Clinton lamenta ter convencido Ucrânia de desistir de armas nucleares

Em 1994, quando era presidente dos EUA, ele liderou movimento para que o país, antiga república da União Soviética, abrisse mão de seu arsenal atômico

Por Rogerio Magno em 05/04/2023 às 14:44:09
O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton Chip Somodevilla/Getty Images

O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton Chip Somodevilla/Getty Images

O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, se disse arrependido de ter pedido à Ucrânia que abrisse mão de seu arsenal nuclear, em 1994. A declaração foi dada nesta quarta-feira (5) em entrevista para a RTÉ, emissora pública da Irlanda. Na ocasião ele lamentou seu papel no processo de desnuclearização do país.

Para Clinton, a Rússia não teria invadido a Ucrânia se Kiev ainda tivesse seu poder de dissuasão por meio de um arsenal nuclear.

"Sinto uma participação pessoal porque consegui que eles [a Ucrânia] concordassem em desistir de suas armas nucleares. E nenhum deles acredita que a Rússia teria feito essa façanha (invasão) se a Ucrânia ainda tivesse suas armas", disse ele.

Contexto

O desarmamento nuclear da Ucrânia foi um fato impactante no início dos anos 1990 na Europa e se desenvolveu dentro do contexto de dissolução da antiga União Soviética. O país obteve sua independência, assim como as demais repúblicas soviéticas, mas herdou um fornido arsenal nuclear da ex-superpotência.

O fato incomodou o Ocidente, que festejava a queda da Cortina de Ferro e o encerramento das tensões com a Europa Oriental após o fim da União Soviética. Por isso, os Estados Unidos e os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se mobilizaram para chegar a um bom termo à questão.

Em janeiro de 1994, Clinton assinou um acordo tripartite com os então presidentes da Rússia, Boris Yeltsin, e da Ucrânia, Leonid Kravchuk, para eliminar o arsenal de armas nucleares estratégicas que permaneceu em solo ucraniano após a queda da União Soviética. Os Estados Unidos também fizeram parte de um acordo relacionado no final do mesmo ano, que incluía compromissos russos de respeitar a integridade territorial da Ucrânia.

Clinton assumiu que a Ucrânia estava receosa, à época, em abrir mão de seu escudo nuclear. "Eles achavam que era a única coisa que os protegia de uma Rússia expansionista", disse.

De fato, esses compromissos foram quebrados em 2014, quando a Rússia invadiu e anexou a Crimeia. A escalada de tensões e violência atingiu um ponto insustentável quando começou uma guerra mais ampla contra a Ucrânia no ano passado.

"Eu sabia que o presidente Putin não apoiava o acordo que o presidente Yeltsin fez para nunca interferir nas fronteiras territoriais da Ucrânia – um acordo que ele fez porque queria que a Ucrânia desistisse de suas armas nucleares", avaliou Clinton. "Quando se tornou conveniente para ele, o presidente Putin primeiro tomou a Crimeia. E me sinto péssimo com isso porque a Ucrânia é um país muito importante."

Fonte: CNN BRASIL

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