Justiça acata denúncia contra grupo que lavava dinheiro do "PCC" no RN

Grupo denunciado atuava para dar legitimidade aos recursos provenientes do tráfico de drogas e armas promovido pelo "Primeiro Comando da Capital" (PCC)

Por Rogerio Magno em 28/05/2023 às 17:13:22
Valdeci Alves dos Santos, 50 anos, o Colorido, apontado pelo Ministério Público paulista como sendo o número 2 do facção criminosa PCC/ Foto: Reprodução

Valdeci Alves dos Santos, 50 anos, o Colorido, apontado pelo Ministério Público paulista como sendo o número 2 do facção criminosa PCC/ Foto: Reprodução

A Justiça do Rio Grande do Norte acatou nova denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado (MPRN) contra 10 pessoas no âmbito da "Operação Plata", que investiga a formação de uma associação criminosa para a lavagem de dinheiro. O grupo atuava para dar legitimidade aos recursos provenientes do tráfico de drogas promovido pelo "Primeiro Comando da Capital" (PCC).

Foram denunciados Aline da Silva Alves França, Erica Cristina da Silva, Francisca Neta dos Santos, Geraldo dos Santos Filho, Ingrid Daniely Vale dos Santos, Jean Carlos da Silva Santos, Jefferson Santos da Silva, Matheus Viana Alves dos Santos, Roberto dos Santos e Valdeci Alves dos Santos.

Segundo a juíza responsável pelo caso, Tatiana Socoloski Perazzo Paz de Melo, os acusados foram citados para responder à acusação por escrito no prazo de 10 dias, sendo informados de que poderão arguir preliminares, apresentar documentos e justificativas, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas.

O Ministério Público calcula que ao menos R$ 23 milhões provenientes do tráfico de drogas foram usados pelos denunciados para abrir sete igrejas evangélicas em São Paulo e no Rio Grande do Norte e para comprar imóveis, fazendas e rebanhos bovinos.

Segundo a denúncia, Valdeci dos Santos, conhecido como "Colorido", é considerado a segunda liderança mais importante do tráfico fora do sistema penitenciário, possui uma extensa ficha criminal que remonta a 1993 e se estende até o presente ano. Suas atividades criminosas incluem organização criminosa, tráfico de drogas e armas.

Valdeci chegou a ficar foragido do sistema penitenciário após receber uma saída temporária no Dia dos Pais em 2014 e só foi recapturado em abril de 2022. A acusação também o aponta como um dos principais articuladores de um suposto plano de resgate de Marcos Willian Herbas Camacho, conhecido como "Marcola".

A denúncia tem como base uma busca e apreensão autorizada em 2019 contra Geraldo dos Santos Filho, irmão de Valdeci, seus parentes e associados. As informações obtidas durante essa operação, juntamente com outras descobertas da investigação, revelaram um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro. Esse esquema envolvia a gestão de grandes quantias em dinheiro e a posse de um vasto patrimônio em nome de terceiros.

O Ministério Público esclareceu que essas atividades ilícitas estão sendo apuradas em uma Ação Penal específica, cujos tipos penais correspondem aos da presente denúncia, porém com circunstâncias diferentes.

De acordo com o denunciante, a investigação revelou a utilização de diversas técnicas complexas para ocultar os ativos ilicitamente obtidos por Valdeci e Geraldo. Um exemplo citado é o uso de pessoas interpostas para adquirir imóveis, abrir empresas e contas bancárias, todas em benefício de Valdeci e seus filhos. Essas condutas se repetiram ao longo da década seguinte, conforme apontado na denúncia. As investigações apuraram que apenas um aliado de Valdeci movimentou com familiares R$ 39,6 milhões.

Operação Plata

A operação Plata foi deflagrada em 14 de fevereiro deste ano. Foram cumpridos sete mandados de prisão e outros 43 de busca e apreensão no Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Paraíba e ainda no Distrito Federal. Ao todo, participaram nacionalmente do cumprimento dos mandados 48 promotores de Justiça, 56 servidores e ainda 248 policiais.

No RN, os mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos nas cidades de Natal, Jardim de Piranhas, Parnamirim, Caicó, Assu e Messias Targino. Houve ainda cumprimento de mandados nas cidades paulistas de São Paulo, Araçatuba, Itu, Sorocaba, Tremembé, Votorantim e Araçoiaba da Serra; em Brasília/DF, Fortaleza/CE, Balneário Camboriú/SC, Picuí/PB, Espinosa/MG e em Serra do Ramalho e Urandi, ambas na Bahia.

As investigações que culminaram na deflagração da operação Plata foram iniciadas em 2019, com o objetivo de apurar o tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas, além do crime de lavagem de dinheiro. O esquema era liderado por Valdeci Alves dos Santos. Valdeci é originário da região do Seridó potiguar e é apontado como sendo o segundo maior chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que surgiu nos presídios paulistas e que tem atuação em todo o Brasil e em países vizinhos.

O esquema de lavagem de dinheiro, de acordo com as investigações do MPRN, já perdura por mais de duas décadas. Valdeci foi condenado pela Justiça paulista e atualmente está preso na Penitenciária Federal de Brasília.

No Rio Grande do Norte, Valdeci tem como braço-direito um irmão dele, Geraldo dos Santos Filho, também já condenado pela Justiça por tráfico de drogas. Pastor Júnior, como é conhecido, foi preso em 2019 no Estado de São Paulo fazendo uso de documento falso. Geraldo estava cumprindo a pena em regime semiaberto.
Valdeci Alves dos Santos e Geraldo dos Santos Filho são investigados nessa operação ao lado de pelo menos mais outras 22 pessoas.

A pedido do MPRN, além do bloqueio de contas bancárias, a Justiça determinou o bloqueio de bens e imóveis, a indisponibilidade de veículos e a proibição da venda de rebanhos bovinos. O dinheiro do grupo é proveniente do tráfico de drogas. O lucro do comércio ilegal era lavado com a compra de imóveis, fazendas, automóveis, na abertura de mercados e até com o uso de igrejas. Segundo já apurado pelo MPRN, Geraldo dos Santos Filho e a mulher dele abriram pelo menos sete igrejas evangélicas.

Fonte: Novo Notícias

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