MPF denuncia ex-governadora Rosalba Ciarlini e ex-presidente da OAS por desvio de R$ 16 milhões

Esquema de corrupção e lavagem de dinheiro Ă© ligado a investigações da Operação Lava Jato

Por Rogério Magno em 09/12/2020 às 19:56:28

O Ministério PĂșblico Federal (MPF) denunciou a ex-governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado (atual prefeita de Mossoró), o marido dela, Rosado, além do ex-presidente da Construtora OAS, José Pinheiro Filho (conhecido como Léo Pinheiro) e de outros sete acusados pelo esquema de corrupção que desviou cerca de R$ 16 milhões da construção da Arena das Dunas para a Copa do Mundo de 2014, em Natal.

O desvio de recursos foi comprovado por meio da "Operação Mão na Bola", deflagrada em dezembro do ano passado pelo MPF e PolĂ­cia Federal. As investigações apontaram, entre 2011 e 2014, o pagamento de propina com valores do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção da arena, por meio de pagamentos a empresas subcontratadas para prestação de serviços fictĂ­cios ou superfaturados, a fim de gerar "caixa dois" com "dinheiro vivo".

O objetivo das propinas foi assegurar o contrato de parceria pĂșblico-privada da Arena das Dunas com os agentes pĂșblicos envolvidos e evitar greves de trabalhadores que pudessem comprometer a execução da obra junto ao sindicato local. Entre os denunciados também estão Demétrio Paulo Torres, então SecretĂĄrio ExtraordinĂĄrio do Estado do Rio Grande do Norte para Assuntos Relativos à Copa do Mundo de 2014; Luciano Ribeiro da Silva (conhecido como Xuxa), na época vice-presidente do Sindicato da Construção Civil Pesada do RN; Charles Maia Galvão, então presidente da Arena das Dunas Concessões e Eventos S/A e do Consórcio Arena Natal, empresas criadas pela OAS para gerenciamento da obra; além dos executivos da empreiteira Adriano de Andrade, Ramilton Machado JĂșnior, José Maria Linhares Neto e Matheus Coutinho Oliveira.

Eles irão responder pelos crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e desvio de finalidade de financiamento, de acordo com as disposições legais aplicĂĄveis e a participação de cada um no esquema. As penas previstas, além de prisão e multa, incluem reparação do dano aos cofres pĂșblicos, perda de função pĂșblica e interdição do exercĂ­cio de função ou cargo pĂșblico pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade. A denĂșncia serĂĄ analisada pela 2ÂȘ Vara da Justiça Federal no RN.

Evolução patrimonial e fracionamento de Rosalba Ciarlini

Informações de Pesquisa e Investigação (Ipei) da Receita Federal demonstraram que a evolução patrimonial dos acusados é incompatĂ­vel com as rendas registradas por eles nos anos de 2011 a 2014. Foram identificadas despesas bem acima dos valores declarados e movimentados em contas bancĂĄrias, reforçando os indĂ­cios de existĂȘncia de fontes não lĂ­citas de rendimentos.

O casal Rosalba e Carlos Rosado teve movimentação financeira superior aos rendimentos declarados e evolução patrimonial a descoberto de 2011 a 2014. Para fugir dos mecanismos de controle do Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf), eles fracionaram operações que somam mais de R$ 500 mil. Foi identificado também pagamento em espécie de dĂ­vidas superiores a R$ 400 mil. Para o MPF, "essas circunstâncias indicam que pelo menos parte das vantagens indevidas pagas e recebidas no caso veio a ser depositada, ao longo do tempo, em suas contas bancĂĄrias pessoais. Isso foi feito de modo estruturado, inclusive de maneira a mesclar valores de origem lĂ­cita e de origem ilĂ­cita (recebimentos de propinas) nas contas em questão, com o propósito de ocultar e dissimular a natureza, origem, disposição e movimentação de valores".

Departamento de propinas e Lava Jato

A denĂșncia aponta o funcionamento da "ĂĄrea de projetos estruturados" da OAS como gerenciadora do complexo esquema de pagamento de propinas: "Nem sempre a propina referente a uma determinada obra vinha diretamente de subcontratações feitas naquela mesma obra, em especial quando havia pressão pelo recebimento das vantagens indevidas por parte dos agentes pĂșblicos beneficiĂĄrios. Por isso, eventualmente, eram acionados mecanismos de geração de "caixa dois" de outras obras da empreiteira. Entre 2012 e 2014, isso ocorreu algumas vezes no esquema da Arena das Dunas, envolvendo o doleiro e testemunha-colaboradora Alberto Youssef". No curso da "Operação Lava Jato", que tratou de esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Petrobras, colheram-se elementos que confirmam o pagamento de propina pela OAS, em valores em espécie, em Natal/RN, entre 2011 e 2012. A obra da Arena das Dunas era a Ășnica de grande porte executada pela empresa no local, nesse perĂ­odo.

Colaboração premiada

Além de provas documentais categóricas obtidas com o cumprimento de mandados e junto à Receita Federal, a denĂșncia do MPF é fundamentada em depoimentos de testemunhas e réus colaboradores, como o próprio Léo Pinheiro e demais executivos da OAS, além do doleiro Alberto Youssef.

Fonte: Portal Agora RN

Comunicar erro
Rede Ideal 1

ComentĂĄrios

Telecab