A onda de violência que assola escolas públicas e privadas em todo o Brasil está assustando também no Rio Grande do Norte. Para auxiliar no combate e prevenção de atos violentos em ambiente escolar, o Governo do Estado deve enviar nesta semana, por meio da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), uma solicitação formal ao Ministério da Justiça e Defesa Social de apoio financeiro para o fortalecimento da segurança nas escolas. A Secretaria de Estado da Educação (Seec) está participando da elaboração desse projeto, que pode render o envio de até R$ 3 milhões em recursos para uso nas ações de prevenção e combate à violência nas escolas.

O valor, oriundo do Ministério da Justiça, não deve ser o único repasse federal nos próximos dias para o fortalecimento da cultura de paz no ambiente escolar no Rio Grande do Norte. De acordo com a secretária estadual de educação, Socorro Batista, o governo estadual aguarda o lançamento de um edital pelo Ministério da Educação, abrindo opções de apoio aos estados, inclusive financeiro, no combate aos crimes em ambiente escolar.

"O Ministério da Educação apresentará nesta semana uma série de proposições, inclusive de apoio financeiro para contratação de psicólogos, para a formação de profissionais, nessa linha – combate e prevenção à violência. É mais emergencial, mas a ideia, que o ministro discutiu conosco, foi a da necessidade de termos uma política pública de promoção da paz nas escolas", explica a secretária Socorro Batista.

No Rio Grande do Norte, a rede estadual de educação dispõe de 22 psicólogos para atendimento aos estudantes. Atualmente, oito deles prestam serviço em Natal, três em Mossoró, e os outros 14 estão divididos para as demais 14 Diretorias Regionais de Educação e Cultura (Direc). A intenção é que cada Direc tenha pelo menos dois psicólogos disponíveis.

A secretária explica como pretende fortalecer a segurança e mudar o ambiente violento que tem sido visto nas escolas brasileiras nos últimos dias. "Nós temos que fazer o que o Rio Grande do Norte já está fazendo, que é estruturar melhor a escolas, dar melhores condições de trabalho aos professores, promover a educação em tempo integral, que é um fator importante, ampliar a rede de apoio através dos psicólogos e uma integração entre as diversas secretarias que compõem o estado, porque o problema da violência vem explodindo dentro da escola, mas não é um problema exclusivo da escola. Nós temos uma sociedade marcada pela intolerância, pelo preconceito, então tudo isso explode dentro da escola, por isso que nós compreendemos que ele não será tratado e resolvido somente pela Escola", explica.

Rede municipal

Na educação natalense, a rede municipal de ensino conta com ações de prevenção promovidas pela segurança, através da guarda municipal, e pela própria Secretaria Municipal de Educação, com apoio psicossocial.

"A Secretaria Municipal de Educação de Natal mantém um trabalho comprometido, desenvolvido pelo Núcleo de Apoio Psicossocial, que funciona no Departamento de Atenção ao Educando (DAE), com ações de natureza formativa e preventiva, por meio de oficinas, seminários e palestras. Nesse Núcleo, há uma psicóloga que atua junto com professores em projetos nas unidades de ensino", diz Naire Jane Capistrano, secretária adjunta de Gestão Pedagógica.

A Ronda Ostensiva de Proteção Escolar (ROPE), da Guarda Municipal de Natal, atua não apenas na forma ostensiva, mas tem promovido ações preventivas que auxiliam na cultura de paz que o Governo do Estado busca para o RN. "Essa parceria com a Guarda Municipal vai bem além de uma ronda literalmente falando. Nós temos visitas constantes nas unidades, conversas e palestras constantes com os estudantes, com os pais, com os professores, ou seja, com a comunidade escolar da Rede, com vistas a prevenir ao máximo situações vexatórias dentro de nossa Rede", explica secretário de Educação em Substituição Legal, Aldo Fernandes de Sousa Neto, que informou também que o município está mantendo um sistema de videomonitoramento em todas as unidades educacionais da rede.

Algumas medidas estranhas ao cotidiano das escolas vêm sendo propostas desde a escalada dos ataques. José Hamilton Rabelo, representando o Sindicato das Escolas Particulares do RN, explica que ações como o uso de detectores de metais e segurança armada, por exemplo, estão sendo estudadas, mas nenhuma decisão ainda foi tomada."Nós estamos estudando essas medidas, mas existe uma limitação, tanto do ponto de vista didático pedagógico, como do ponto de vista legal em algumas atitudes. Então os setores jurídicos das escolas ainda estão estudando a possibilidade de implementação dessas novas medidas, mas com certeza nós iremos evoluir nesse sentido", diz José Hamilton Rabelo.

Secretaria de Segurança monitora ameaças

O secretário de segurança pública do RN, o Coronel da Polícia Militar, Francisco Araújo, orienta os pais e responsáveis a uma prática que pode ajudar no combate a violência na escola.

"É importante que a Polícia esteja patrulhando a escola? É demais! É importante que tenha a Ronda Escolar ou que tenha um detector de metal (nas escolas)? É. Mas é muito importante que antes de o seu filho ou neto passe por um detector de metal da polícia, ele passe por um detector dos pais em casa", diz o Coronel Francisco Araújo, ressaltando a importância da atenção dos pais com o material que seus filhos levam para a escola, como uma medida útil na prevenção de episódios violentos na escola.

Araújo falou ainda sobre a atuação da Segurança Pública diante das ameaças recentes. "Alguns jovens foram apreendidos, junto com eles, material também foi apreendido. A polícia já iniciou os processos de investigação de todo esse tipo de situação que for postado em rede social", explica Araújo, que completa falando sobre um sistema utilizado pela segurança do RN em situações que podem envolver violência nas escolas: "O Ministério da Justiça tem um laboratório cibernético que acompanha todas as redes sociais e qualquer indício, ou qualquer coisa sobre ameaça, em qualquer cidade do Brasil, de imediato todo a rede de inteligência é acionada e tomada as medidas cabíveis".

Projetos e ações

A implantação de detectores de metais nas escolas do Rio Grande do Norte já e discutida na Assembleia Legislativa do RN. A deputada estadual Terezinha Maia (PL), apresentou no último dia 11, um Projeto de Lei que prevê a instalação obrigatória de detectores de metais nas escolas da rede pública estadual e privada no RN.
Já a deputada Cristiane Dantas (SDD), oficiou a Secretaria Estadual de Segurança para solicitar a instalação, em escolas, de câmeras ligadas a estação do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp).

Já o Governo Federal implantou um canal exclusivo para recebimento de informações de ameaças e ataques contra as escolas. O serviço está em funcionamento desde o último dia 6.

Especialista dá dicas de como conversar com crianças

A pesquisadora em educação Gina Vieira aponta o diálogo como importante ferramenta para evitar que crianças e adolescentes sejam ainda mais impactados por mensagens de ódio e desinformação.

De acordo com ela, mesmo diante de temas potencialmente traumatizantes, é importante conversar com os jovens sobre temas sensíveis como a violência nas escolas, especialmente para que eles sintam que os pais estão atentos à segurança de seus filhos.

Dez dicas de especialistas sobre o diálogo entre pais e filhos sobre violência nas escolas

1 – É importante preservar as crianças, mas não esconder, mentir ou fugir de temas como a violência nas escolas

2 – Crianças devem ser informadas que os adultos estão atentos à segurança delas

3 – Fundamental que o adulto mostre-se disponível para conversar

4 – Adultos não devem julgar os sentimentos dos pequenos (nem dos adolescentes)

5 – Observar e se aproximar das crianças para identificar o que estão recebendo via redes sociais

6 – Importante não potencializar um evento

7 – Explicar que o medo faz parte da vida de todo ser humano e que as crianças são protegidas pelos adultos

8 – Pais e profissionais da educação devem estar mais próximos para garantir a serenidade diante do momento

9 – Adultos devem orientar adolescentes contra a satirização ou distorção dos eventos

10 – Crianças devem ser incentivadas a se expressar, mas não forçada.