O que esperar da presidência do Brasil no Mercosul

Por Rogerio Magno em 15/07/2021 às 08:26:34

Para Clarissa Dri, embora economicamente interesse à Europa, é improvável que o acordo se concretize ainda em 2021.

“A má vontade da União Europeia com o governo brasileiro aumentou, principalmente da Alemanha e da França. Vai pegar mal para os países europeus assinarem um acordo com o governo Bolsonaro que é extremista, fundamentalista”, analisa a professora universitária.

Agenda econômica bolsonarista

O Brasil atravessa um processo de industrialização do campo, com o fomento do agronegócio, enquanto encolhe sua indústria de transformação – aquela responsável por produzir novos materiais com valor agregado. O caso mais evidente foi o fechamento da Ford e outras empresas do setor automotriz, considerado um dos mais dinâmicos da economia brasileira.

As exportações de produtos industrializados no primeiro trimestre de 2021 caíram 46% para 42% em relação a 2020. Por outro lado, houve uma alta de 40% nas exportações da indústria extrativa, de 13% na agricultura e de 14% na agroindústria, segundo dados da CNI.

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“O Brasil quer se incorporar às cadeias globais de valor. Quer fazer parte da festa, mas sem qualquer ambição de ser protagonista. Quer participar dessa cadeia global ainda que seja para fazer um parafuso para alguma empresa chinesa, estadunidense ou europeia. O Brasil quer participar desse jogo por isso quer a flexibilização do bloco e a redução da tarifa externa comum. Para tentar acentuar e sofisticar ainda mais os seus laços de dependência e subdesenvolvimento, em detrimento de um projeto que realmente represente a integração da América do Sul”, analisa Daniel Corrêa.


Na presidência do bloco, o Brasil também coordena reuniões setoriais com ministros dos países membros / Mercosul

Mercado ou bloco comum?

O Mercosul completa 30 anos de história neste ano. A aliança surgiu como uma área de livre comércio e no início dos anos 2000 passou a implementar projetos de integração regional, como escolas bilíngues na fronteira e a Universidade Federal de Integração Latino-americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Além de facilitar a circulação de pessoas dentro dos países da aliança e implementar 50 projetos de infraestrutura multinacionais, com investimento equivalente a US$ 824 bilhões.

Com ascensão de governos de caráter conservador, o bloco passou a fechar as portas para países com governos de esquerda. Em 2019, suspendeu a participação da Venezuela como membro pleno e há anos vem contendo a entrada oficial da Bolívia, que permanece como sócio.

Todos os parlamentos já aprovaram o ingresso do Estado boliviano, faltando apenas o aval do Senado brasileiro.

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“A Venezuela era um segundo país médio que equilibrava com a Argentina a presença do Brasil, e a Bolívia entrando poderia fazer esse papel de economia média. Mas acredito que os senadores não terão interesse num confronto tão grande com o governo Bolsonaro a ponto de aprovar a entrada da Bolívia”, analisa a doutora em ciência política, Clarissa Franzoi Dri.

Para os analistas, o período de presidência rotativa do Brasil deve aprofundar a proposta de que o bloco volte a ser apenas uma zona de livre comércio.

“Qual é a linha da classe dominante? Podemos manter esse espaço cativo no Mercosul, mas convertendo o Mercosul essencialmente num acordo comercial, sem nenhum tipo de projeto que avance no sentido político, social e cultural”, explica Daniel Corrêa da Silva.

“Pensando na autonomia da região, nos interesses da região, serão colocados de maneira muito mais forte se forem colocados de modo coletivo, em relação a uma inserção isolada. Nós nos fortalecemos na parceria com nossos vizinhos e essa visão que muitas vezes é relegada pelos governos de direita”, conclui Clarissa Dri.

Fonte: Brasil de Fato

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