasileira – Katu'. Ideia é levar mais tĂ­tulos ao ambiente educacional. Projeto leva filme sobre os povos indĂ­genas potiguares para o ambiente escolar

Burnno Martins/Divulgação

O projeto Cinema em Debate abriu inscrições para que escolas do Rio Grande do Norte tenham acesso e exibam o filme potiguar "A Tradicional FamĂ­lia Brasileira – Katu". Além de assistir à obra, os alunos das escolas interessadas terão um bate-papo gravado com os realizadores da produção e o protagonista.

O objetivo da iniciativa é provocar uma reflexão sobre a existĂȘncia e a sobrevivĂȘncia dos povos indĂ­genas no Rio Grande do Norte e despertar o interesse pela arte cinematogrĂĄfica produzida no estado.

As instituições de ensino interessadas devem acessar o formulĂĄrio e preencher as informações. Feito isso, o acesso ao conteĂșdo jĂĄ estarĂĄ disponĂ­vel.

O filme "A Tradicional FamĂ­lia Brasileira – KATU" tem roteiro e direção do fotógrafo Rodrigo Sena, e foi finalizado em janeiro de 2019. Ele parte de um ensaio fotogrĂĄfico produzido no ano de 2007 em reconhecimento aos povos originĂĄrios Potiguaras, retratando doze adolescentes pertencentes ao Eleutério do Katu, no RN.

Doze anos depois, o fotógrafo voltou ao Katu em busca desses protagonistas, hoje jĂĄ adultos, para saber sobre suas trajetórias pessoais e suas visões de mundo. O diretor destaca a importância de levar o debate sobre o universo audiovisual e o povo indĂ­gena para o ambiente escolar.

"No processo de desenvolvimento do filme, percebemos uma oportunidade de entendimento dos indĂ­genas diferente do ponto de vista atual da sociedade mas contado pelos próprios Potiguaras do RN. Constatamos também, neste processo, o quanto somos impregnados de forma inconsciente pela percepção ancestral distorcida da identidade indĂ­gena", diz o diretor.

Cinema em Debate

Rodrigo Sena diz também que o Cinema em Debate terĂĄ continuidade com outros tĂ­tulos. "O projeto traz para a sala de aula a possibilidade do debate através do cinema, numa tentativa de dar voz à resistĂȘncia de um povo oprimido que sofreu diversas violĂȘncias e ainda hoje continua resistindo, seja pela ameaça constante do agronegócio como também pelas ações de evangelização na aldeia", pontua.

"Acompanhando o avanço do audiovisual potiguar, o projeto começa com a exibição do filme 'A Tradicional FamĂ­lia Brasileira - Katu', mas continuarĂĄ com outros tĂ­tulos de filmes que trazem possibilidades de valorização e reflexão por meio dos seus diversos conteĂșdos".

O cacique Luiz Katu, da comunidade indĂ­gena de Katu dos Eleotérios, relata a importância para o povo indĂ­gena de ter a sua voz ampliada pelo filme e pelo projeto.

"Participar das gravações desse filme e do projeto Cinema Debate para nós indĂ­genas do RN, em especial para nós indĂ­genas da aldeia Katu, tem sido um motivo de luta reforçado. A gente tem uma construção na luta da quebra da invisibilidade e consegue chegar em vĂĄrios espaços, vĂĄrios lares, chegar em locais de pessoas que nem imaginariam a nossa existĂȘncia, a nossa resistĂȘncia. Resistir para existir", diz.

O cacique relata, ainda, a importância das pessoas conhecerem a realidade e a resistĂȘncia dos povos indĂ­genas da aldeia Katu e do estado do Rio Grande do Norte.

"Nós estamos engajados nessa luta para quebrar a invisibilidade, quebrar os estereótipos, os preconceitos, a forma como as pessoas veem os indĂ­genas, como se eles estivessem estagnados em 1500. E 'A Tradicional FamĂ­lia Brasileira - Katu' mostra uma realidade de um povo que luta para viver, que tem seus afazeres no seu dia a dia, mas que o seu sangue, a sua cultura e as suas memórias permanecem, e isso é realidade no filme", diz.

"E o Cinema Debate traz à tona esse questionamento, essa reflexão, essa provocação para todos aqueles que possam interagir por meio dessa ação que é de suma importância. Refletir, fazer uma releitura do que estĂĄ posto e questionar a historiografia oficial, esse é o grande propósito. Espero que o projeto alcance o seu pĂșblico-alvo que são os professores, alunos e o também o pĂșblico em geral".

O filme

O filme narra um recorte do desdobramento da vida dos jovens do povoado do Eleotério do Katu, localizado entre os municĂ­pios de Canguaretama e Goianinha - que possui a Ășnica escola indĂ­gena do RN. Através deles, a obra aborda histórias coletivas abrangentes, que transpassam suas trajetórias individuais na comunidade indĂ­gena, ressaltando a questão da herança cultural e étnica desses povos.

A tradicional FamĂ­lia Brasil - Katu, filme potiguar RN de Rodrigo Sena

Divulgação/Trailer

A intenção do filme é valorizar as narrativas orais e as memórias dos excluĂ­dos, trazendo maior luz à reconstrução da história marginal dessas comunidades. O que se pretende é compreender como tem sido a reconstrução social e sobrevivĂȘncia dos povos indĂ­genas no RN.

Idealização

Segundo os idealizadores, por muito tempo, a sobrevivĂȘncia de comunidades indĂ­genas em terras potiguares não foi devidamente registrada. Segundo parte da historiografia documental e dados da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), estados como o RN não apresentariam comunidades indĂ­genas nos dias atuais, pois elas teriam sido dizimadas em epidemias e guerras de extermĂ­nio ainda no perĂ­odo colonial.

Além disso, historiadores apontavam o "desaparecimento étnico" dessas populações em virtude da mestiçagem dos Ă­ndios com outros grupos locais, que teriam sido reconfigurados como "caboclos" e "pardos".

Essa ideia prevaleceu em quase todo o século XX e, somente na década de 1990, a presença indĂ­gena voltou a ser consignada no estado, fruto de um reavivamento polĂ­tico em torno do reconhecimento de sua identidade e da posse de suas terras.

Esse movimento ganhou força por volta de 2005, quando pesquisadores integrados a instituições pĂșblicas, museus e universidades passaram a visitar e entrevistar comunidades residentes no interior do estado, que se engajaram em movimentos de autoafirmação dos povos indĂ­genas.

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Fonte: G1.RN

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