Pacto que declarou fim da União Soviética completa 30 anos; entenda as razões do colapso

Por Rogerio Magno em 08/12/2021 às 15:47:26
Há exatas três décadas, acordo para dissolver a URSS era assinado em segredo. Queda do preço do petróleo, reformas mal sucedidas e disputas étnicas foram determinantes para rompimento. Estátuas de Lênin e de brasões soviéticos expostos num parque de esculturas em Moscou, em foto de 8 de dezembro de 2021

AFP/Alexander Nemenov

Em 8 de dezembro de 1991, os então líderes de Rússia, Belarus e Ucrânia assinaram confidencialmente um documento não oficial chamado Pacto de Belaveja, que marcou a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI).

O documento confirmava a dissolução da União Soviética, estabelecendo a estrutura da CEI como modelo político para o antigo bloco.

A entidade ficou aberta à incorporação de outros países além dos três signatários, e, ao longo de dezembro e dos meses seguintes, outras ex-repúblicas soviéticas – Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Geórgia, Quirguistão, Moldávia, Turcomenistão, Tadjiquistão e Uzbequistão – também aderiram ao tratado.

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Foto de 23 de agosto de 1991 mostra o então presidente russo, Boris Yeltsin (direita) e o então presidente soviético, Mikhail Gorbachev

AFP

“Naquela época, nenhum órgão de poder da União Soviética funcionava de maneira normal. O país se encontrava à beira de uma perigosa anarquia”, lembrou Guennádi Burbulis, um dos aliados do primeiro presidente da Federação Russa, Boris Iéltsin.

Em meados da década de 1980, União Soviética parecia um país indestrutível. Mas o sonho acabou em apenas alguns anos.

Por que isso aconteceu? Veja abaixo alguns dos fatores considerados determinantes:

Preços do petróleo e ineficiência econômica

Trabalhadores observam plataforma de perfuração na Rússia, em 2016

Sergei Karpukhin / Reuters

“A verdadeira data do colapso da URSS é bem conhecida. Não é o dia em que foram assinados os acordos de Belaveja, nem o do golpe de agosto [de 1991]. É 13 de setembro de 1985, quando o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, [Ahmed] Yamani, declarou que o país sairia do acordo sobre restrição da produção de petróleo e passou a aumentar sua participação no mercado”, escreveu o idealizador das radicais reformas econômicas ocorridas na Rússia pós-soviética, na década de 1990, Egor Gaidar.

“A Arábia Saudita aumentou a produção de petróleo em 5,5 vezes e, assim, os preços da commodity caíram 6,1 vezes", escreveu.

O ex-ministro das Relações Econômicas Externas, Piotr Aven, apoia esta interpretação dos acontecimentos. “Foi um importante ponto de virada, em 1986, quando os preços do petróleo caíram e todas as possibilidades de gerar receitas desapareceram”, disse Aven.

Ele explica que as receitas do petróleo permitiam comprar grãos (a URSS importava 17% do produto). A queda dos preços do petróleo coincidiu com a desaceleração econômica que, segundo Aven, começou nos anos 1960. Esta tendência de longo prazo, junto com a queda dos preços do petróleo, levaram ao colapso do modelo econômico soviético.

Arquivo JN: fim da União Soviética e o golpe que derrubou Gorbachev

Diversos historiadores, porém, acreditam que, apesar das ineficiências da economia soviética e da escassez notória dos bens de consumo mais básicos, a situação não era tão ruim. O renomado sociólogo soviético-americano, Vladímir Shlapentokh, concorda que a desaceleração econômica afetava a população, mas afirma que ela não era o suficiente para levar ao colapso do país.

“Todas essas deficiências tinham uma natureza bastante crônica e não eram fatais - uma pessoa doente, bem como uma sociedade doente, pode viver por um longo tempo”, diz. Segundo as estatísticas oficiais soviéticas, o PIB diminuiu pela primeira vez apenas em 1990, um ano antes do colapso.

Tensões étnicas

Força de paz da Rússia perto da fronteira com a Armênia após acordo para acabar com o conflito militar entre o Azerbaijão e forças armênias na região de Nagorno Karabakh, onde houve conflito que contribuiu para o fim da URSS no começo da década de 1990.

Francesco Brembati/Reuters

No final dos anos 1980, durante a época da Perestroika, crescia a violência causada pela busca de independência de determinadas repúblicas soviéticas. O primeiro exemplo de violência étnica dessas repúblicas nacionalistas ocorreu no final de 1986 na então capital do Cazaquistão, Almaty, quando os jovens cazaques, frustrados com a nomeação de um russo étnico como chefe da república, iniciaram tumultos.

Além dos conflitos na cidade de Sumgait, no Azerbaijão, e dos eventos violentos em Tbilisi e Baku (na Geórgia e no Azerbaijão, respectivamente), o conflito mais sangrento ocorreu em Karabakh, entre o Azerbaijão e a Armênia - considerado “um dos principais desencadeadores políticos que iniciaram a desintegração da URSS”.

No final dos anos 1980, centenas de pessoas foram vítimas dos conflitos étnicos no território da União Soviética. No entanto, mesmo em 1990, a maioria das repúblicas soviéticas não queria sair da URSS e, segundo o historiador russo Aleksandr Chúbin, “a situação parecia relativamente calma, e apenas os Estados Bálticos e a Geórgia haviam escolhido firmemente o caminho separatista”.

“Apesar de todo o perigo dos movimentos nacional-separatistas para a estrutura do Estado da URSS, eles não tinham potencial suficiente para a destruição da União Soviética", argumenta o historiador.

Reformas de Gorbachev

O fraco desempenho econômico e o nacionalismo crescente eram importantes, mas, segundo os historiadores, os erros dos líderes soviéticos e a Perestroika, que começou no início dos anos 1980, também desempenharam um papel crucial para o futuro da URSS.

Existe uma teoria conspiratória popular na Rússia de que Gorbachev tentou deliberadamente destruir o socialismo e a União Soviética. Os historiadores, porém, não levam isso a sério, já que não há indicações de que o primeiro presidente da URSS quisesse minar seu próprio governo. Pelo contrário, o objetivo da Perestroika era reformar o sistema soviético, que demonstrava sinais de degradação. As primeiras reformas de Gorbachev, chamadas de “aceleração” da economia, deveriam desencadear o potencial do “socialismo modernizado”. No entanto, apesar das boas intenções, as reformas levaram a uma espiral descendente que enfraqueceu o Estado.

"Em busca desesperada de formas de modernizar a economia Gorbatchov iniciou um processo radical de democratização que tornou inevitável a morte do sistema soviético e do império”, disse o sociólogo Shlapentokh.

“Surgiram novos atores, como Borís Iéltsin, que queria criar uma Rússia independente. Isto significou o inevitável desaparecimento da URSS", completa.

Fonte: G1

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