Todas as noites, Gulljan caminha por Cabul carregando livros. Ela os vende apesar da repressão do regime fundamentalista: 'Cada segundo é assustador'. Vovó enfrenta Talibã com livros
Apesar do medo da repressão do regime Talibã, Gulljan sai de casa todas as noites para vender livros nas ruas de Cabul.
"Cada segundo é assustador. Todo segundo", revela enquanto tenta vender alguns dos exemplares que carrega nos braços. "Meu filho, você quer um livro? Você não quer um?"
Ela é uma das poucas mulheres trabalhando fora de casa desde que o Talibã chegou ao poder.
"Primeiro, é uma ajuda para o meu povo", diz Gulljan. "Segundo, nosso país é tão atrasado que é importante fornecer livros. E isso também é uma ajuda financeira para mim."
"Em alguns lugares, eles me chamam para comprar o livro. Em outros, eles me mandam embora", conta a idosa.
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O Talibã já a ameaçou muitas vezes, exigindo que ela vendesse apenas livros islâmicos. Mas Gulljan continua vendendo romances, não-ficção e literatura estrangeira.
"Este livro se chama 'No Caminho da Vida'", apresenta a vendedora. "Nossa vida está arruinada no momento. É mais um livro sobre família. O preço está na capa."
Desde que o Talibã tomou o poder, poucas pessoas compram livros.
"Tenho orgulho de que, apesar de toda a situação, essa mulher ainda venda livros", diz um comprador que não quis se identificar.
"Acredito realmente que o analfabetismo é a razão da situação atual do país, e a falta de uma cultura, de leitura de livros", completa.
Gulljan está determinado a seguir em frente o máximo possível. Ela acredita que os livros têm o poder de mudar o país para melhor.