'Surpresa de outubro' arrebata Trump

Contaminação pelo novo coronavírus causa estragos à imagem do presidente americano e impõe julgamento severo por radicalizar país com retórica inconsequente. Presidente Donald Trump fala durante o 1º debate da campanha presidencial na terça-feira (29) em Cleveland

Patrick Semansky/AP

Num ano como 2020, a esperada surpresa de outubro, que movimenta as eleições presidenciais americanas, veio com potencial para alterar o rumo das eleições americanas: o novo coronavírus infectou o presidente, que até receber o diagnóstico positivo vislumbrava falsamente aos americanos o fim próximo da pandemia e caçoava do adversário Joe Biden por usar uma máscara facial enorme.

A doença atinge Trump com a força de julgamento severo de um chefe de Estado que se comportou como negacionista, embora soubesse, desde o início, do efeito devastador do vírus. Um quinto dos mortos no mundo pela Covid-19 era cidadão americano, a pandemia arrastou o país para o desemprego e a recessão econômica, pôs o presidente e cientistas em campos opostos.

Trump previu que o novo coronavírus, rotulado por ele insistentemente como chinês, desapareceria como um milagre, mas foi arrastado com ele. Sua campanha está em suspenso, agravada ainda pelo fato de ser septuagenário e com sobrepeso.

Há dúvidas de que ele tenha contaminado o adversário Joe Biden no debate-pugilato de terça-feira, assim como parte do alto escalão da Casa Branca. De imediato, o diagnóstico positivo do presidente lança incertezas sobre os próximos debates entre os dois candidatos, dias 15 e 22, assim como perspectivas sombrias caso esta quarentena se prolongue até as eleições.

Ainda que os sintomas sejam leves, como informa a Casa Branca, e o presidente continue a trabalhar normalmente, a contaminação já causou estragos à sua imagem. A retórica inconsequente alardeada por ele nos últimos meses radicalizou o país e está longe de arrebatar a empatia de boa parte dos americanos.