A pandemia agora se volta contra Netanyahu

Por Rogerio Magno em 27/07/2020 às 10:07:48
Após sucesso na primeira onda, premiê de Israel cai em desgraça, numa mistura explosiva de dois mil novos casos diários, protestos, desemprego e julgamento por corrupção. Do lado de fora da casa do primeiro-ministro de Israel em Jerusalém, manifestantes protestam contra Netanyahu e a resposta do governo dele à crise sanitária

Ronen Zvulun/Reuters

A primeira onda da pandemia do novo coronavírus fez o primeiro-ministro de Israel reconectar-se com os israelenses após um ano atribulado com três eleições indefinidas. O governo de unidade comandado por Benjamin Netanyahu, fruto de coalizão com seu rival Benny Gantz, trancou rapidamente o país em casa e conseguiu reduzir o número de casos e mortes.

Mas veio a segunda onda de infecções, e o premiê caiu novamente em desgraça. Concentrados em frente à residência oficial, em Jerusalém, milhares de israelenses cumprem um ritual diário de protestos contra Netanyahu. A extensa lista de insatisfações vai das falhas na gestão da pandemia à crise econômica, mas está basicamente centralizada nos processos de corrupção que cercam o primeiro-ministro mais longevo de Israel.

"Todo mundo pode ver que o imperador perdeu a roupa", resumia, num dos cartazes do protesto deste sábado, a turbulência política em que Netanyahu está metido.

Milhares de pessoas protestam em Jerusalém contra primeiro-ministro Benjamin Netanyahu

A doença avança em 60 mil infectados com uma média de dois mil novos casos por dia. O desemprego saltou para 22%, e o pacote de bondades do governo é considerado insatisfatório. A coalizão com Gantz ameaça ruir. E o julgamento do premiê começa efetivamente em janeiro, com testemunhas ouvidas três vezes por semana.

Os números corroboram o descontentamento: apenas 29,5% dos israelenses confiam em Netanyahu para gerir a pandemia, em contraponto à popularidade de 57,5% registrada no início de abril, segundo detectou uma pesquisa do Instituto de Democracia de Israel.

O premiê é criticado por ter sido precipitado e voraz na reabertura do país. Quando o número de casos voltou a disparar, não teve pulso para conter o avanço.

Dividido entre facções alinhadas a Netanyahu e Gantz, o suposto governo de unidade dá frequentes sinais de desacordo. O Parlamento bloqueia as medidas determinadas pelo premiê. O vaivém de regras sobre fechamento de piscinas, praias e academias confunde israelenses e alimenta o descontrole da doença.

Raposa política que se mantém há 10 anos consecutivos no poder, Netanyahu reage da forma mais previsível. Descreve os manifestantes como anarquistas e atribui os protestos a uma conspiração promovida pela ação coordenada da polícia, do procurador-geral Avichai Mendelblit e da imprensa. No sábado, acusou o canal 12 como um braço de propaganda bolchevique contra o governo de direita.

Analistas políticos anteveem o esforço do primeiro-ministro para empurrar ladeira abaixo as negociações sobre o Orçamento, que deve ser aprovado até dia 22 de agosto pelo Parlamento.

O fracasso desencadearia novas eleições, que Netanhyahu tem esperança de vencer e impedir Gantz de assumir o governo rotativo em novembro de 2021. Como sempre, o objetivo é ganhar tempo, mas o capital político do premiê se esgota rapidamente.

Fonte: G1

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