Vacinação de adolescentes contra a Covid-19: entenda o que se sabe e o que está em prática no mundo

Por Rogerio Magno em 16/09/2021 às 13:45:22
Pasta determinou que imunização de adolescentes de 12 a 17 anos só deverá ser feita naqueles que tiverem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. Profissional de saúde prepara dose da vacina da Pfizer para aplicar em alunos de uma escola privada de Quito, no Equador, no dia 13 de setembro.

Rodrigo Buendía / AFP

O Ministério da Saúde determinou, em nota técnica publicada nesta quarta-feira (15), que a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos contra a Covid-19 só deverá ser feita naqueles que tiverem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade.

A determinação vai na contramão de uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em junho, que autorizava o uso da vacina da Pfizer para adolescentes a partir dos 12 anos.

Veja, abaixo, o que dizem a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as pesquisas sobre o assunto e quais países têm vacinado adolescentes:

O que diz a OMS?

O que dizem as pesquisas científicas sobre vacinar adolescentes?

A vacinação de pessoas acima de 12 anos já começou em quais países?

Existe uma faixa etária específica abaixo de 18 anos que é mais afetada pela Covid-19?

1) O que diz a OMS?

Na nota que alterou a imunização de adolescentes, o Ministério da Saúde afirmou que "a Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades".

A OMS não recomenda a vacinação, mas também não contraindica. Em uma página atualizada no dia 14 de julho, a organização diz o seguinte:

Crianças e adolescentes tendem a ter doença mais branda em comparação com adultos, portanto, a menos que façam parte de um grupo com maior risco de Covid-19 grave, é menos urgente vaciná-los do que pessoas mais velhas, com condições crônicas de saúde e profissionais de saúde.

Mais evidências são necessárias sobre o uso das diferentes vacinas de Covid-19 em crianças para poder fazer recomendações gerais sobre a vacinação contra a Covid-19.

O Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas da OMS (SAGE, na sigla em inglês) concluiu que a vacina Pfizer/BionTech é adequada para uso em pessoas com 12 anos ou mais.

Crianças com idade entre 12 e 15 anos que estão em alto risco podem receber esta vacina juntamente com outros grupos prioritários para vacinação.

A entidade acrescenta que os ensaios de vacinas para crianças estão em andamento e que atualizará suas recomendações quando as evidências ou a situação epidemiológica justificarem uma mudança na política.

2) O que dizem as pesquisas científicas sobre vacinar adolescentes?

Um dos problemas apontados pelo Ministério da Saúde na vacinação de adolescentes foi a ocorrência, ainda que rara, de miocardite – uma inflamação no músculo do coração – em algumas pessoas depois da imunização.

A pasta também apontou que "os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos".

Veja, abaixo, um pouco do que a ciência já sabe sobre esses dois pontos:

Um estudo divulgado em 26 de agosto por cientistas de Israel apontou que a vacina da Pfizer – única usada no país – aumentava os riscos de desenvolver a miocardite.

Mesmo assim, o número de casos no grupo vacinado continuou pequeno: entre as 884.828 pessoas vacinadas, houve 21 casos da doença – cerca de 91% dos quais ocorreram em homens. Nas outras 884.828 que não foram vacinadas, houve 6. Os cientistas também notaram que o problema aumentou após a segunda dose da vacina.

Mas há algumas ressalvas: os cientistas não separaram a quantidade de casos em adolescentes dos que ocorreram em adultos – e ressaltaram que "nossos resultados indicam que a infecção por Sars-CoV-2 é em si um fator de risco muito forte para miocardite e também aumenta substancialmente o risco de vários outros eventos adversos graves".

Contextualizar dados é necessário, diz cientista

Em um editorial escrito sobre o estudo israelense – intitulado "A importância do contexto na segurança das vacinas da Covid-19" –, a pesquisadora Grace M. Lee, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, ponderou que "as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) podem estar associadas à miocardite, mas também podem prevenir casos de miocardite, lesão renal aguda, arritmia e doença tromboembólica [causadas pela própria Covid]".

"A chave para comparar esses riscos depende do risco de infecção por Sars-CoV-2 para cada pessoa, e esse risco pode variar de acordo com o local e ao longo do tempo. Dado o estado atual da pandemia global, entretanto, o risco de exposição ao Sars-CoV-2 parece ser inevitável", avalia.

A pesquisadora aponta, ainda, que o estudo tem limitações, como "a escassez de dados sobre adolescentes mais novos e crianças, a suposição conservadora de que as vacinas não têm efeito sobre a transmissão" e outros pontos.

Análise americana

Outros dados sobre miocardite após a vacinação foram analisados por pesquisadores do CDC americano em um editorial publicado no fim de junho no "Jama Cardiology".

Um relato de caso analisado pelos cientistas apontava 7 casos da doença em adolescentes após a imunização. Todos eram do sexo masculino, com idades entre 14 e 19 anos, e apresentaram os sintomas 4 dias depois de receberem a vacina.

Ao avaliar o relato, os pesquisadores apontaram que não havia estudos que tornassem possível avaliar a taxa de miocardite pós-vacina na população, mas que o problema era raro – e que os benefícios da vacina eram maiores do que o risco.

"No momento, os benefícios da imunização na prevenção da morbidade grave favorecem a vacinação contínua contra a Covid-19, particularmente considerando as crescentes taxas de hospitalização com Covid-19 entre adolescentes relatadas durante a primavera de 2021", reforçaram.

3) A vacinação de pessoas de 12 anos ou mais já começou ou foi autorizada em quais países?

Ao menos 14: Alemanha, Argentina (apenas nos que têm comorbidades), Bahrein, Canadá, Chile, Cuba, Estados Unidos, Equador, França, Hungria, Israel, Itália, México e Portugal.

A maioria usa a vacina da Pfizer, mas outros, como Cuba, aplicam vacinas diferentes: a Soberana 02, no caso cubano, desenvolvida no próprio país, e a Argentina, que aplica a Moderna, com doses doadas pelos Estados Unidos.

A União Europeia autorizou o uso da vacina em adolescentes de 12 a 15 anos em 28 de maio. (Antes, os de 16 e 17 anos já podiam ser imunizados).

Além dos adolescentes, o Chile previa começar a vacinar crianças de 6 anos com comorbidades nesta semana.

4) Existe uma faixa etária específica abaixo de 18 anos que é mais afetada pela Covid-19?

Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com base nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade Infantil (SIM), do Ministério da Saúde, apontou que, entre as crianças e adolescentes brasileiros mortos pela Covid no ano passado, 45% tinham até 2 anos.

O percentual chama atenção porque, apesar de estar restrito a uma faixa etária bastante limitada (0-2 anos), corresponde a quase metade do número total de mortes causadas pela Covid-19 em pessoas com até 18 anos. A outra metade (55%) corresponde às mortes registradas em crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos.

Ao todo, o levantamento computou 1.207 óbitos ocasionados por Covid-19 em pessoas até 18 anos.

Veja perguntas e respostas sobre a vacina:

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Fonte: G1

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