Como a extrema direita incita os protestos contra o lockdown na Holanda

Por Rogerio Magno em 27/01/2021 às 07:16:32
Sob o argumento distorcido da restrição à liberdade, partidos populistas orquestram distúrbios violentos nas principais cidades do país. Carro foi incendiado diante de uma estação ferroviária durante protesto de centenas de pessoas contra medidas restritivas impostas devido à pandemia em Eindhoven, na Holanda

Rob Engelaar/ANP via AFP

Pela terceira noite consecutiva, protestos contra o toque de recolher noturno nas principais cidades da Holanda terminam em violentos distúrbios, com saques, depredações, carros incendiados e barricadas de bicicletas. Um hospital e um centro de testes para Covid-19 foram atacados pela ação dos "hooligans corona", como foram chamados os manifestantes pelo premiê Mark Rutte.

Partidos de extrema direita se aproveitam para incitar jovens a desafiar o lockdown e o primeiro toque de recolher decretado no país desde a Segunda Guerra Mundial, que vigorará pelo menos até o dia 10 de fevereiro. Bares e restaurantes fecharam em outubro; escolas e o comércio não essencial, em dezembro. Quem sai de casa sem motivo entre 21h e 4h30 paga multa de 95 euros (cerca de R$ 600).

No início do surto, o governo demorou a adotar medidas restritivas para conter a pandemia e deixou as ações a cargo do bom senso dos holandeses. A atitude relaxada não funcionou. O país, que registra 944 mil casos e 13,6 mil mortos pelo novo coronavírus foi também o último da União Europeia a lançar o programa de vacinas.

Ans Lock van de Veen, de 91 anos, Jos Bieleveldt, 91, e Okko Molenkamp, 94 (da esq. p/ dir.), aguardam para receber a vacina contra a Covid-19 em Apeldoorn, na Holanda, em 26 de janeiro de 2021

Peter Dejong/AP

Pesquisa realizada pelo I&O Research aponta o apoio ao toque de recolher por parte de 75% dos entrevistados. Metade opina, inclusive, que deveria ser ampliado. Mas conta com a resistência dos partidos de direita radical, como o Partido pela Liberdade, de Geert Wilders, e o Fórum pela Democracia, liderado por Thierry Baudet.

Ambos dizem rejeitar a violência dos protestos, mas na prática a conversa é outra e baseia-se na oposição ferrenha ao lockdown, que eles definem como restrição à liberdade. No entender de Leo Lucassen, diretor do Instituto Internacional de História Social, os políticos da direita radical abusam da crise do coronavírus para divulgar sua mensagem política e orquestrar o movimento.

"É um padrão para minar as regras democráticas do jogo, a autoridade legal e a liberdade de imprensa. Não se trata apenas de defender os eleitores marginalizados, mas de desacreditar todo o sistema democrático", escreveu o professor em artigo publicado no jornal NRC.

O premiê Mark Rutte renunciou semana passada, na esteira de um escândalo em que milhares de famílias foram injustamente acusadas de fraudar o sistema de benefícios sociais. Ele permanece como interino até as eleições de março e tornou-se mais um alvo de populistas de extrema direita.

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, chega à sede da União Europeia em Bruxelas, na Bélgica, em foto de outubro de 2020

Olivier Matthys/Pool via Reuters

Qualquer semelhança entre os seguidores de Trump que saquearam o Capitólio, no dia 6 de janeiro, e os manifestantes que ateiam fogo nas cidades holandesas supostamente contra o lockdown não é mera coincidência. Todos derivam de movimentos autoritários e líderes populistas que interpretam de forma distorcida, como restrições à liberdade, o uso de máscaras e confinamentos para mitigar os efeitos da pandemia.

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Fonte: G1

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