Exército da Etiópia realiza ofensiva contra a capital da região de Tigré

Por Rogerio Magno em 28/11/2020 às 13:10:28
De acordo com a agência APF, milhares de pessoas morreram nos combates e pelo menos 43 mil fugiram para o Sudão. O governo de Tigré prometeu "uma resposta proporcional". Crianças em um centro para os refugiados do conflito em Tigré, norte da Etiópia

Ashraf Shazly/AFP

Disparos de armas pesadas atingiram neste sábado (28) Mekele, a capital da região dissidente de Tigré, localizada no norte da Etiópia, onde o exército oficial executa uma operação militar, segundo as autoridades locais entrincheiradas na localidade.

A informação foi confirmada à AFP por duas fontes de serviços humanitários na cidade, que tinha 500.000 habitantes antes do início do conflito.

Três semanas depois do início dos combates, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou na quinta-feira ao exército o início da "última fase" da operação militar que começou em 4 de novembro, quando determinou uma ofensiva contra Mekele, o reduto dos líderes da Frente de Libertação Popular de Tigré (TPLF).

O exército federal "começou a atacar o centro de Mekele, que tem uma grande população e organizações em desenvolvimento, com armas pesadas e artilharia", afirmaram as autoridades de Tigré em um comunicado lido neste sábado pelo canal de televisão local, Tigray TV.

"Ontem, da mesma maneira, muitas áreas de Mekele foram bombardeadas por aviões militares", completa a nota.

O governo local pede à comunidade internacional que "condene os ataques e massacres com artilharia e aviões militares cometidos contra civis e infraestruturas" pelo primeiro-ministro etíope Abiy e pelo presidente da Eritreia, Issaias Afeworki, acusado de ajudar Adis Abeba.

O governo de Tigré prometeu "uma resposta proporcional".

"Manter a ordem"

Ao menos um foguete lançado a partir de Tigré na sexta-feira à noite teve como alvo a capital da Eritreia, Asmara, informaram à AFP quatro diplomatas da região do Chifre da África. Um deles afirmou que o foguete caiu ao sul de Asmara, mas não foi divulgado se provocou vítimas.

A TPLF, que há dez dias atacou Asmara com armas similares, acusa a Eritreia de servir de base para o exército etíope, não reivindicou a responsabilidade pelos disparos.

Etiópia e Eritreia não fizeram comentários.

Na sexta-feira, as autoridades de Tigré usaram a TV e convocaram a população para a luta, alegando que o exército federal estava bombardeando suas "localidades e vilarejos, infligindo grandes danos".

Neste sábado, o exército etíope anunciou na emissora oficial de rádio e televisão Fana BC que controlará Mekele em "alguns dias".

A comunidade internacional, preocupada com a propagação regional do conflito, também advertiu para possíveis "crimes de guerra" na Etiópia e tenta pressionar Abiy a aceitar uma mediação.

Homem celebra prêmio Nobel a Abiy Ahmed, primeiro-ministro da Etiópia, em 13 de outubro de 2019

Tiksa Negeri/Reuters

A União Africana (UA), que tem sede em Adis Abeba, nomeou três enviados especiais com este objetivo, os ex-presidentes Joaquim Chissano (Moçambique), Ellen Johnson-Sirleaf (Libéria) e Kgalema Motlanthe (África do Sul).

Após uma reunião com o trio na sexta-feira, Abiy expressou "gratidão", mas recordou que seu governo tem "a responsabilidade constitucional de manter a ordem (em Tigré) e em todo o país".

"Milhares de mortos"

Embora não exista um balanço preciso sobre o conflito em Tigré, o centro de estudos International Crisis Group (ICG) afirmou na sexta-feira que "milhares de pessoas morreram nos combates".

Mais de 43.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidos para os Refugiados (ACNUR). Um número desconhecido de pessoas também está em deslocamento dentro de Tigré e da Etiópia. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou na sexta-feira que registrou ao menos 2.000 pessoas deslocadas no nordeste do país.

As tensões entre Abiy e a TPLF, que dominou os setores político e de segurança da Etiópia durante quase três décadas décadas, aumentaram desde que o primeiro-ministro chegou ao poder em 2018.

As tensões culminaram em setembro em Tigré em uma eleição regional qualificada de "ilegítima" por Adis Abeba, e depois no ataque no início de novembro contra duas bases do exército federal, atribuído às forças da TPLF, que nega a acusação.

Fonte: G1

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