Entenda por que os EUA acreditam que a Rússia pode atacar a Ucrânia a qualquer momento

Por Rogerio Magno em 19/02/2022 às 12:43:19
Durante discurso de Joe Biden, o presidente disse que Moscou poderia atacar a capital ucraniana nos próximos dias. Presidente americano Joe Biden durante pronunciamento na Casa Branca nesta terça-feira (15)

Kevin Lamarque/Reuters

Com a Rússia realizando uma enorme escalada militar perto da Ucrânia e o Ocidente rejeitando as exigências de segurança de Moscou, uma janela para a diplomacia para a crise no leste europeu parece estar se fechando.

Em um dos acontecimentos mais recentes, o presidente dos EUA, Joe Biden, discursou na Casa Branca nesta sexta-feira (18). Ele apontou que as tropas da Rússia estão em prontidão para atacar a Ucrânia nos próximos dias.

"Temos motivos para acreditar que as forças russas atacarão nos próximos dias, especificamente a capital ucraniana de Kiev ", afirmou.

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Para o presidente americano, Vladimir Putin já decidiu que irá atacar o país vizinho.

"Neste momento, estou convencido de que ele tomou a decisão. Nós temos razões para acreditar nisso. Até que ele o faça, a diplomacia é sempre uma possibilidade", completou Biden.

Entenda o que levou Biden a defender essa ideia, de acordo com a Associated Press:

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A Rússia quer que os EUA e seus aliados impeçam a Ucrânia e outras ex-nações soviéticas de ingressarem na Otan, abstenham-se de posicionar equipamentos militares perto da Rússia e recuem as forças da aliança da Europa Oriental.

Washington e a Otan rejeitam essas demandas, mas estão se oferecendo para discutir possíveis limites para o uso de mísseis, maior transparência dos exercícios militares e outras medidas de construção de confiança.

Putin ainda não deu a resposta formal de Moscou às propostas ocidentais, mas já as descreveu como secundárias e alertou que não aceitaria um "não" como resposta às suas principais demandas. Ele rebateu o argumento ocidental sobre a Otan ter uma política de portas abertas, argumentando que ela ameaça a Rússia e viola o princípio da "indivisibilidade da segurança" consagrado em acordos internacionais.

Em um dos episódios recentes, o governo russo anunciou a retirada de tropas da região de fronteira com a Ucrânia. A notícia foi bem recebida, porém, a Otan realizou investigações e disse que a mobilização não ocorreu.

O serviço de inteligência dos EUA também discordou do anúncio russo. Para os americanos, as tropas a serviço do Kremlin seguem posicionadas e em prontidão para atacar a qualquer momento.

Aposta no poderio militar

Com o Ocidente rejeitando suas principais demandas, o Kremlin aumentou as apostas concentrando mais de 100 mil soldados perto da Ucrânia e realizando uma série de manobras militares do Oceano Ártico ao Mar Negro.

Como parte da demonstração de força, Moscou transferiu trens carregados de tropas, tanques e armas do Extremo Oriente e da Sibéria para Belarus para exercícios militares, despertando preocupações ocidentais de que a Rússia possa usá-los como cobertura para uma invasão.

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Washington e seus aliados ameaçam com sanções sem precedentes no caso de uma invasão, incluindo uma possível proibição de transações em dólares, restrições às principais importações de tecnologia, como microchips, e o fechamento de um gasoduto russo recém-construído para a Alemanha.

O governo do presidente Joe Biden também enviou tropas adicionais dos EUA para a Polônia, Romênia e Alemanha, em uma demonstração do compromisso de Washington de proteger o lado leste da Otan. Os EUA e seus aliados entregaram aviões carregados de armas e munições para a Ucrânia.

Escala calculada

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Ao concentrar tropas que poderiam atacar a Ucrânia de várias direções, Putin demonstrou estar pronto para escalar a crise e atingir seus objetivos.

"Putin parece superconfiante e está exibindo um alto nível de tolerância ao risco", disse Ben Hodges, que serviu como comandante geral do Exército dos EUA na Europa e agora trabalha no Centro de Análise de Políticas Europeias. "Ele parece empenhado em aplicar a máxima pressão sobre o Ocidente nesta crise autofabricada, na esperança de que a Ucrânia ou a Otan acabem fazendo concessões."

Alguns observadores esperam que Putin aumente ainda mais as tensões ao expandir o escopo e a área dos exercícios militares.

Fyodor Lukyanov, chefe do Conselho de Políticas Externas e de Defesa, com sede em Moscou, que segue de perto o pensamento do Kremlin, previu que uma recusa ocidental em discutir as principais demandas da Rússia desencadearia uma nova rodada de escalada.

"Logicamente, a Rússia precisará aumentar o nível de tensões", disse Lukyanov. "Se as metas estabelecidas não estão sendo alcançadas, então você precisa aumentar a pressão - antes de tudo através de uma demonstração de força."

Lukyanov disse que, embora invadir a Ucrânia não seja o que Putin quer, ele pode desafiar o Ocidente por outros meios.

"Toda a ideia como imaginada por Putin não era resolver a crise ucraniana por meio da guerra, mas trazer o Ocidente para a mesa de negociações sobre os princípios dos arranjos de segurança europeus", observou Lukyanov.

"No momento em que a Rússia iniciar uma guerra contra a Ucrânia, todo o jogo anterior terminará e o novo jogo acontecerá em um nível de risco absolutamente diferente. E tudo o que sabemos sobre Putin é que ele não é um jogador, e sim um estrategista."

Possíveis caminhos

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Embora Putin e seus oficiais tenham insistido que esperam que os EUA e a Otan cedam às exigências da Rússia – uma perspectiva que parece quase impossível –, alguns observadores do Kremlin esperam que Moscou acabe aceitando um compromisso que ajude a evitar hostilidades e permita que todos os lados cheguem a um entendimento.

Mesmo que os aliados ocidentais não renunciem à política de portas abertas da Otan, eles não têm intenção de abraçar a Ucrânia ou qualquer outra nação ex-soviética tão cedo.

Gwendolyn Sasse, membro da Carnegie Europe, que dirige o Centro de Estudos Internacionais e do Leste Europeu em Berlim, expressou ceticismo, dizendo que "o pior seria sinalizar que há divisões na Otan", observando que Putin também pode não estar satisfeito com isso.

Outra possibilidade é a "finlandização" da Ucrânia, ou seja, o país adquiriria um status neutro, como a Finlândia fez após a Segunda Guerra Mundial. A política ajudou a manter laços amistosos com a União Soviética durante a Guerra Fria.

Tal movimento representaria uma revisão acentuada do curso da Ucrânia em direção à adesão à Otan e provavelmente alimentaria fortes críticas internas, mas os ucranianos poderiam eventualmente acolher a reviravolta política como um mal menor, em comparação com uma invasão russa.

Outro compromisso potencial incluiria medidas para aliviar as tensões no leste da Ucrânia, que tem sido controlada por separatistas apoiados pela Rússia desde que uma rebelião explodiu lá em 2014, logo após a anexação da península da Crimeia na Ucrânia por Moscou.

A Rússia instou o Ocidente a pressionar a Ucrânia a cumprir suas obrigações sob um acordo de paz de 2015 que foi intermediado pela França e pela Alemanha e exigia que Kiev oferecesse autonomia aos territórios controlados pelos rebeldes. O acordo foi visto pelos ucranianos como uma traição aos interesses nacionais do país e sua implementação está paralisada.

Macron descreveu o acordo como "o único caminho que permite construir a paz e encontrar uma solução política sustentável".

Fonte: G1

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