CRP-RN alerta sobre aumento do abuso sexual infantil durante pandemia

Maioria dos casos (70%) acontece em ambiente familiar; Conselho defende que educação sexual Ă© caminho para evitar o problema

Por Rogério Magno em 03/06/2020 às 10:33:11

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m decorrĂȘncia da pandemia da Covid-19, o isolamento social estabelecido nas cidades brasileiras, pode ser um fator preocupante no que diz respeito ao aumento no número de casos de abuso sexual infantil. De acordo com dados do Disque 100, número para denúncia do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), mais de 70% dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes acontecem no âmbito familiar praticados por pais, padrastos e outros parentes.

Portanto, em isolamento social, as crianças estão mais vulnerĂĄveis aos abusadores, alerta o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN).

De acordo com um relatório da organização não-governamental (ONG) World Vision, nos próximos trĂȘs meses até 85 milhões de crianças e adolescentes, com idades que variam entre 2 e 17 anos, podem se tornar vítimas de violĂȘncia física, emocional e sexual em todo o mundo. No Brasil, os casos devem aumentar até 18%.

"O contexto da Covid-19 faz com que as crianças passem mais tempo em casa, sem as saídas para a escola, com os colegas, ou para outros ambientes. Essa situação de violĂȘncia potencializa o contato com o agressor, deixando as crianças sem escape, e mais expostas a sofrer o abuso e violĂȘncia", alerta a psicóloga conselheira Helena Oliveira.

A profissional alerta que é preciso atenção aos sinais. "A criança pode ter irritabilidade, ficar introspectiva, acuada, medo do contato com alguém que vĂĄ mexer no corpo dela", diz. "Quando submetida à violĂȘncia sexual, a criança pode ficar hipersexualizada, aflorando sua sexualidade em comportamentos pornogrĂĄficos. Por isso, é importante observar se a criança tĂĄ reproduzindo esses comportamentos com outras crianças, ou no brincar e com objetos".

Exploração x abuso

Exploração sexual e abuso são duas formas diferentes de violĂȘncia, mas ambas acabam interferindo no desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes. Na exploração hĂĄ o sexo como serviço, é uma moeda de troca, jĂĄ o abuso se caracteriza sem a troca financeira.

De acordo com a conselheira do CRP-RN, é importante que a sociedade se atente que não existe prostituição infantil. "A criança não se prostitui, ela é explorada sexualmente. Um exemplo de exploração é um contrato estabelecido, onde o pagamento do serviço se dĂĄ em troca do sexo", explica. JĂĄ o abuso ocorre sem a troca financeira, mas o abusador pode utilizar ferramentas de compensação. O abuso é caracterizado não necessariamente pelo ato sexual mas também em carícias, matérias pornogrĂĄficos, colocar criança para assistir determinadas coisas", diz.

Ciclo do segredo

De acordo com a psicóloga Helena Oliveira, a educação sexual é o principal caminho para a prevenção ou para o rompimento do ciclo de violĂȘncia. Ela afirma que a criança pode não conseguir identificar que estĂĄ sofrendo violĂȘncia, principalmente, se ela vem de uma pessoa que expressa afeto ou vem de uma pessoa que deveria passar proteção, passar confiança.

Além da dificuldade de identificar a violĂȘncia, as crianças podem passar por um processo de sigilo, sofrendo ameaças, chantagens, formando o chamado "ciclo do segredo". "Aí que entra a importância da educação sexual, principalmente nas escolas, como uma possibilidade do rompimento desse ciclo e de prevenção", ressalta.

A conselheira afirma que, ao ensinar as crianças qual o tipo de toque que é saudĂĄvel, qual o toque de cuidado e qual o tipo de toque que gera sofrimento, tristeza, vergonha, a criança consegue identificar o processo de violĂȘncia caso aconteça. "Ela não vai se auto proteger, pois ela é vulnerĂĄvel, mas vai saber que não é certo, e que pode pedir ajuda, para que possa ser protegida por alguém que ela confia, pela sociedade, pelo Estado", finaliza.

As denúncias sobre casos de abuso ou exploração sexual podem ser baseadas em suspeitas e devem ser feitas pelo Disque 100, delegacias especializadas, Conselho Tutelares, Ministério Público ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAS).

*Com informações do CRP-RN

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