Talibã 'torturou e massacrou' minoria muçulmana em julho, apesar de discurso moderado

Por Rogerio Magno em 20/08/2021 às 17:05:17
Grupo de direitos humanos diz que os recentes assassinatos de homens da minoria Hazara são um 'indicador terrível' do regime Talebã. O povo Hazara vive tradicionalmente em áreas montanhosas do Afeganistão

Getty Images/BBC

O Talibã "massacrou" e torturou brutalmente recentemente vários membros da minoria Hazara no Afeganistão, informou o grupo de direitos humanos Anistia Internacional.

Testemunhas deram relatos pungentes sobre os assassinatos, ocorridos no início de julho na província de Ghazni.

Desde que assumiu o controle de Cabul, capital afegã, no último domingo (15), o Talibã tentou passar uma imagem mais contida.

Mas a Anistia afirma que o incidente é um "indicador terrível" do regime do grupo fundamentalista islâmico.

A comunidade Hazara é o terceiro maior grupo étnico do Afeganistão.

Eles praticam principalmente o islamismo xiita e enfrentam discriminação e perseguição de longa data no país e no Paquistão, predominantemente sunitas.

Baleados na cabeça

No relatório publicado na quinta-feira (19), a Anistia afirma que nove homens hazara foram mortos entre 4 e 6 de julho no distrito de Malistan, na província oriental de Ghazni.

O grupo de direitos humanos entrevistou testemunhas oculares e analisou as evidências fotográficas após os assassinatos.

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Os moradores disseram que fugiram para as montanhas quando os combates se intensificaram entre as forças do governo e os militantes do Talibã.

Quando alguns voltaram ao vilarejo de Mundarakht para pegar alimentos, contaram que o Talibã havia saqueado suas casas e estava esperando por eles. Além disso, alguns homens que passavam por Mundarakht no caminho de volta para suas aldeias também foram emboscados.

No total, seis homens teriam sido baleados, alguns na cabeça, e três torturados até a morte.

De acordo com relatos de testemunhas, um homem foi estrangulado com seu próprio lenço e teve os músculos do braço cortados. O corpo de outro foi destroçado.

Uma testemunha ocular diz que eles perguntaram aos talibãs por que eles infligiam tamanha brutalidade ao seu povo.

"Quando é chegada a hora do conflito, todo mundo morre, não importa se você tem armas ou não. É tempo de guerra", teria respondido um deles.

"A brutalidade a sangue-frio dessas mortes é uma lembrança do histórico do Talibã e um indicador terrível do que o regime Talibã pode trazer", adverte Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia.

"Esses assassinatos seletivos são prova de que as minorias étnicas e religiosas em particular continuam correndo risco sob o domínio do Talibã no Afeganistão."

Ela acrescentou que os serviços de telefonia móvel foram cortados em muitas das áreas que foram tomadas pelo Talibã e, por isso, as informações sobre os assassinatos não haviam vazado até agora.

A Anistia fez um apelo à Organização das Nações Unidas (ONU) para que investigue o caso e proteja as pessoas em risco.

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O Talibã era conhecido por seu regime violento no Afeganistão, que privou mulheres e minorias étnicas de seus direitos, antes de ser expulso por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos em 2001.

Em entrevista coletiva após a retomada de Cabul, o grupo fundamentalista islâmico prometeu que não lançaria ataques de vingança contra ninguém que trabalhasse com as forças americanas e que também concederia direitos às mulheres de acordo com a Sharia, lei islâmica.

Mas um documento da ONU alertou que os militantes do Talibã têm ido de porta em porta em busca de pessoas que trabalharam para as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou para o governo anterior do Afeganistão.

Quem são os Hazara?

Eles têm ascendência mongol e asiática central;

Reza a lenda que eles são descendentes de Genghis Khan e seus soldados, que invadiram o Afeganistão no século 13;

Praticam principalmente o islamismo xiita no Afeganistão e no Paquistão, ambos predominantemente sunitas;

Representam 9% dos 39,9 milhões de habitantes do Afeganistão;

Foram seriamente perseguidos pelo Talibã no passado.

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Fonte: G1

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